A queda no preço do leite nos últimos meses tem preocupado os produtores paranaenses. Levantamento realizado pelo Deral (Departamento de Economia Rural) aponta que o produtor recebeu menos pelo litro de leite posto na indústria pelo 5º mês consecutivo.

A média do preço recebido em outubro deste ano ficou em R$ 2,21 o litro, 6,4% a menos que no mês anterior e 27,6% a menos que o registrado em outubro de 2022.

“Assim, muitos produtores continuam operando com margens extremamente apertadas ou mesmo em prejuízo, tendo que utilizar o lucro de outras culturas para se manter na atividade. O setor ainda aguarda decisões do governo federal relativas à importação e outras medidas anunciadas, que ainda não tiveram efeito prático”, analisa Thiago De Marchi, médico-veterinário do Deral.

Os produtores citam principalmente a alta nas importações como sendo o principal fator para a queda no preço recebido. “O produto oriundo da Argentina e do Uruguai é mais barato que o brasileiro, o que pressiona o preço. No mercado interno, a demanda segue fraca, o que também ajuda a diminuir a renda do produtor”, analisa o técnico.

Para reverter esse quadro de desvalorização, o médico veterinário ressalta ser necessário haver o reaquecimento do consumo interno, além do aumento da eficiência e da qualidade do produto no campo – que hoje não tem mercado externo por conta da baixa qualidade e do alto custo de produção.

“Também é necessária a diminuição dos custos de produção e, a curto prazo, o controle das importações oriundas do Mercosul. Algumas dessas medidas, como o aumento da eficiência e a diminuição dos custos de produção, não valorizam o produto de fato, porém contribuem para melhorar a renda do produtor”, acrescenta.

Segundo ele, o produtor dificilmente consegue contornar o problema por conta própria, ao menos a curto prazo.

“Diminuir os custos de produção, agregar valor ao produto e promover uma melhoria na eficiência e qualidade, para que o produto brasileiro eventualmente seja competitivo no mercado externo, são as soluções a longo prazo”, conclui.

DESVALORIZAÇÃO

Produtor de leite há quase 30 anos em Lapa, município dos Campos Gerais, Claudio Seyfert aponta desvalorização no preço do leite comercializado para a indústria em mais de 40% em um ano, na comparação entre outubro deste ano e o mesmo mês de 2022.

No mês passado, o produtor comercializou o litro de leite a R$ 2,00, sendo que em outubro de 2022 o valor chegou a R$ 3,50.

Claudio Seyfert aponta desvalorização superior a 40% do leite vendido para a indústria no último ano
Claudio Seyfert aponta desvalorização superior a 40% do leite vendido para a indústria no último ano | Foto: Arquivo Pessoal


Ele destaca que hoje a atividade vem sendo sinônimo de prejuízo. “Em virtude das quedas acentuadas e frequentes, estamos acumulando prejuízos mês a mês, sendo que se tornou inviável a produção de leite.”

Para enfrentar esse cenário difícil, Seyfert vem adotando uma série de ações para cortar gastos na propriedade. “Cortamos custos com a ração, diminuindo a quantidade por animal. Além disso, vamos ter que demitir dois funcionários e também reduzir o plantel”, enumera.

A projeção é que, neste ano, o produtor comercialize 550 mil litros para uma indústria de alimentos de Palmeira.

Com relação aos desafios, o produtor pontua que o maior deles é trabalhar em uma atividade o ano todo sem ter um lucro garantido.

“Vendemos sem saber o preço do produto entregue ao laticínio. Diferente de quando você vende uma saca de soja, por exemplo, que antes de entregar você sabe quanto vai receber por ela”, compara.

MENOS GASTOS

Produtora de leite há mais de 30 anos em Castro, também nos Campos Gerais, Neide Barreto aponta queda superior a 20% na cotação do leite vendido a uma cooperativa em um ano – no mês passado o litro estava R$ 2,40, ante R$ 3,13 em outubro de 2022.


“Como a nossa renda só vem do leite mesmo e não tenho outras culturas, tivemos que reduzir os gastos. Tínhamos planos em investir para aumentar o barracão”, diz. A expectativa é comercializar 300 mil litros de leite neste ano.

Neide Barreto com o gerente Elito Verner; plano para ampliar barracão foi postergado
Neide Barreto com o gerente Elito Verner; plano para ampliar barracão foi postergado | Foto: Arquivo Pessoal


NO TOPO

Apesar da desvalorização apontada pelos produtores, o leite é a quarta cultura do agronegócio paranaense que mais gera riquezas no campo.

Relatório do Deral aponta que o VBP do leite alcançou R$ 11,4 bilhões em 2022, o que representa quase 6% do VBP total. Essa cifra bilionária fica atrás somente da soja (18,4%), do frango de corte (17,8%) e do milho 2ª safra (com 8,4% de participação no VBP).

Castro, por sua vez, se mantém como o maior produtor de leite em território paranaense – é também o maior produtor nacional, segundo o IBGE.

Levantamento do Deral mostra que, no ano passado, o município localizado nos Campos Gerais produziu quase 10% de todo o volume no Estado, que resultou em um VBP (Valor Bruto da produção) superior a R$ 1,1 bilhão.