A ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) é adotada em 6,74% das áreas de uso agropecuário no Paraná, segundo dados da Rede ILPF, associação de fomento ao sistema.

Dos quase 9,4 milhões de hectares de terras em território paranaense, 633 mil hectares são destinados ao sistema. O estado brasileiro com maior extensão de áreas com ILPF é o Mato Grosso do Sul, com quase 3,2 milhões de hectares. Já no Brasil, são 17,4 milhões de hectares, 8,35% do total.

A ILPF é uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área. Pode ser feita em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades (leia mais no quadro as diferentes modalidades).

GRANDE POTENCIAL

Emerson Nunes, gerente técnico de ILPF da Cocamar, considera haver um potencial muito grande para a expansão da ILP (Integração Lavoura-Pecuária) e da ILPF em território paranaense.

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Imagem ilustrativa da imagem Integração com floresta traz bons resultados para o campo
| Foto: Gustavo Pereira Padial

“Mas adesões nem sempre correspondem às expectativas, pois como as condições de solo e clima são muito desafiadoras, não se admite que o programa seja implantado pela metade, por exemplo.”

Além disso, o técnico considera necessárias políticas públicas de incentivo ao sistema, principalmente na evolução de um seguro agrícola e de financiamentos que atendam os produtores.

“Outro ponto a se destacar é a necessidade de o produtor ter equipe técnica especializada para prestar orientação desde o planejamento, implantação e acompanhamento de todo o sistema, pois pode acontecer de começar algo de forma errada e desistir no meio do caminho por falta de bons resultados.”

A Cocamar possui um corpo técnico para atendimento aos produtores que, inclusive, participa atualmente de um avançado programa de capacitação realizado em parceria com o Sistema Faep/Senar-PR, envolvendo uma equipe de engenheiros agrônomos, médicos veterinários, engenheiros florestais, técnicos agropecuários e zootecnistas.

PESQUISAS JÁ TÊM 30 ANOS

Objeto de pesquisas no Paraná há mais de 30 anos, essa forma de sistema integrado busca otimizar o uso da terra, elevando os patamares de produtividade, diversificando a produção e gerando produtos de qualidade.

A Cocamar foi uma das pioneiras em ILPF no país, passando a incentivar esse modelo produtivo ainda em meados da década de 1990, como forma de reverter o enfraquecimento da atividade agropecuária na região noroeste do estado, onde predominam solos arenosos.

“Um problema comum nessa região são as pastagens degradadas, resultado de décadas de extrativismo. Ou seja, os pecuaristas, de uma forma geral, apenas extraem, sem repor nutrientes no solo. Com isso, a produtividade nas regiões de pecuária mais tradicional é incipiente: meia carcaça/animal por hectare/ano”, pontua Nunes.

`BOI SANFONA´

Nessa situação, não há manejo algum e, quando chega o inverno, o problema se torna ainda maior diante da escassez de pastagens, mantendo a realidade do “boi sanfona”, que ganha peso no verão e perde no inverno, entre várias outras mazelas, como o seu longo ciclo até o abate.

O técnico comenta que, desde a década de 1990, a Cocamar ingressou forte no apoio aos sistemas ILPF e ILP, instalando estruturas de recebimento de grãos nas regiões e capacitando sua equipe técnica para prestar assistência aos produtores, além de manter parcerias com instituições de pesquisa para o desenvolvimento tecnológico e promover dias de campo.

“Isso foi fundamental para a expansão da soja em programas de reforma de pastagens no Noroeste do e Estado”, destaca Nunes.

BRAQUIÁRIA

No início da década de 2000, em parceria com a Embrapa, a Cocamar passou a incentivar o plantio de braquiária no inverno como forma de produção de alimento em abundância para o gado nesse período de escassez e, também, para o plantio direto da soja.

“A braquiária se adaptou bem às condições do clima das regiões da cooperativa, oferecendo uma série de vantagens. Seu enraizamento rompe a camada de compactação do solo, cicla nutrientes das camadas mais profundas e melhora a infiltração de água. O volume de palha produz matéria orgânica, inibe o desenvolvimento de ervas e favorece o desenvolvimento da cultura no verão. A braquiária se disseminou bem pelas regiões, inclusive em solos argilosos, no inverno, em consórcio com o milho.”

