Imagem ilustrativa da imagem Preservação depende de conscientização

Paleontólogo, escritor e professor do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo), Luiz Eduardo Anelli defende a ampla divulgação da recente descoberta no sítio paleontológico em Cruzeiro do Oeste, na Região Metropolitana de Umuarama. O acompanhamento constante dos trabalhos realizados pelos paleontólogos naquela região do Paraná, acredita ele, seria uma forma de conscientizar a sociedade sobre a enorme riqueza natural e importância histórica dos fósseis e, assim, contribuir para a preservação do sítio e continuidade das pesquisas. “Tem que divulgar e conscientizar as pessoas que isso não é para ser depredado, que é um chafariz de educação. Tem que acompanhar as escavações, tirar fotografia, tem que fazer isso ficar importante. E tem que pegar dinheiro e fazer um museu bonito com os esqueletos dos dinossauros”, disse Anelli.

O que será encontrado no sítio de Cruzeiro do Oeste daqui para a frente, afirma o paleontólogo, é uma incógnita, mas há inúmeras possibilidades. “Podem haver tipos pequenos, grandes, voadores, qualquer coisa que já existia no período Cretáceo ou que vivia em deserto.”

Muitos sítios paleontológicos no Brasil surgiram por acaso. Uma pessoa curiosa encontra um osso fixado em uma rocha, relata a descoberta a outras pessoas, que comunicam pesquisadores em universidades. “Muitos fósseis foram descobertos assim no Brasil porque não somos um país árido, mas úmido”, destacou. O grande volume de chuvas e a umidade decorrente, explicou Anelli, destroem as rochas, transformando-as em solo, o que de certa forma dificulta as descobertas dos fósseis.

Mas existe a maneira científica de saber onde podem estar concentrados os fósseis que são os mapas geológicos. Multicoloridos, a cor verde nas cartas indica a presença de rochas do período Cretáceo. Os dinossauros existiram em duas camadas de rochas originadas em um grande ambiente desértico. Entre elas está a terra roxa, solo originado da camada de rocha que se originou durante um grande vulcanismo fissural ocorrido entre 137 e 127 milhões de anos atrás, separando os períodos dos dois grandes desertos.

Nas areias desse enorme deserto, há milhões de pegadas de dinossauros que viveram entre 100 milhões e 90 milhões de anos atrás. “Os dinossauros adoravam o deserto. Eles se adaptavam e suportavam a aridez. Antes já havíamos achado as pegadas. Agora, os ossos. Entre as dunas de areia desse deserto tinha um lugar úmido e os dinossauros viviam ali caçando mamíferos”, contou o paleontólogo.

Dinossauros eram bípedes e foi a mudança no modo de andar, não mais sobre quatro patas, mas sobre duas, que ajudou a se tornarem animais superpoderosos. “Isso favoreceu muito para serem caçadores, corredores e respirarem melhor.”

O Vespersaurus, dinossauro encontrado em Cruzeiro do Oeste, é do tipo Noasauridae, cujos fósseis também já foram encontrados na África. “O Vespersaurus foi o primeiro dinossauro encontrado no estado do Paraná. O grande deserto também cobriu Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguai, Paraguai e Argentina. “As areias desse deserto deram origem ao Aquífero Guarani e à terra roxa. Eles surgiram na época dos dinossauros e infelizmente a gente não celebra essas riquezas”, lamentou. “Nós temos os dinossauros mais antigos no mundo no Rio Grande do Sul. Os primeiros dinossauros nasceram onde hoje fica o Brasil, mas eles não eram grandões.”

No sítio onde foi descoberto o novo dinossauro, já haviam sido identificados também os fósseis do lagarto Gueragama sulamericana e indivíduos do pteurossauro Caiuajara debruskii. Agora, com a ampla divulgação, a tendência é que aumentem as escavações no local. “É um sítio paleológico que não tem no mundo. Foi uma descoberta incrível”, avalia Anelli.

Formado em biologia pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), Anelli se interessou pela paleontologia durante a graduação. O interesse fez com que se especializasse em dinossauros e começasse a escrever sobre os animais pré-históricos. Já são 20 livros publicados. O mais recente, um livro de colorir, chegou às livrarias na última quarta-feira (26). Em 2018, o livro O Brasil dos Dinossauros, escrito por Anelli e ilustrado pelo paleoartista Rodolfo Nogueira, venceu o Prêmio Jabuti na categoria infanto-juvenil e pela primeira vez a pré-história brasileira tomou parte importante no cenário da literatura nacional.