Notícias provocaram medo e famílias maringaenses lotaram clínicas particulares de vacinação
Notícias provocaram medo e famílias maringaenses lotaram clínicas particulares de vacinação | Foto: Isabela Fleischmann



Maringá - A procura por vacina contra meningite aumentou em todo o Estado. Em Maringá (Noroeste), a busca disparou em clínicas particulares depois da morte de uma adolescente em Campo Mourão (Centro-Oeste), por meningite tipo B. A morte de Arthur Araújo Lula da Silva, 7, neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meningite meningocócica, na sexta-feira (1º) em São Paulo, também chamou atenção para a doença. Um menino de 3 anos de Sarandi (Região Metropolitana de Maringá) foi diagnosticado com a doença e internado no Hospital Universitário de Maringá.

As notícias provocaram medo e famílias maringaenses lotaram clínicas particulares de vacinação na manhã desta segunda-feira (4) à procura de imunização para as crianças, o que está disponível apenas na rede privada. A vacina conjunta para meningites ACWY custa por dose entre R$ 300 e R$ 500, já a dose contra meningite B, vai de R$ 550 a R$ 600, a depender do laboratório.

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Pela proximidade com os casos, a procura no município foi grande. "Fui em alguns locais e já tinha acabado. Meu marido está na fila para tentar pagar a vacina", contou Danielle Cortez, 30. Na entrada da clínica, um papel avisava que as doses para esta segunda tinham acabado. "Temos nova remessa na quinta-feira (7), mediante o pagamento não enfrentará mais fila", prometia a clínica. "A gente peca pelo excesso. A pediatra e um amigo meu médico falaram que não é caso desse desespero porque a meningite sempre existiu. Mas acontece de morrer alguém e aí todo mundo fica desesperado. Preferi dar a vacina agora porque vou viajar no fim de semana", contou. Cortez, que tem duas filhas, iria pagar o preço de cinco doses: R$ 2.700. Isso porque a recomendação é de duas doses para bebês acima de seis meses e três doses para bebês de dois a cinco meses para a meningite tipo B.

Eliane Besagio, 38, também estava na expectativa. Esperou na fila, pagou, e aguardava para vacinar seu filho. Questionada sobre o motivo da vacinação, a mãe foi sucinta: "medo". "Fui em duas clínicas e não consegui, estou desde sábado (2) correndo atrás." Jane Freire, que trabalha no financeiro da clínica, contou que não esperava tanto movimento. Já a gerente do estabelecimento, Juliana Soler, lembrou que o lote recebido no sábado estava no fim nesta manhã. "Liberamos funcionários para o recesso de carnaval e o atendimento ficou apertado."

Em outra clínica, Gabriela Giacomin, 31, aguardava com a família na fila há pelo menos quatro horas. "Pegamos senha", contou. "A vacina é cara, mas ficamos preocupados. Se acontece alguma coisa a gente se culpa." O marido dela, André Lazzari, 33, lembrou que a médica disse, em um primeiro momento, que não havia surto, e seria o caso de dar a vacina só se os pais quisessem. Mas dessa vez o alerta foi para que, quem tivesse condição financeira, aplicasse a vacina. A filha deles tem um ano e sete meses.

Valéria Alcazar, 43, aguardava para vacinar a filha, de 8 anos, desde 7h30.
"Não tem na rede pública e ninguém quer deixar o filho no risco por causa de R$ 600." "Está tudo lotado, fomos em outras duas clínicas e estava insuportável de gente", disse Nayara Simões, 32. "A gente acaba indo na onda do povo que está em pânico, porque a gente não quer pagar para ver."

Uma rede de farmácias em Maringá registrou procura o dia inteiro. Em Londrina, a demanda também aumentou. Em uma clínica da região central, o lote de vacinas para meningite tipo B, que era para 15 dias, acabou em um. Uma nova remessa da vacina estará disponível nesta quarta-feira (6).

A demanda pela vacina da meningite tipo B também foi grande na clínica da Aebel (Associação Evangélica Beneficente de Londrina), conforme a assessoria. A procura foi 100% por vacinas de meningite. A enfermeira responsável pela clínica, Francielle Hitomi Lima, lembrou que a vacina tem um prazo de dez dias para ser efetiva. "A prevenção nunca é demais. O foco é a criança e o adolescente porque ainda não estão imunizados", garantiu. Ela ressaltou que todos os tipos de meningite são graves e podem matar uma criança em até 48 horas. Os principais sintomas da doença são febres, vômito, dor de cabeça, náusea, perda de apetite e irritabilidade. Nos bebês, choro e inchaço da moleira podem ser alguns sintomas, além de manchas na pele.

A DOENÇA

Há 12 tipos de meningite meningocócica, mas os mais prevalentes no Brasil são os tipos A, B, C, W e Y. A rede pública de saúde oferece somente a imunização contra o tipo C (60% das ocorrências de meningite do País são desse sorogrupo). A enfermidade é transmitida pelas vias respiratórias.

A meningite é a inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. A transmissão se dá por secreções, espirros, fala ou tosse. As meningites podem ser virais (60%), bacterianas (30%), ou por fungos e protozoários (10%). As virais costumeiramente evoluem bem para a cura.

O tratamento é feito com corticoides e antibióticos. Dependendo da gravidade, a doença pode levar a sequelas como perda da força dos membros, da audição, estrabismo e outras alterações no desenvolvimento neurológico da criança. Além da vacinação, outros cuidados podem prevenir a meningite, como a higiene, a ventilação dos ambientes e o não compartilhamento de objetos.

NO PARANÁ

Segundo o Ministério da Saúde, em 2018, o País teve 218 óbitos por meningite. Já no Paraná, conforme a Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), dados preliminares de 2018 indicam a ocorrência de 1.601 casos dos mais variados tipos de meningite, com 108 mortes. Neste ano, são 143 casos com 13 mortes no Estado. Do tipo C foram sete, que levaram a três óbitos. De acordo com a pasta, os números estão dentro da média histórica paranaense.

A meningite também pode ser causada por complicações de outras doenças, entre elas o sarampo e a pneumonia. O SUS (Sistema Único de Saúde) disponibiliza outras vacinas que podem ajudar a prevenir a meningite, como a pneumocócica 10-valente, a Pentavalente - que protege contra doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo b - e a BCG, que protege contra as formas graves da tuberculose, que podem evoluir para meningite.

Segundo a ABCVAC (Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas), todas as vacinas contra meningite são recomendadas pelas Sociedades Brasileira de Pediatria e de Imunizações e estão disponíveis em clínicas em todo o País. "Em todo o mundo são indicadas, com eficácia comprovada e no Brasil são aprovadas pela Anvisa, tendo passado, assim, por todos os testes de qualidade e eficiência", ressalta a associação.