O gosto por viagens vem desde criança. Viajávamos para Cássia dos Coqueiros, de férias, no caminhão do papai. Na cabine, havia duas camas e, como ainda éramos poucos irmãos, era ali que ficávamos o dia todo e chegávamos à noite na Serrinha, fazenda dos nossos avós. Quando a família aumentou, íamos de camionete. Colocava-se encerado, lona, na carroceria, a mamãe forrava o chão com acolchoados, cobertas e travesseiros. No dia anterior, ela cozinhava e fritava frango caipira em pedaços e depois misturava com farinha de milho e colocava numa vasilha. A sodinha e o guaraná vinham da nossa fábrica. No caminho, o papai parava perto de algum posto ou restaurante e íamos fazer a nossa refeição. E a viagem era muito legal !!

Mais tarde, fiz o curso de Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia, em Assis (da USP), e dona Elsa era a minha professora de Língua e Literatura Espanhola. Gostava muito de suas aulas porque entre uma poesia e outra de António Machado, Bécquer, Rubén Dario, ela relatava suas viagens à Espanha. A primeira vez, ela foi numa excursão com guia de turismo; nas outras, alugou carro e foi assim que conheceu todo o país. Muitos anos mais tarde, quando estive por lá, em cada lugar que passava, recordava-me da querida professora dona Elsa.

Terminei o curso em 1971 e vim para Londrina. Trabalhava no IEEL e lá havia um grupo de professoras que viajava muito. Eu só ouvia os comentários e ficava pensando: “Será que um dia viajarei também? “Pegava os folhetos, os roteiros de viagens que as agências de turismo deixavam na mesa dos professores, levava para casa e ficava sonhando. Então, comecei a fazer excursões pelo Brasil.

Nessa época, viajava-se muito de ônibus para o Nordeste; hoje, mais de avião. Fui a muitas capitais e outros lugares interessantes, sempre com um pessoal animado, divertido. Fortaleza, Recife, Olinda, João Pessoa, Natal do maior cajueiro do mundo, Vitória, Maceió, Trancoso, Porto Seguro e onde se rezou a primeira missa no Brasil, lugares importantes de nossa História. Salvador, ah, Salvador, do Elevador Lacerda, do Pelourinho, do Olodum, do Mercado Modelo, do Farol da Barra, da Basílica do Senhor do Bonfim, da Lagoa do Abaeté, cantada em prosa e verso por Dorival Caymmi.

Belo Horizonte, linda capital do mineirinhos, terra da minha família, uai. Passeamos na Lagoa da Pampulha, na Igreja São Francisco de Assis, projetada por Oscar Niemeyer, o Mineirinho, e o Estádio Mineirão, com direito a almoço e um descanso nas suas cadeiras cativas; as cidades históricas de Minas, Ouro Preto, Patrimônio da Humanidade, antigamente era chamada de Vila Rica, onde morou o poeta Tomás Antônio Gonzaga, que participou de movimentos artísticos e políticos, um grande personagem da Inconfidência Mineira.

Congonhas, a cidade dos Profetas, e outras cidades importantes para cultura nacional e nossa independência. Araxá, estância hidromineral, com suas águas medicinais, cidade da Dona Beja. Goiânia, Brasília ( país independente), Trindade, Caldas Novas, Aparecida do Norte, a visita ao Santuário Nacional, a casa da nossa Mãe Aparecida. Lindos passeios! Quem da minha geração que não tem uma foto com a família em frente à Basílica Velha? Ah, nós aqui em casa temos. Há mais ou menos um ano, o Idivar, a Eliana, o Carlinhos e eu estivemos lá. Sentamos na pracinha da igreja antiga, ficamos recordando nossa viagem lá quando criança. É muita emoção, tanta mudança...

Numa próxima, continuarei a viagem pelo Brasil, porque nosso país tem paisagens e lugares belíssimos. Vale a pena conhecer e viajar é bom.

Idiméia de Castro, leitora da FOLHA