A escolha de uma semente de qualidade é um momento determinante para o produtor rural. De partida, isso pode significar uma maior ou menor produtividade, além de garantir resistência à falta ou ao excesso de chuvas, assim como à variação térmica.

José de Barros França: "Nós temos dados da Embrapa comprovando que o simples fato de você começar sua lavoura com uma semente de alto vigor traz ganhos de produtividade de 10% a 12%, só pela qualidade da semente”
José de Barros França: "Nós temos dados da Embrapa comprovando que o simples fato de você começar sua lavoura com uma semente de alto vigor traz ganhos de produtividade de 10% a 12%, só pela qualidade da semente” | Foto: Hugo Soares Kern

De acordo com o pesquisador José de Barros França, da Embrapa Soja, que participou do AgroBit Brasil 2023, em Londrina, os pilares de qualidade de uma semente englobam as características fisiológicas, sanitárias, genéticas, físicas e legais. Para ele, um dos pontos mais importantes é justamente o aspecto fisiológico, com sementes de alto vigor.

PRODUTIVIDADE

“Vigor é aquele potencial que a semente tem de germinar, emergir no campo, mesmo em condições extremas de temperaturas mais baixas ou mais altas, excesso ou falta de umidade”, citando a importância de aliar isso a uma semeadura precisa, com a garantia da população correta de plantas.

Se no momento do plantio faltar uma planta por metro quadrado, explica França, isso significa 10 mil plantas a menos por hectare e o produtor pode levar um prejuízo de 180 a 250 quilos por hectare.

“Além disso, nós temos dados da Embrapa comprovando que o simples fato de você começar sua lavoura com uma semente de alto vigor traz ganhos de produtividade de 10% a 12%, só pela qualidade da semente”, acrescenta.

AQUECIMENTO GLOBAL

Essa é uma discussão importante no momento em que o Brasil passa por grandes instabilidades climáticas. No centro do país, por exemplo, a seca tem levado produtores a replantar suas lavouras.

“Mas aquele produtor que apostou em uma semente de alto vigor, não precisou replantar”, diz o pesquisador. “[Com a ressemeadura] você perde grande parte do adubo, perde a grande vantagem da época, além de perder a safrinha, que vai fugir do período ideal.”

POTENCIAL CRIADO PELA GENÉTICA

O produtor rural e CEO do grupo Velho Tata, Edson Rodrigo Vendruscolo, defende que o aumento da produtividade de grãos passa pela genética. Com isso, o papel das inovações tecnológicas é o de mitigar as possíveis perdas no campo. Ele também participou do AgroBit Brasil 2023, em Londrina

Edson Vendruscolo lembra que o papel das inovações tecnológicas é o de mitigar as possíveis perdas no campo
Edson Vendruscolo lembra que o papel das inovações tecnológicas é o de mitigar as possíveis perdas no campo | Foto: Douglas Kuspiosz - Especial para a FOLHA

“É ter controle das informações, gerar seus dados, [saber] de que forma pode monetizar esses dados, entender quais são os gargalos para diminuir as perdas e explorar o potencial”, diz Vendruscolo, argumentando que o mesmo acontece com a rentabilidade. Essas informações dão uma noção clara do gasto com combustíveis e insumos, por exemplo.

“Se temos uma genética com excelente potencial produtivo, mas não sabemos os dados de qual é a população exata, qual é a melhor época de semeadura, em qual tipo de solo e altitude se enquadra melhor, começamos a ter perdas e não exploramos o máximo dela. Entender essas informações é importante”, avalia.

MITIGAR PERDAS

Vendruscolo também ressalta que o uso de pluviômetros digitais, estações meteorológicas e balanços hídricos das culturas podem levar o produtor a compreender melhor o clima e se preparar para mitigar perdas. “E a questão é inverter esse valor que aplicamos trazendo para a rentabilidade do nosso negócio”

Edson Vendruscolo: "Estamos migrando de uma cultura braçal para uma cultura tecnológica. E esse é o desafio de transformar equipes, olhando, entendendo e falando a linguagem dos dados”,
Edson Vendruscolo: "Estamos migrando de uma cultura braçal para uma cultura tecnológica. E esse é o desafio de transformar equipes, olhando, entendendo e falando a linguagem dos dados”, | Foto: Douglas Kuspiosz - Especial para a FOLHA

“Nós estamos supertecnificados, mas acabamos contando mais com seres do que com dados. A dificuldade é natural. Estamos migrando de uma cultura braçal para uma cultura tecnológica. E esse é o desafio de transformar equipes, olhando, entendendo e falando a linguagem dos dados”, completa.

RENTABILIDADE É O NEGÓCIO

Outro participante do evento foi o produtor rural Guy Tsumanuma, que é enfático ao dizer que o que mantém o agricultor no campo é a rentabilidade. É por isso que fazer os melhores ajustes e adotar as melhores técnicas ajudam a promover maiores rendimentos.

O produtor rural Guy Tsumanuma: o que mantém o agricultor no campo é a rentabilidade
O produtor rural Guy Tsumanuma: o que mantém o agricultor no campo é a rentabilidade | Foto: Douglas Kuspiosz - Especial para a FOLHA

“Temos uma velocidade de aquisição de conhecimento e utilização sem precedentes na história da humanidade. Aqui nós chegamos e temos que estar por dentro de como vamos progredir daqui para frente. Algumas coisas vão dar errado, outras certo, mas o importante é se adaptar à realidade”, acredita.

Para Tsumanuma, a discussão da tecnologia no campo é muito ampla. Ele avalia que a comunicação é uma área que pode ser melhor implementada, e que são necessários testes para maximizar o manejo e o ambiente.

“A parte de mercado é bastante importante porque você consegue visualizar quais são as situações principais que estão afetando sua commodity, qual o melhor momento para fazer os fechamentos, bem como ter acesso às melhores formas de crédito para fazer investimentos”, completa o produtor rural.