O tema do ESG (Environmental, Social and Governance), que diz respeito às ações ambientais, sociais e de governança, vem ganhando destaques nos últimos anos em diversos setores produtivos. Quando aplicadas ao agronegócio, essas práticas podem trazer impactos positivos para o homem do campo.

A diretora de ESG do Sistema Faep/Senar, Fabiana Campos Romanelli, explica que a sigla dá conta de uma boa gestão da propriedade como um todo. No lado ambiental, por exemplo, se refere às boas práticas como o Sistema Plantio Direto, Manejo Integrado de Pragas, reuso de água e energia renovável. Nesse último ponto, 398 municípios paranaenses possuem ao menos uma propriedade com energia fotovoltaica.

Do ponto de vista social, o ESG  trata de olhar para as pessoas que trabalham e vivem no campo, diz  Fabiana Campos Romanelli
Do ponto de vista social, o ESG trata de olhar para as pessoas que trabalham e vivem no campo, diz Fabiana Campos Romanelli | Foto: Jair Ferreira Balafacce/Istock

Do ponto de vista social, a aplicação no agro trata de olhar para as pessoas que trabalham e vivem no campo. “Garantir que o produtor tenha água limpa, uma casa adequada. Verificar se tem todos os pré-requisitos básicos, condições de trabalho e qualificações para ter empregos melhores e vida mais digna”, explica a diretora.

GESTÃO E SAÚDE FINANCEIRA

O aspecto da governança é centrada na gestão e na saúde financeira da propriedade. “Quando eu falo de governança, falo de uma gestão efetiva da minha propriedade que me traga o que eu preciso para minha manutenção e cuidar das pessoas, do ambiente e do que está em volta”, acrescenta.

Fabiana Campos Romanelli: "Temos boas práticas que podem ser usadas no mundo todo, mas temos que olhar para o local”
Fabiana Campos Romanelli: "Temos boas práticas que podem ser usadas no mundo todo, mas temos que olhar para o local” | Foto: Douglas Kuspiosz - Especial para a FOLHA

Esses são pontos de discussão importantes quando a permanência dos agricultores no campo entra em pauta. Romanelli diz que é importante que o produtor perceba as múltiplas possibilidades para melhorar sua qualidade de vida. É uma preocupação em olhar para o local.

“Durante muito tempo falávamos: ‘O mundo está globalizado, vamos olhar para o global’. Agora estamos voltando a olhar para o local, temos boas práticas que podem ser usadas no mundo todo, mas temos que olhar para o local”, diz a diretora, que cita como exemplo o programa Compra Direta Paraná, que adquire produtos da agricultura familiar e destina à rede socioassistencial, restaurantes populares, cozinhas comunitárias e hospitais filantrópicos, entre outros.

CERTIFICAÇÃO

Romanelli defende que são necessárias políticas públicas para ampliar as práticas de ESG no Paraná, e adianta que o estado está entrando na fase de identificar os indicadores para implementar uma certificação.

“Estamos muito avançados porque nossos produtores já têm boas práticas que são tradicionalmente executadas. Então vamos mapear para poder ter, dentro dos indicadores, se podemos ter a certificação”, explica. “Hoje não é mais se perguntar se o ESG vai emplacar, mas quando ele vai chegar na nossa porta.”

Na prática, existem diversas ações voltadas ao agro que são alinhadas a essa metodologia. O Plano ABC (Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), o RenovaBio (Política Nacional de Biocombustíveis), o PronaSolos (Programa Nacional de Solos), o Programa de Bioinsumos, a Política Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais e o Código Florestal Brasileiro são alguns exemplos.

São ações importantes quando se observa o cenário do agronegócio global para o ano de 2023. A demanda por energia deve crescer 40%, de água, 50%, e a expansão para produção de alimentos deve chegar à casa dos 35%.

CEO destaca importância do agricultor ‘performar melhor venda’

A CEO do movimento Mulheres do Agronegócio Brasil, Andrea Cordeiro, participou do AgroBit Brasil 2023, em Londrina. Em uma de suas palestras, ela destacou as novas formas de se fazer negócios no campo e a revolução digital das commodities. O ponto de partida dessa discussão é a gestão comercial. Ela acredita que as famílias de produtores rurais mantêm excelência na performance da safra, mas muitas vezes esquecem de “performar a melhor venda”.

Nesse cenário, é fundamental manter um olhar atento à gestão da propriedade e às novas formas de comércio. Dois exemplos para mitigar riscos são os derivativos em bolsas e as plataformas de comercialização. A CEO é enfática ao dizer que “o dinheiro não aceita desaforo” e que a permanência em qualquer negócio depende do lucro. É por isso que a excelência dos números é importante, no seu ponto de vista - sobretudo a partir do bom desempenho do país no campo.

“Somos os maiores produtores mundiais [de soja], maiores exportadores, e não devemos perder participação. Pelo contrário. Se a gente for garantir a sustentabilidade, a segurança alimentar, ainda devemos continuar aumentando nossa participação”, avalia a CEO.

“Hoje o Brasil é muito destaque na cadeia de soja. Quando vamos para os EUA, para a Europa, todo mundo quer entender como o brasileiro consegue os rendimentos que tem. Ainda não temos os mesmos rendimentos dos norte-americanos com o milho, mas estamos caminhando a passos largos, com tecnologia, inovando, para obter com cereal o que temos com oleaginosa”, completa.