BENEFÍCIOS

O técnico acrescenta que, mesmo em municípios de solo e clima considerados hostis, os resultados obtidos com o sistema superam as expectativas, tanto na produção de soja (com níveis comparados aos dos melhores solos argilosos), quanto na produção de arrobas de carne por hectare.

“São verdadeiras vitrines, com gestão moderna, avanço constante no nível tecnológico com a aquisição de maquinários de última geração, maior valorização e embelezamento das propriedades, sem falar que o plantio de eucaliptos em espaços intercalares promove sombreamento e conforto térmico aos animais.”

O técnico acrescenta que a pecuária mantida em sistemas integrados tem giro mais rápido, com o ganho de peso mesmo no inverno e o abate precoce de animais, entre 24 e 30 meses, melhorando o fluxo de caixa. “Em resumo, a ILPF possibilita equilíbrio financeiro da propriedade com a diversificação das fontes de renda.”

A Cocamar conta hoje com 132 mil hectares em diferentes formatos de integração, que representam cerca de 12% da área de soja da cooperativa, envolvendo 200 cooperados. “Mas a velocidade de expansão desse modelo produtivo é lenta por exigir dos produtores todo o rigor no emprego das tecnologias recomendadas, além de acompanhamento profissional permanente.”

Produtor destaca produtividade acima da média

O produtor rural Gerson Bortoli implantou o sistema de integração lavoura-pecuária (ILP) há 20 anos na sua propriedade em Perobal, região noroeste do Paraná.

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| Foto: Arquivo Pessoal

Hoje ele planta 340 hectares de soja: 100% ocupados com o grão no verão e, no inverno, com braquiária, capim que vai muito além da alimentação do gado, visto que contribui para a estruturação do solo e, em consórcio com outras culturas, proporciona um importante ganho de produtividade.

A escolha pela integração se deu inicialmente pela necessidade do produtor de reformar a pastagem degradada na propriedade adquirida em 2001, três anos antes da implantação da ILP. “Não tinha pasto, não tinha cerca, a infraestrutura estava zerada. Venho tendo bastante êxito neste trabalho, com uma boa assistência da Cocamar desde o início”, pontua.

No primeiro ano da integração, Bortoli relembra que terceirizou o serviço porque não tinha maquinário. Hoje, 20 anos depois, o produtor destaca a boa produtividade de soja, acima da média da região, além da rentabilidade obtida com a pecuária.

UM SALTO

A produtividade de soja deu um salto – de 35 sacas por hectare no primeiro ano de integração para 85 sacas na safra mais recente.

“A produtividade vem aumentando ano a ano porque as áreas vão ficando mais bem corrigidas, com mais palhada. A terra fica mais equilibrada, e a correção do solo é feita quase que anualmente, fazendo com que haja cada vez mais matéria orgânica no solo. Temos investido muito em tecnologia, em maquinário e em adubação”, lista.

Bortoli pondera que, no passado, eram cultivadas outras variedades de soja, menos produtivas. “Mas se não tiver um solo bem equilibrado, não adianta colocar variedade com potencial alto de produção que não vai responder.” acrescenta.

PECUÁRIA

No inverno, o produtor tem conseguido manter atualmente de 4 a 5 cabeças de gado por hectare, muito acima da média nacional. Para se ter uma ideia, a média de cabeças de gado em áreas de pastagem no Brasil é quase 1 cabeça por hectare, segundo o Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A integração trouxe também um ótimo resultado na engorda do plantel. “Hoje estamos conseguindo obter ganho de peso de até 1,5 kg ao dia só no pasto, sem ração nenhuma, só com capim e o sal mineral”, pontua. A adição do sal na nutrição maximiza o processo de digestão do capim, melhorando a absorção dos nutrientes pelo gado.

TESTE

Além da integração lavoura-pecuária consolidada em Perobal, Gerson deu início a um experimento, há dois anos, de integração pecuária-floresta em outra propriedade, no município de Umuarama, Noroeste do Paraná.

A criação do gado consorciada com eucaliptos promete bons resultados, como os que já vêm sendo obtidos em Perobal. “Estamos fazendo correção de solo e reforma de pastagens para aumentar a lotação e também para que essa propriedade seja produtiva igual à outra”, conclui.