O cultivo da cevada ocupa uma área recorde neste ano em território paranaense. Levantamento feito pelo Deral (Departamento de Economia Rural) aponta que a cultura está ocupando 87 mil hectares, 2% maior em comparação ao ano passado, quando foram semeados 85 mil hectares.

Carlos Hugo Godinho, agrônomo do Deral, explica que a área tem crescido ao acompanhar a capacidade de transformar a cevada em malte (matéria-prima utilizada na fabricação de cerveja) no Paraná.

“O incremento se deu com a ampliação da indústria já existente e será ainda maior com o início dos trabalhos da nova planta industrial dos Campos Gerais, em Ponta Grossa”, pontua. A nova planta está em fase final de construção.

CLIMA MAIS QUENTE

Segundo o técnico, a expansão ocorreu principalmente em uma região mais quente. Enquanto a região de Guarapuava, mais fria, perdeu área, a cultura se expandiu nos Campos Gerais e mesmo no Norte Pioneiro. “São municípios na abrangência da Capal, que é uma das cooperativas envolvidas no projeto da maltaria nova”, detalha.

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O técnico explica que, quanto mais quente for a região, mais difícil fica a produção de cevada. “No entanto, novas cultivares que venham a surgir podem ser mais bem adaptadas e diminuir as dificuldades encontradas hoje”, diz.

PROJEÇÃO

Na esteira da área cultivada, a produção de cevada também caminha para ser recorde neste ano.

“A colheita está em progresso, apesar das dificuldades impostas pela chuva. Hoje, 17% da área está colhida e as produtividades estão variando um pouco. Nosso último levantamento reclassificou as lavouras em boas condições de 90% para 83%, com as restantes em condições medianas. É possível que tenhamos alguma revisão de produção, mas a expectativa no relatório de setembro era de que se produzissem 396,6 mil toneladas”, destaca. No ano passado, a produção alcançou 334,6 mil toneladas.

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Hoje, 100% da cevada produzida em território paranaense fica no Estado. “De certa forma, toda a produção é direcionada para a Agrária”, pontua.

MAIOR MALTARIA DA AMÉRICA LATINA

Localizada em Guarapuava, a Agrária – maior maltaria da América Latina – tem como carro-chefe a produção de malte pilsen, atendendo aproximadamente 30% da demanda do mercado brasileiro de cerveja.

Após recente ampliação, alcançou uma produção de 360 mil toneladas de malte por ano e passou a produzir alguns maltes especiais, como Malte Pale Ale, Vienna e Munique, todos com cevada 100% nacional.

Ao contarem com um mercado que absorve a cevada, os produtores têm hoje como maior desafio o clima. “As chuvas preocupam muito. A cevada para malte é uma cultura muito exigente em termos de qualidade, e o excesso de umidade está dificultando a colheita”, conclui Godinho.

DE FAMÍLIA

Egon Heinrich Milla é produtor de cevada familiar. Cultiva o cereal há 30 anos em Candói, região central do Paraná, desde quando a cooperativa Agrária construiu a maltaria em Entre Rios.

Hoje ele também planta milho e soja, sendo que, dos 3,2 mil hectares de terras, 500 hectares são destinados à cevada, em uma área pré-plantio de soja. No ano que vem, a expectativa é manter essa mesma área.

“Poderíamos cultivar até 1,6 mil hectares de cevada, mas reduzimos porque a rentabilidade está complicada. As variedades que temos que plantar, pela demanda da indústria, têm alta sensibilidade a doenças de folha, doenças de espiga, enfim, temos alto custo com fungicidas principalmente”, lista.

QUEDA NA PRODUTIVIDADE

A produtividade registrou queda neste ano em virtude do clima – são esperadas 3,5 mil toneladas de cevada em 2023, ante 4,2 mil toneladas no ano passado.

“Quase não teve frio este ano. A temperatura elevada encurtou um pouco o ciclo da cevada, não formou o peso do grão suficiente”, explica. Hoje, 100% da produção do agricultor é comercializada para a maltaria da Agrária.

Além de citar a menor produtividade, o agricultor cita a redução do preço, sendo que o cereal está sendo comercializado a quase 30% menos em 2023 em comparação ao menor preço obtido em 2022.

Outro desafio apontado é entregar um produto de qualidade, uma vez que os inúmeros critérios de classificação da cevada cervejeira geram deságios. “Nosso clima chuvoso, em anos de El Niño, costuma comprometer a qualidade da cevada”, conclui.

NO ESTADO

Relatório do Deral aponta que o VBP (Valor Bruto da Produção) da cevada alcançou R$ 580,4 milhões em 2022.

O maior produtor do cereal no ano passado foi Guarapuava, com mais de 26% de participação estadual. A produção no município do centro-sul do Paraná alcançou 86,5 mil toneladas, cultivadas em mais de 20 mil hectares de terras. O VBP atingiu a marca de R$ 150,8 milhões.

Na sequência vieram Pinhão e Candói, com 9,86% e 8,67% de participação, respectivamente. No ano passado, 68 municípios paranaenses cultivaram cevada.