Ibiporã - A área de 5,2 mil metros quadrados – com duas grandes piscinas e salão - que ocupa um quarteirão à margem da BR-369, no centro de Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina), já foi o ponto alto da vida social do município. A festa de casamento do filho da comerciante aposentada Anilza Rezende, por exemplo, aconteceu no lugar. “Faz uns 25 anos. Foi uma festa bonita, o espaço era muito bom, salão com estrutura. Esse lugar tinha muitos eventos para a população”, lembrou.

No entanto, faz cerca de 15 anos que o terreno do antigo clube Seri (Sociedade Esportiva e Recreativa de Ibiporã) está abandonado, com a condição se agravando nos últimos três anos, quando passou a ser invadido por pessoas em situação de rua e usuários de drogas. Escondida atrás dos muros, a estrutura também estaria servindo para a prostituição, além do acumular lixo e mato alto. “A noite aqui não dá para passar, desvio o caminho. É muito inseguro, ficam várias pessoas no portão. Dá medo”, relatou a doméstica aposentada Maria Aparecida Bernardes.

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Durante a madrugada o problema seria ainda pior. “É um verdadeiro mocó. Toda hora é um entra e sai, na madrugada ouvimos gritos, palavrões. Nesta semana prenderam uma pessoa aí dentro e que usava tornozeleira eletrônica. É um descaso com a vizinhança o jeito que está, teve até comércio invadido”, desabafou um morador, que preferiu não ser identificado. “Já participei de Carnaval no Seri, mas hoje está largado. Seria bom fazer deste espaço algo para benefício da população, porque hoje está desvalorizando a região”, opinou o autônomo Erinaldo da Silva.

IMPACTO NO COMÉRCIO

O Seri fica a menos de 200 metros da avenida Paraná, principal via comercial da cidade, o que tem gerado incômodo também para os empresários. “A estrutura atualmente não atende nenhuma finalidade e isso tem gerado transtornos. É uma região central, uma área comercial muito forte e não está sendo bom. Temos relatos de moradores em situação de rua que ficam na porta pedindo esmola. Temos cobrado uma solução das autoridades”, destacou o presidente da Aceibi (Associação Comercial e Empresarial de Ibiporã), Artur Abreu Martins Junior.

AÇÃO NA JUSTIÇA

A área que fazia parte da praça Eugênio Sperandio foi repassada pelo município há 60 anos para a Sociedade Esportiva e Recreativa de Ibiporã, que reunia várias lideranças, para o desenvolvimento de atividades associativas voltadas ao esporte, cultura e social. Com o atual estado de desmazelo, a prefeitura fez um decreto em 2021 declarando a área de utilidade pública para a reversão da doação. No mesmo ano o poder público ibiporãense entrou na Justiça para reaver o terreno. O processo foi liberado no início de abril para sentença.

Moradores e comerciantes reclamam de acúmulo de lixo e insegurança
Moradores e comerciantes reclamam de acúmulo de lixo e insegurança | Foto: Pedro Marconi

Na ação, a prefeitura alegou que o local está “totalmente abandonado” e que precisa de um terreno para firmar convênio com o Governo do Estado para a construção do “Centro de Segurança Integrado”, que vai abrigar as sedes da Polícia Civil, Militar e Corpo de Bombeiros, juntamente com a diretoria de Trânsito, Defesa Civil e Conselho Tutelar. “Além disso, o município de Ibiporã não concorda em realizar nenhum pagamento, justamente por entender que a Sociedade Seri não cumpriu com os objetivos da cláusula de gravame”, ressaltou o município, por meio de nota.

COMISSÃO ESPECIAL

O assunto chegou na Câmara de Vereadores, que nesta semana abriu uma Comissão Especial para apurar a situação do antigo clube Seri. “Com esta comissão pode se tentar um acordo, chamar o poder judiciário, Ministério Público, prefeitura para uma negociação, buscar uma audiência pública. Vamos investigar. Tem cláusulas na lei de doação do terreno que determinam a revogação deste repasse se o terreno ficar mais de dez anos sem uso”, alertou o vereador Rafael do Nascimento de Oliveira (MDB), que apresentou o requerimento para criação da comissão, que tem como integrantes os parlamentares Augusto Semprebom (PP), Diego Barbosa da Fonseca (PSD) e Victor Carreri (União Brasil).

A reportagem não conseguiu o contato do diretor presidente da Sociedade Esportiva e Recreativa de Ibiporã, que teria dezenas de sócios. Em documento enviado à presidência da Câmara para tentar barrar o Comissão Especial - o que não foi aceito -, o responsável sustentou que a sociedade constitui "uma associação privada, devidamente constituída, regularizada e atuante" e que é dever do "município assegurar a autonomia das associações quanto à organização e funcionamento."

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