Imagem ilustrativa da imagem A noite em que nasci londrinense
| Foto: Arquivo Pessoal


Boa noite, meus sete leitores!

Hoje é noite de dar graças.

Graças sejam dadas ao nosso anfitrião, vereador Mario Takahashi, presidente desta Casa.

Graças sejam dadas ao prefeito Marcelo Belinati, meu cordial companheiro desde os tempos de república.

Graças sejam dadas ao vereador Filipe Barros, proponente desta honraria e meu querido amigo.

Graças sejam dadas à minha querida tia Magadar Briguet, representante de nossa família. Com ela, vocês puderam ver que os Briguet gostam de colocar o coração nas palavras.

Graças sejam dadas a todos aqui presentes. Para não ser injusto com ninguém, citarei o nome de apenas um amigo: Ranulfo Pedreiro, o meu querido Preto, parceiro de violão e de jornalismo. Graças sejam dadas a ele e a todos vocês.

Meus amigos, eu vim aqui hoje não para fazer um discurso, mas para fazer um pedido. Gostaria de falar a vocês como quem fala a uma pessoa que todos nós amamos. Uma pessoa chamada Londrina.

Sim, eu sempre imaginei Londrina não como um lugar, mas como uma pessoa. Não como um espaço físico, mas como um drama no tempo.

Para ser londrinense, portanto, mais do que nascer na cidade, é necessário ser filho da cidade.

Deus quis que eu antes fosse filho das duas pessoas que eu mais desejaria encontrar aqui hoje: Paulo Lourenço e Aracy Costa Briguet Lourenço. Quando aquele menino nasceu em São Paulo, no Hospital São Camilo, em 10 de julho de 1970, Deus sabia o que estava fazendo. Naquele mesmo dia, meu pai foi sorteado no consórcio e veio buscar o filho na maternidade dirigindo um Fusquinha modelo 69. Esse Fusquinha tinha uma cor parecida com a do latossolo vermelho, formado pelo derrame de lavas vulcânicas na infância do planeta Terra, no período Cretáceo. Ninguém sabia, mas, 137 milhões de anos atrás, quando se formou a terra vermelha, Londrina já me chamava.

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Minha querida irmã Maria Fernanda, desculpe lhe entregar idade, mas você nasceu cinco anos depois, no dia 17 de julho de 1975, exatamente quando Londrina teve a grande geada, que marcou o fim da era do café. No meio daquele frio e daquele drama histórico, Londrina me chamava. Assim como me chamava em 21 de agosto de 1929, exatamente 88 anos atrás, quando aqui chegou a primeira caravana de pioneiros, liderada por um jovemchamado George Craig Smith. Eu só chegaria a Londrina 60 anos depois, mas ela já estava me chamando desde que nasceu.

O chamado de Londrina estava no plantio dos primeiros cafeeiros, que tornariam Londrina a capital mundial do café. O chamado de Londrina estava quando os pioneiros construíram com madeira de peroba a primeira igreja matriz, hoje reproduzida no campus da UEL. O chamado de Londrina estava nas 33 nacionalidades que se encontravam aqui já em 1938. O chamado de Londrina estava nos pés de Carlos Alberto Garcia e no futebolque maravilhou o Brasil em 1977. O chamado de Londrina estava em 1959, quando o prefeito Antônio Fernandes Sobrinho criou o Lago Igapó, que eu gosto de chamar com o nome da minha avó Maria. Porque se Igapó quer dizer "encontro das águas", Maria quer dizer "encontro das graças". Que saudade, Vó Maria! Como eu gostaria que você estivesse aqui!

Londrina me chamava quando conheceu aqueles grandes cidadãos que no futuro viriam a me inspirar em minhas crônicas e livros: José Hosken de Novaes, Milton Menezes, Délio César, João Milanez, Dom Geraldo Fernandes, Padre José Kentenich, Domingos Pellegrini, Nilson Monteiro e a minha querida Madre Leônia, a santa da minha rua, a santa da nossa cidade.

Londrina me chamava quando, em um dia de chuva, 28 anos atrás, eu desci em um ponto de ônibus errado no campus da UEL e no primeiro dia de aula conheci aquela que viria a ser a mulher da minha vida: Rosângela, que em seu nome traz a rosa e o anjo. Graças a ela, nasceria o primeiro londrinense da família: Pedro Henrique Vale Briguet, aquele menino que está ali, de gravata. Pedro, você é o meu londrinense preferido, e o meu maior tesouro.

