Localizada no extremo norte dos Campos Gerais, Arapoti manteve o posto de maior produtor de mel do Brasil, com um crescimento de 7% no volume de 2021 para 2022. É o que mostra a Pesquisa da Pecuária Municipal, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A produção de mel no município subiu de 925,6 para 991,7 toneladas em um ano, conforme aponta a pesquisa. Em 2022, o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) do mel em Arapoti ultrapassou os R$ 13 milhões, segundo relatório do Deral (Departamento de Economia Rural).

Danilo Augusto Scharr, engenheiro agrônomo do IDR-PR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), explica que três fatores importantes contribuem para a produção de mel em Arapoti.

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“Ampla área de reflorestamento de eucalipto no município, presença de uma espécie nativa arbórea (capixingui) que possui grande potencial apícola e a proximidade com os pomares de laranja no Estado de São Paulo”, lista.

TRÊS SAFRAS POR ANO

Ele explica que os apicultores em Arapoti têm a oportunidade de produzir mel em três safras distintas a cada ano.

“No início do ano temos a florada do eucalipto. Em seguida, logo após o inverno, os produtores migram seus apiários para o Estado de São Paulo com o objetivo de produzir mel utilizando a flor dos pomares de laranjas do estado vizinho. Mais próximo do final do ano, esses apiários retornam para o município visando a produção de mel da flor da capixingui”, detalha.

Imagem ilustrativa da imagem Com crescimento de 7%, Arapoti se mantém como maior produtor de mel do Brasil
| Foto: Gilson Abreu/AEN

O engenheiro agrônomo acrescenta que há casos de produtores de Arapoti que estão migrando seus apiários para os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, com foco na produção de mel proveniente da flor do cipó-uva.

A Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) contabiliza 264 produtores de mel em Arapoti cadastrados, que mantêm mais de 106 mil colmeias. Porém, a estimativa é que haja mais de 350 produtores envolvidos com a atividade no município.

COMERCIALIZAÇÃO

Hoje, 90% do mel produzido em Arapoti é destinado à exportação, sendo os países importadores os Estados Unidos, União Europeia e Arábia Saudita. “Apenas 10% da produção é destinada ao mercado interno. É importante salientar que praticamente todo o mel produzido em Arapoti é comercializado na forma bruta, sem ser beneficiado”, pontua.

Sobre a importância econômica, a atividade injeta anualmente cerca de R$ 20 milhões no município, gerando cerca de 1 mil empregos diretos e indiretos. “Arapoti produz atualmente em torno de 1.500 toneladas de mel por ano, porém os dados oficiais do IBGE acabam sendo menores devido a muitos produtores ainda estarem na informalidade”, pondera.

DESAFIOS

Atualmente, devido ao grande número de produtores e colmeias, a falta de pasto apícola para manter todos esses enxames tem se tornado um limitante para a expansão da atividade.

Especialista diz que brasileiro consome pouco mel em comparação com pessoas de outros países
Especialista diz que brasileiro consome pouco mel em comparação com pessoas de outros países | Foto: Gilson Abreu/AEN

“Muitos produtores têm procurado áreas em outros municípios da região para evitar esse problema. Outro problema que todos os anos vem aumentando está relacionado ao roubo de mel, melgueiras e caixas. Como a atividade cresceu muito nos últimos anos e tem gerado uma boa lucratividade, a criminalidade vem se aproveitando, pelo fato de os apiários em sua maioria ficarem em locais distantes, de difícil acesso e longe de moradias”, detalha.

A mortalidade de abelhas nos últimos anos também vem crescendo, principalmente pelo aumento do número de colmeias no município e a proximidade com áreas de lavouras, onde muitas vezes o agricultor não está respeitando as boas práticas na aplicação de agrotóxicos.

“Outro desafio também enfrentado pelos produtores nos últimos anos tem sido a convivência com uma nova praga exótica, o besouro das colmeias. Os principais danos à colmeia são causados pelas larvas do besouro, que se alimentam das larvas das abelhas e do pólen, além de perfurar as células de mel ao movimentar-se, causando a fermentação do mel e do pólen, que se tornam impróprios para consumo humano.”

PREÇOS

Outro desafio importante tem sido o baixo preço que o produtor vem recebendo pelo produto.

“Houve uma queda expressiva nas exportações de mel, principalmente para os Estados Unidos. A queda do dólar também impactou o preço final para o produtor. Outro fator que baixou os preços do mel também está relacionado ao maior estoque que as empresas exportadoras detêm – com a queda das exportações, ocorreu acúmulo do produto.”

O técnico cita ainda que outro desafio é aumentar o consumo interno do produto. “Hoje o brasileiro consome muito pouco mel comparado a países da Europa e dos EUA. Com o aumento do consumo interno, o produtor ficaria menos refém do câmbio e dos preços internacionais”, pontua.

AUMENTO

O técnico considera que o desafio do aumento da produção de mel no município passa pelo uso de técnicas corretas de manejo em relação aos apiários. Ele cita como exemplos a introdução de rainhas melhoradas geneticamente e a intensificação da alimentação dessas colmeias em períodos de falta de alimento, principalmente durante o inverno.

“É necessário fazer a confecção correta das caixas e melgueiras, com medidas corretas, sem permitir que pragas como o besouro das colmeias sobreviva. Hoje, a intensificação do manejo nos apiários é essencial para ganhos de produtividade, então a presença do apicultor de forma sistemática nos apiários se faz necessária.”

ASSISTÊNCIA

O IDR-Paraná auxilia os apicultores que, na sua maioria, são agricultores familiares no acesso ao CAF-Pronaf (documento para acesso ao crédito rural), sendo a única entidade pública no município de Arapoti que fornece esse documento.

“O IDR também atua na elaboração de projetos de crédito rural visando o custeio da atividade e investimento para aquisição de máquinas e equipamentos utilizados pelos produtores. Promovemos reuniões e visitas às propriedades, visando o aprimoramento do manejo e auxiliando os produtores no desenvolvimento sustentável das suas atividades.”

DE FAMÍLIA

A produtora de mel Edilaine Sousa atua na apicultura em Arapoti há sete anos, mas o pai já trabalha no ramo há mais de 25 anos. O gosto pela atividade familiar fez com que ela seguisse na mesma direção.

Segundo ela, 2022 não foi um bom ano para a apicultura por conta de uma perda grande de colmeias, quando contabilizou 8 toneladas de mel. Mas em 2023 a produção se recuperou e mais que dobrou, alcançando 18 toneladas. A comercialização da produção vai para agroindústrias do Paraná e de Santa Catarina.

MANEJO

Para alcançar o máximo em produtividade e qualidade, Edilaine tem alguns cuidados no manejo, como a substituição frequente das caixas onde as abelhas-rainhas se alimentam e botam os ovos.

“A população precisa se conscientizar que as abelhas são muito importantes para o nosso ecossistema”, conclui.

As abelhas têm um papel crucial para a sobrevivência das espécies. Isso porque o ato de fazer a polinização é essencial não só para alimentar a colmeia, mas para ajudar na fertilização das plantas. Estima-se que 2% das abelhas são responsáveis pela polinização de 80% das culturas do planeta.