Capela Santa Cruz
Capela Santa Cruz | Foto: Marcos Zanutto - Grupo Folha

Maringá - Loide Caetano, diretora do Museu Unicesumar Histórico de Maringá, conta que a CTNP (Companhia de Terras Norte do Paraná) comprou mais de 400 mil alqueires como investimento imobiliário no Norte do Paraná. Maringá pertenceu primeiro a Londrina, depois Apucarana e, por último, Mandaguari.

Em 1942 foi levantado o primeiro hotel para receber os trabalhadores no Maringá Velho. “Eram seis quarteirões, mas começou a crescer muito rápido e o Arthur Thomas, que era diretor da companhia, proibiu, falou que a cidade não iria ser ali”, relata a diretora.

O hotel não existe mais, pouca coisa ficou daquela época, mas a Capela Santa Cruz, primeiro templo religioso erguido em 1945/1946 no Maringá Velho, se manteve. Tombada como Patrimônio Histórico do Município, passou por restauração finalizada em 1991. Todos os anos, o local recebe os pioneiros para uma missa em homenagem à história da cidade.

A capela traz as características das construções daquela época e preservou a história do Maringá Velho, onde viviam os primeiros trabalhadores que construíram a nova cidade planejada. O projeto do Maringá Novo foi entregue pelo urbanista Jorge Macedo Vieira em 10 de maio de 1947, data em que se comemora o aniversário da cidade. A data da emancipação é de 14 de fevereiro de 1951.

CIDADE CANÇÃO

“Maringá, Maringá. Depois que tu partiste tudo aqui ficou tão triste, que eu garrei a maginá”, a música de Joubert de Carvalho inspirou o nome da cidade. “Os agrimensores responsáveis por medir as terras precisavam identificar os locais pelos quais eles passavam. Como Maringá era uma música que estava no auge, eles batizaram um córrego como Água Maringá, depois foi a gleba, o patrimônio até se tornar a cidade Maringá”, conta a diretora. Com isso, a cidade ganhou o título de Cidade Canção. O nome do músico está por toda parte da cidade.

CATEDRAL SPUTNIK

A primeira catedral da cidade foi construída em 1951, mas foi demolida depois da construção da Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, inaugurada em 1972. Imponente, a arquitetura de José Augusto Belucci se tornou o símbolo da cidade, mas guarda uma história interessante. “O bispo dom Jaime Luiz Coelho chegou aqui muito novo e ele era arrojado, era bem a época da corrida espacial e a União Soviética tinha lançado o Sputnik, que significa peregrino a caminho do céu, e o bispo queria alguma coisa com essa ideia de se lançar para o alto, como um foguete”, conta Caetano. Com essa intenção, ergueu-se o monumento.

MUSEUS

A cidade conta com diferentes museus que preservam sua história, um deles, Museu da Bacia do Paraná, está localizado na UEM (Universidade Estadual de Maringá) e o Museu Unicesumar Histórico de Maringá, inaugurado em 2011, situado no campus da faculdade.

UM DESBRAVADOR

Izaltino Machado, 89, gosta de sentar-se no banco em frente ao edifício que leva seu nome. As marcas da sua história estão por todos os lados, nos prédios que ajudou a construir, no broche da camisa, nos cumprimentos que recebe por quem passa. Orgulhoso, mostra os escritos talhados na madeira do banco onde ele se senta todos os dias: “Izaltino Machado, 1945”.

Izaltino Machado
Izaltino Machado | Foto: Marcos Zanutto - Grupo Folha

“Eu saí de Pouso Alegre-MG com o meu irmão mais velho para trabalhar. Em 1945 nós viemos para Maringá atrás de trabalho. Eu era auxiliar de carpintaria dele”, conta. O ofício permitiu que construísse ponto que hoje é considerado Patrimônio Histórico Municipal, a Capela Santa Cruz. “Todo ano tem missa dos pioneiros lá e eu sempre vou”, conta com orgulho.

A Capela Nossa Senhora da Glória (1945/46) e a primeira casa construída na cidade (1946) passaram pelas mãos de Machado, a última abriga o Museu da Bacia do Paraná, instalado na UEM (Universidade Estadual de Maringá).

O carpinteiro aposentado nem sabe quantos edifícios ajudou a levantar na cidade, mas gosta de relembrar os velhos tempos. “Quando eu cheguei, Maringá era terra e mato, nós que construímos a cidade. Não tinha rua, bem depois o centro foi calçado com paralelepípedo, que eles arrancaram e levaram para o Parque do Ingá”, conta.

Terra vermelha também era novidade para o mineiro, uma relação próxima com a sua bicicleta. Na memória, o barro que grudava na roda e ela passava a noite jogada no mato para que o dono voltasse a buscá-la no dia seguinte. "Naquele tempo ninguém roubava", alfineta. No tempo seco, a bicicleta levantava poeira, mas nunca tanto quando precisou fugir da onça pedalando em alta velocidade. “Arrepiou os cabelos e eu caí fora”, ri.

O pioneiro teve seis filhos maringaenses, é fundador da Associação dos Pioneiros de Maringá, presidente do Patrimônio Histórico do Município e mostra com orgulho o broche na camisa. “Fala que sou desbravador, aqueles que vieram antes dos anos 1960, tem também os pioneiros atuantes, de 1960 para frente”, explica.

Com mais de 20 diplomas em homenagens, livros que apontam seu nome, tem orgulho da história que ajudou a construir. Caminha todos os dias na calçada da avenida onde o prédio com seu nome foi erguido - e onde ele escolheu viver. Na tranquilidade de quem já fez muito, observa, do banco de madeira, a menina crescer, cada dia um pouco mais. Ele com 89, ela com 72, uma história de amor longínqua e perene.