Gosto quando as pessoas vêm comentar os meus textos publicados na Folha. Andrea, minha sobrinha, imaginou a cena em que a Natacha e eu escondíamos do senhor das caronas, lá em Ibiporã. Achou o fato engraçado e rimos muito. Bom, continuando... Ah, fiquem descansados; não vai haver a edição (3).

Caminhava perto de casa, encontrei uma jovem nissei com duas crianças. Ela me parou, sorrindo, disse:

- Professora Idiméia, fui sua aluna no “Evaristo da Veiga”. Eu sentava na primeira carteira, em frente a sua mesa. Nunca tive coragem de dizer que quando sentava para fazer chamada ou corrigir algum exercício, eu ficava admirando suas mãos bonitas e unhas sempre bem feitas.

Na hora, olhei para elas e continuavam bem feitas. Gente, nunca imaginei que minhas mãos e unhas chamavam a atenção de uma aluna...

Fui a uma consulta médica. Entrei na sala, cumprimentei o médico e ele disse:

- Como a senhora está, professora?

Antes que ele continuasse, eu falei: “Achei mesmo que seu nome não me era estranho. Não fala nada, vamos ver... você foi meu aluno no Hugo Simas, se não me engano em 1982. E então, acertei ?” Rindo, ele confirmou.

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Estava lá pelos lados do HU, na fila de um supermercado, quando uma moça chegou pra mim e disse:

- Professora, a senhora não deve se lembrar, mas eu fui sua aluna em Ariranha. Eu me casei e moro aqui em Londrina. Lá em Ariranha todos gostam da senhora.

Na época, Ariranha era distrito de Ivaiporã; hoje é uma cidade, Ariranha do Ivaí. Eu me lembro daquele ano. Tudo corria bem até que nos últimos meses de aula fui operada de apendicite quase soporada. Nem quero me recordar. Fiquei muito tempo de licença, quase morri.

Imagem ilustrativa da imagem Flashes da vida de uma professora (2)
| Foto: iStock

Minha amiga Lídia e eu fomos para Matinhos, praia paranaense. Passeávamos pelas lojinhas da cidade, quando ouvimos alguém falar: “Professora...” Nós duas paramos. Saiu da loja um rapaz e veio em minha direção, dizendo:

- Professora Idiméia, lembra-se de mim, o De Paula, fui seu aluno no Colégio São Paulo.

Sim, é claro que eu me lembrava dele e também do Adilson, Reinaldo, Renilson, meus alunos que trabalhavam na Folha e estudaram no Colégio São Paulo quando o Militão e o Laffranchi eram os diretores. Conversamos um pouco e ele disse que estava muito bem em Matinhos com a família.

Só quem é professor sabe da satisfação, do orgulho que se sente quando é abordado por ex-alunos; saber que é um profissional, formou uma família, enfim, é alguém que está contribuindo na sociedade.

Foram muitos anos na escola, ensinando e aprendendo. Foi uma época em que o professor era respeitado, os alunos obedeciam. No Dia do Professor, faziam a homenagem para nós e sempre voltávamos para casa com presentes, flores, cartões de alunos que reconheciam nossa dedicação. Uma coisa que sempre falava em sala de aula era que uma das maiores qualidades de um ser humano é a gratidão.

Durante alguns anos, fui diretora-auxiliar no “Evaristo”, nas gestões da Inês e da Sueli. Gostava de chegar cedo à escola; a inspetora de alunos abria o portão, eu ficava junto recebendo as crianças e conversando com os pais que levavam seus filhos. Quando algum aluno entrava correndo, eu o segurava pela mão e dizia:

- Calma, devagar... E bom dia, né?

Ele parava, às vezes ria, cumprimentava e... saía correndo. Tocava o sinal para entrar, os pais iam embora e a funcionária fechava o portão. Organizávamos as filas dos alunos, cantávamos o Hino Nacional, depois todos entravam para suas classes e íamos trabalhar. E eu gostava dessa rotina na escola porque fazia o que amava.

Idiméia de Castro, leitora da FOLHA