“Ao longo da vida li toda a literatura do Jorge Amado e agora estou fazendo leituras sobre o Alzheimer para aprender. Este estudo conforta, mesmo sabendo que a doença limita", afirma  Amália Madureira Paschoal
“Ao longo da vida li toda a literatura do Jorge Amado e agora estou fazendo leituras sobre o Alzheimer para aprender. Este estudo conforta, mesmo sabendo que a doença limita", afirma Amália Madureira Paschoal | Foto: Marcos Zanutto - Grupo Folha

Com praticamente toda uma vida dedicada ao ensino ligado ao serviço social, a professora aposentada Amália Madureira Paschoal, 77, ainda procura manter o hábito da leitura, uma de suas grandes paixões. Sempre tem próximo de si um livro, além de fazer questão de deixar organizado um cômodo no apartamento onde vive, na região central de Londrina, para guardar as publicações. E semanalmente confere a edição da revista que gosta. Se aposentou ao 70 anos, quando chegou ao limite da idade permitida para trabalhar na instituição pública em que lecionava.

Há cerca de um ano, Paschoal descobriu que tem Alzheimer. Apesar do susto, não deixou sua rotina de lado. “Na hora foi um baque muito grande, pois, sempre fui saudável e mantinha a mente trabalhando, até por conta do trabalho”, relata. Os primeiro sinais vieram com desmaios, o que fez com que ficasse internada em Curitiba, onde morava sozinha. “Fiquei uma semana hospitalizada, com indisposição, fraqueza, ausência. O médico falou da doença na ocasião e disse que não poderia ficar mais sozinha.”

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Por este motivo, mudou-se para Londrina, onde tem irmãos. Foi no Norte do Estado que veio o diagnóstico fechado para Alzheimer. “Por vários meses fiz acompanhamento de neuropsicologia, confirmando totalmente. Com isso, passei a tomar remédios diários”, conta. “Desde o início, a geriatra que me consulto deixou claro a ideia de que não tem cura. Isto pesa o psicológico, mas, não me vitimizo”, frisa. Recentemente, uma tia por parte da mãe também descobriu a doença.

A professora aposentada está na fase inicial de Alzheimer, com ligeiros esquecimentos de fatos recentes. “Tenho alguns lapsos, como onde deixei um livro ou estou na rua e esqueço para onde estava indo”, relata. Mais velha entre dez irmãos, tem de forma mais ativa a companhia de duas irmãs. Uma delas, Maria Lúcia Paschoal, mora há duas quadras de distância e sempre está presente. “Onde vou a levo junto. Ela mora sozinha, mas raramente está sozinha”, cita Maria.

Com formação em doutorado, Amália Paschoal continua guardando na memória a infância simples, o período em que dava aulas e quando se especializou. Para o futuro, espera o principal: viver. “Ao longo da vida li toda a literatura do Jorge Amado e agora estou fazendo leituras sobre o Alzheimer para aprender. Este estudo conforta, mesmo sabendo que a doença limita. Quero viajar e vou fazer o que puder enquanto conseguir. Porque a morte vem mesmo, com ou sem Alzheimer”, reconhece, dizendo ainda não aceitar a doença, mas consciente sobre ela.

SETEMBRO LILÁS PARA CONSCIENTIZAR

O “Setembro Lilás”, voltado à discussão e conscientização sobre o Alzheimer, é celebrado mundialmente O tema deste ano é “Vamos conversar sobre demência”. Em Londrina, diversas atividades serão promovidas pelo Instituto Não Me Esqueças, com o apoio de outros órgãos. A entidade tem como missão a defesa dos direitos e da qualidade de vida dos doentes de Alzheimer, seus familiares e cuidadores.

“Vamos conversar sobre a demência, pois é fundamental o acesso à informação, conhecer as pessoas que passam pelas mesmas situações, fortalecer vínculos. O poder público tem papel fundamental nisto, entretanto, não vai conseguir fazer tudo sozinho. Por isso, convidamos as pessoas a se solidarizarem com a causa. São atitudes simples que podem ser adotadas e ajudar, como se oferecer para ficar na casa do vizinho por 40 minutos para cuidar da pessoa com Alzheimer enquanto o cuidador vai pagar uma conta”, exemplifica a fundadora do Não Me Esqueças, Elaine Mateus.

A programação do Setembro Lilás inclui, entre outras ações, rodas de conversa com cuidadores, fisioterapeuta e geriatras, palestras, workshop, encontro e grupo de apoio. Na manhã do dia 8, um domingo, está previsto o “MoviMENTE-se pela memória”, no aterro do Lago Igapó, que irá oferecer atividades físicas e cognitivas, música, teste de memória, aferição da pressão. Tudo gratuito. Profissionais renomados também marcarão presença na programação, como a neuropsicóloga Gislaine Gil. “Ainda existem muitos estigmas e preconceitos em relação à doença. A ideia é tirar isso e mostrar que é normal ter Alzheimer na velhice e que, como toda doença, precisa de atenção.”

Imagem ilustrativa da imagem Aos 76 anos, professora descobriu que tem Alzheimer
| Foto: Folha Arte

Sem fins lucrativos, o Não Me Esqueças foi fundado em março de 2017 em Londrina por um grupo de familiares, cuidadores e profissionais da área da saúde. “No instituto trabalhamos bastante com os cuidadores familiares e informais, que são esposa, marido, filho mais próximo. O que fazemos é oferecer subsídio e ajudar a entender o que está acontecendo e a trabalhar com tudo isso, de como lidar com as mudanças, que são diárias. O cuidador deve entender que é próprio da doença”, pontua.

SERVIÇO - Mais informações no site http://naomeesquecas.org.br/