Imagem ilustrativa da imagem Doses de THC são 50 vezes mais baixas do que um cigarro de maconha
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Para que a maconha tenha efeito psicoativo são necessários 30 miligramas de THC (tetrahidrocannabinol). O CBD (canabidiol) não tem efeito psicoativo. Nos estudos conduzidos pelos pesquisadores da Unila, são utilizadas dosagens bem baixas.

“Não há nenhum estudo na literatura mundial envolvendo doses tão baixas de Cannabis com efeito terapêutico. Sempre todo mundo fala em 30 ou 50 miligramas de THC, que é a dose de um cigarro de maconha, e todos os estudos que trabalham com Cannabis partem dessas doses altas. Essa é uma grande vantagem do nosso estudo. A gente trabalha com doses muito baixas. O produto fica muito mais barato e não tem o efeito psicoativo da maconha”, comparou o coordenador do Laboratório de Neurofarmacologia Clínica e professor da área de farmacologia clínica da Unila, Francisney do Nascimento.

A hipótese dos pesquisadores é que doses muito baixas de canabinoides têm efeito terapêutico, mas eles ainda tentam encontrar a dose ideal para reduzir todas as limitações decorrentes do Parkinson e do Alzheimer. “A gente começou a usar doses bastante baixas para pacientes com Parkinson e teve um problema. Houve um efeito melhor no sono, na depressão, mas um efeito razoável na parte motora, nos tremores. Se a gente aumentar essa dose, talvez consiga um efeito melhor na parte motora também", explica.

Segundo Nascimento, nos próximos anos, o objetivo do estudo vai ser encontrar doses distintas para cada paciente, para cada tipo de patologia e para cada estágio da doença. Na próxima fase do estudo, serão avaliados pacientes em um mesmo grau da doença e as doses ministradas do extrato de Cannabis também serão elevadas.

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CÉREBROS PRODUZEM

CANNABINOIDES

Segundo Nascimento, todos os mamíferos produzem em seus cérebros substâncias cannabinoides cuja composição química é praticamente idêntica à da planta que dá origem à maconha. Isso explicaria por que a Cannabis se liga às proteínas do cérebro humano, chamadas receptores cannabinoides, e tem tanto efeito sobre ele.

Os níveis de produção de substâncias cannabinoides pelo cérebro dos mamíferos, no entanto, são muito baixos e diminuem gradativamente a partir dos 40 anos de idade. Pesquisas apontam que o extrato de Cannabis ministrado também em doses baixas funcionaria como repositor dos cannabinoides que o cérebro deixa de produzir com o tempo.

“Essa produção menor de cannabinoides tem relação com deixar nosso cérebro suscetível a algumas doenças, como Parkinson e Alzheimer. A nossa teoria é seguir trabalhando com essas doses baixas, mas temos que encontrar o encaixe perfeito para a gente repor a dose que o nosso cérebro deveria produzir.”

ANVISA REALIZA
CONSULTA

A Diretoria Colegiada da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou, em junho, a realização de duas consultas públicas relacionadas à regulamentação do cultivo controlado de Cannabis sativa para uso medicinal e científico e o registro de medicamentos produzidos com princípios ativos da planta.

Uma das consultas vai tratar dos requisitos técnicos e administrativos para o cultivo da planta por empresas farmacêuticas, única e exclusivamente para fins medicinais e científicos. A outra abordará os procedimentos para o registro e monitoramento de medicamentos produzidos à base de Cannabis, seus derivados e análogos sintéticos.

As consultas serão abertas a contribuições de empresas, universidades, órgãos de governo e de defesa do consumidor, além de profissionais de saúde e da população em geral. De acordo com a Anvisa, o objetivo da iniciativa é abrir espaço para que toda a sociedade opine sobre as normas brasileiras, para que a futura regulação "seja clara, transparente e feita com ampla participação social", diz em nota.

“Foi um dia histórico”, avaliou o professor Francisney do Nascimento. “Foi um passo bem grande para levar o Brasil ao cultivo de Cannabis para a produção de medicamentos. Os médicos brasileiros já podem receitar o THC (tetrahidrocannabinol) e o CBD (canabidiol), os pacientes podem importar, mas é muito caro. Nós também já podemos fazer pesquisa. O que não se pode ainda é cultivar a planta e aí tudo fica inviável.”

A importação de medicamentos à base de canabidiol e outros cannabinoides para uso pessoal é permitida pela Anvisa desde 2015. A regulação vigente define os critérios e os procedimentos para a importação. A compra de produtos à base de canabidiol em associação com outros cannabinoides só é permitida em caráter de excepcionalidade, por pessoa física, para uso próprio, mediante prescrição de profissional legalmente habilitado e deve ser usado para tratamento de saúde.

Em 2017, a Anvisa também concedeu o registro ao medicamento específico Mevatyl, primeiro registrado no País à base de Cannabis sativa.(Com Agência Brasil)