A Rosângela me perguntou por que eu escolhi uma gravata dessa cor para a cerimônia de hoje. A explicação é muito simples: eu queria uma gravata da cor do céu de Londrina. Porque Londrina, para mim, é isso: um ensaio do Céu, uma terra para onde vêm aqueles que buscam paz, acolhimento e sobretudo consolação. Em Londrina nós temos a sensação de que alguma coisa boa vai acontecer — e acontece!

Fomos a capital mundial do café, mas o fruto inesperado desta terra foi oamor. É ele, o amor, que me trouxe aqui hoje, 88 anos depois da primeira caravana, 47 anos depois do nascimento de um menino em São Paulo. Londrina é uma terra de esperança e amor. Londrina é uma terra de consolação. Fomos a terra docafé, sempre seremos a terra da fé.

Tempos atrás passei um mês na cidade de Atibaia, em São Paulo. Em meu retiro, senti que mais uma vez você me chamava, Londrina. Sim, você me chamava: "Paulo, Paulo... Volte para casa". Da mesma forma que você me chamava quando João Milanez transformava a Folha de Londrina em um grande jornal... Você me chamava, Londrina, quando o Dr. Ascêncio Garcia Lopes transformava um perobal numa universidade. Você me chamava, Londrina, quando David Dequêch e seus companheiros fundavam a ACIL. Você me chamava, Londrina, quando as 12 irmãs alemãs criaram o Colégio Mãe de Deus. Você me chamava, Londrina, quando Délio César criou o primeiro festival universitário, em 1968. Você me chamava, Londrina, quando Lucila Ballalai criou o Hospital do Câncer, salvador de tantas vidas, inclusive a vida de minha mãe. Você me chamava, Londrina, quando Ézaro Fabian criou a Plaenge, hoje uma das maiores construtoras do País. Você me chamava, Londrina, quando Celso Garcia Cid fundou a Viação Garcia e construiu uma joia chamada Cine Ouro Verde. Você me chamava quando Domingos Pellegrini escreveu "Terra-Vermelha", o romance épico da nossa colonização. Você me chamava quando Arrigo Barnabé compôs a "Valsa Londrina". Você me chamavaquando o Filipe Barros saiu em defesa de Jesus Cristo e de Nossa Senhora, pois a nossa fé cristã fora ofendida. Você me chamava quando o caboclo chorava diante de um pé de café que havia nascido junto com ele, na triste manhã da geada de 75... Você me chamava, Londrina: "Paulo, Paulo, volte para casa!"

Você me chamou — e eu estou aqui, Londrina. Sei que não mereço tamanha honraria, mas estou aqui. Não pense, Londrina, que sou um homem grande. Sou aliás bem pequeno: é que subi no ombro de gigantes, como disse certa vez um velho cientista. Um desses gigantes, talvez o principal, não mora em Londrina, mas na Virgínia. É o meu querido amigo e mestre Olavo de Carvalho, o maior filósofo brasileiro vivo. Graças ao mestre da Virgínia, eu pude abrir os meus olhos para Londrina.

Você me chamou, Londrina — e estou aqui. Pai, eu estou aqui! Mãe, eu estou aqui! Vó Maria, eu estou aqui! Vô Briguet, você que era juiz de futebol e pintor de carros, estou aqui! Vô Costa, você que foi um menino solitário e maquinista de trem, estou aqui!

Londrina, eu agradeço de todo o meu coração — e peço licença para ser o menor de seus filhos. Em você eu conheci a mulher da minha vida, em você nasceu meu filho. Rosângela e Pedro, minhas melhores crônicas, meus únicos poemas. Aqui meu pai e eu lançamos juntos o nosso livro. Aqui minha mãe foi salva, conheceu os netos e disse adeus. Londrina, você é uma terra de consolação e sobrevivência. Você é uma terra da ressurreição. Você é uma fonte de inspiração e entusiasmo para os difíceis tempos que precisaremos enfrentar, em defesa das nossas famílias e de tudo que mais amamos.

Quando Inácio de Antioquia era levado para o martírio em Roma, no ano de 110, ele disse aos que rezavam por sua libertação: "Este é o momento do meu nascimento". Peço licença para usar as mesmas palavras do santo e encerrar esta fala que já se alonga, e poderia se alongar por mais 83 anos, se eu precisasse dizer tudo que está em meu coração. Londrina, eu estou aqui, de volta para casa. Londrina é mais do que a minha cidade: ela se tornou a minha pátria. Este é o momento do meu nascimento!