Sim, o título que você acabou de ler pode ser considerado um caça-cliques, os famosos clickbaits que surgem aos montes pela internet. Mas o fato é que a manchete não só é verdadeira como se tornou um dos assuntos mais comentados da internet… em Angola.

A influenciadora digital Londrina Kelly, uma das principais “tiktokers” do país, tornou-se o centro das atenções após um lamentável e condenável vazamento de vídeos íntimos. Segundo sites de Angola, a modelo mostrou-se indignada após especulações de que teria traído o seu parceiro, o rapper Deksz James. Londrina apressou-se em esclarecer que trata-se de um vídeo antigo, de quatro anos atrás.

@londrina_kelly #foryou ♬ original sound - Pascal ✪

A influencer, na verdade, se chama Kellyne Silva, mas adotou Londrina como nome artístico. Com 394 mil seguidores no instagram, ela produz vídeos de humor, comportamento e também dá dicas sobre vida saudável. Em entrevista à revista Chocolate Lifestyle, conta que já praticou vários tipos de esportes, como ginástica rítmica, natação e capoeira. Porém, após sofrer lesões, hoje em dia faz musculação e crossfit.

Os 394 mil seguidores de Londrina Kelly no instagram podem parecer inexpressivos sob a ótica brasileira, onde a ex-BBB Juliette Freire ostenta a impressionante marca de 33 milhões de seguidores. Mas em Angola, país com 32 milhões de habitantes, os filtros são outros. De acordo com dados do primeiro Recenseamento Geral da População e Habitação de Angola, realizado em 2014, apenas um em cada dez angolanos tinha acesso à internet.

Imagem ilustrativa da imagem Londrina tem vídeos íntimos vazados na internet
| Foto: freepik

Dados mais recentes do Inacom (Instituto Angolano das Comunicações), de 2018, revelam que dos 13 milhões de usuários de celulares no país, apenas 4 milhões têm acesso à internet. A precariedade, no entanto, é muito mais elementar do que a inclusão digital. Os dados mostram que 43,7% da população não tem luz elétrica em casa. Apenas 22% são abastecidos pela rede de água e 21% dependem de caminhão-pipa. O restante precisa improvisar em poços e rios contaminados.

icon-aspas De acordo com dados do primeiro Recenseamento Geral da População e Habitação de Angola, realizado em 2014, apenas um em cada dez angolanos tinha acesso à internet.

As estatísticas de saneamento básico ajudam a explicar a taxa de expectativa de vida no país, de 42 anos, uma das menores do mundo. Angola tem uma das maiores produções de petróleo do mundo e grandes jazidas de diamantes, mas a riqueza não chega para todos. Mais de 70% da população obtém a renda de trabalho informal.

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| Foto: freepik

Luanda, a capital do país banhada pela baía de mesmo nome, é um retrato fiel da desigualdade social. A orla da cidade de 2,5 milhões de habitantes, com sofisticado projeto urbanístico, impressiona com suas avenidas largas adornadas por uma fila de palmeiras. Mas do alto da Fortaleza São Miguel, onde a estátua da rainha Jinga tem lugar de destaque, a vista dos imponentes edifícios contrasta com as grandes favelas. Como Sambizanga, conhecido como bairro de lata, por causa do zinco do telhado dos barracos.

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IMIGRAÇÃO

É no exemplo de Jinga, rainha guerreira que liderou 60 mil combatentes contra a ocupação europeia, no século 17, que muitos angolanos se inspiram para superar as dificuldades. A falta de oportunidades, no entanto, faz com que muitos angolanos procurem uma vida melhor fora do país. A particularidade do idioma coloca o Brasil como um dos principais destinos de imigração.

Seja para trabalhar ou estudar, esses grupos estão instalados em diversos Estados e cidades do país. De acordo com o último levantamento Sismigra (Sistema de Registro Nacional Migratório), que reúne dados de imigrantes em parceria com a Polícia Federal brasileira, foram registrados 10.074 angolanos no Brasil em 2021. Desses, 435 estavam no Paraná.

Como cidade universitária, Londrina atrai jovens imigrantes em busca de um diploma do ensino superior. Esse é o caso do teólogo e administrador Israel Miranda, que há sete anos deixou Luanda para estudar no Brasil. “Eu escolhi o Brasil porque na Angola nós acompanhamos muito o Brasil, somos influenciados demais pelo Brasil. Também por causa da fala portuguesa, da televisão e do mundo religioso”, aponta.

Londrina, município formado por imigrantes de vários países, desenvolve projetos para resgatar a origem e cultura desses povos, com os africanos não é diferente. Nas últimas décadas, o meio acadêmico tem se dedicado ao estudo e pesquisas a respeito do continente africano, mantendo a história desse público viva e ampliando o conhecimento dos londrinenses, além de contribuir para o combate ao racismo.

icon-aspas As próprias redes sociais têm possibilitado trocas diretas de hábitos culturais entre os jovens. O kuduro, por exemplo, que é um ritmo musical angolano, muitas vezes é conhecido do movimento hip-hop em Londrina

Na UEL (Universidade Estadual de Londrina), por exemplo, foi criado o NEAA (Núcleo de Estudos Afro-Asiático) em 1985, que posteriormente passou a se chamar NEAB (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros), para promover trocas histórico-culturais entre Brasil e África.

CULTURA

Deixar o país de origem para começar uma vida nova em terras estrangeiras não é uma tarefa fácil. Apesar dos laços históricos, políticos, econômicos, linguísticos e culturais que ligam o Brasil ao continente africano, ambos se desencontram nas visões que um tem a respeito do outro.

Segundo José Francisco dos Santos, docente de História das Áfricas e Afro-Brasileira na UFOB (Universidade Federal do Oeste da Bahia), enquanto os africanos veem o Brasil como um local de ascensão e sonhos, os brasileiros invisibilizam a África, pouco sabendo a respeito da sua cultura.

“Diferente de nós, eles consomem muito nossa cultura, como novelas e músicas. No entanto, no Brasil, nossa visão sobre o continente é fechada, muitas vezes colocando o continente até mesmo como um país”, explica o professor, que expõe o fato da ignorância brasileira estar ligada a uma visão racista e limitada a estereótipos e senso comum. “Muito vem em decorrência de todo um processo ligado ao tráfico negreiro, ao processo de escravização, em que a gente não trabalha – ou pelo menos começou a trabalhar a pouco tempo, a partir da lei 10.679 – com os bancos escolares sobre a visão de um continente tão amplo, com mais de 50 países, com diversas línguas, atributos alimentares, religiosos, com a sua própria cultura, com as suas próprias músicas”.

Residente em Londrina e em Barreiras (BA), Santos diz que não há uma diferença significativa da forma como londrinenses e pessoas de outros lugares do país veem os africanos, mas reconhece que alguns grupos de Londrina, como os movimentos sociais negros e hip-hop, tem contribuído no resgate à cultura africana.

Deksz James

“As próprias redes sociais têm possibilitado trocas diretas de hábitos culturais entre os jovens. O kuduro, por exemplo, que é um ritmo musical angolano, muitas vezes é conhecido do movimento hip-hop em Londrina.

Hold On Angola

Há também troca por meio do grafite. Os movimentos sociais negros de Londrina buscam promover essa troca a partir da procura do conhecimento dessa sua ancestralidade, tendo em vista que o Brasil é o segundo país com maior número de negros, somente perdendo para a Nigéria, portanto, com raízes profundas com o Continente Africano.”

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| Foto: Ricardo Chicarelli

BRASIL E ÁFRICA

A relação cultural afro-brasileira é marcada por músicas, danças, manifestações religiosas, entre outros. O samba, por exemplo, gênero musical muito conhecido no Brasil, nasceu do semba angolano, que é dançado em pares e em ritmo acelerado, acompanhando batidas rápidas. Ainda na música e dança, há o kuduro, que tem sido adotado pela geração mais jovem brasileira nos últimos anos; trata-se de uma dança agitada, caracterizada, sobretudo, pela concentração dos movimentos nas pernas.

@falas_atoa Se gostarem de vídeos assim faço mais.❤️🙏🏿 #angola🇦🇴 #kuduro ♬ Kuduros dos cientes - Falas_atoa
@acasadosfs Só para vocês entenderem o porquê do papá não ter participado no vídeo anterior.😂😂📷: @marlennepaula #acasadosfs #foryou #tiktokangola #viral #dancing #kuduro ♬ Ta Domina - Titica

Dentro do universo gastronômico, a mandioca e a polenta são alimentos muito consumidos em ambos os locais, de diferentes formas. “(na Angola) a gente normalmente come uma polenta mais consistente, com frango ou molho de amendoim, esse frango é o caipira, ou também uma polenta mais consistente, com peixe ou molho e algumas folhas da batata rena, por exemplo, ou folhas da mandioca”, conta Israel Miranda.

icon-aspas A particularidade do idioma coloca o Brasil como um dos principais destinos de imigração

Brasil e África também se encontram na infinidade de religiões que possuem, como o catolicismo, a evangélica, o candomblé e a umbanda. “O brasileiro é um povo um tanto quanto místico e crente no sobrenatural; não estou falando necessariamente de crer em Deus no sentido cristão, me refiro à divindade. E o africano também tem muito disso”, diz Miranda. Apesar desse compartilhamento, religiões vindas do Continente Africano, como o próprio candomblé, são estigmatizadas por parte dos brasileiros que não as conhecem profundamente.

@afroballers THIS GUYS SLIPPED! 😮😮😮 #AfroBallers #Angola #Luanda #Football ♬ original sound - AfroBallers

Além de todos os laços em comum já mencionados, a admiração e receptividade que os africanos têm pelo Brasil podem, também, estar ligadas a uma diferença que há entre os dois grupos, que é o conceito de família que carregam consigo. Enquanto o brasileiro inclui o mínimo de pessoas dentro desse termo, como pais e irmãos e/ou cônjuge e filhos, os africanos fazem o contrário, trazendo o máximo de pessoas para dentro do seu círculo familiar. “Para nós, família é um conceito mais alargado, quando falamos de família, estamos nos referindo pai, primo, tio, sobrinho, até o concunhado e o vizinho mais próximo”, explica o teólogo, que conclui dizendo ser esse o maior orgulho que tem do seu continente.

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Agora, e você sabe tudo sobre a Angola e a África?

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