Há nove anos, a campanha Setembro Amarelo surgiu no Brasil buscando conscientizar as pessoas sobre a prevenção do suicídio. A iniciativa partiu da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), do CFM (Conselho Federal de Medicina) e do CVV (Centro de Valorização da Vida), que viram nas estatísticas a necessidade de alertar a população sobre o assunto.

No Brasil, os registros de suicídios chegam a mais de 14 mil casos por ano. Desses episódios, a grande maioria é do sexo masculino, segundo dados do boletim epidemiológico de 2021. Os homens apresentam um risco 3,8 vezes maior de conseguir completar o ato do que uma mulher, já que culturalmente são ensinados a omitir suas emoções e as suas tentativas tendem a ser mais violentas.

Apesar da campanha se mostrar eficiente abrindo espaços para discussões sobre saúde mental, o suicídio persiste sendo um grande estigma, não à toa o ano de 2022 marcou cerca de 8 suicídios a cada 100 mil habitantes, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Um mito comum é de que conversar abertamente sobre o assunto aumenta a probabilidade de uma pessoa atentar contra a própria vida, mas, segundo a psicóloga Flávia Zuba, muitas pesquisas apontam o contrário. "As pessoas têm medo de que, de alguma forma, se esse assunto for mencionado, ele se torne algo maior do que é, ou talvez se torne um problema, mas a verdade é que o problema já existe”, explica a profissional.

O suicídio pode ser prevenido através do diagnóstico e tratamento corretos. Segundo Zuba, a maioria das pessoas que morrem por suicídio possuía histórico de transtorno mental não tratado ou tratado inadequadamente. Sendo assim, ela destaca a importância de trazer a discussão à tona. “Eu diria que falar sobre saúde mental, setembro amarelo e suicídio é dar a oportunidade para as pessoas se reconhecerem, perceberem que elas não estão sozinhas, que existem formas de resolver os problemas delas e que elas podem e devem procurar ajuda", afirma a psicóloga.

Outro dado preocupante é o aumento das taxas de suicídio de adolescentes e jovens no país, sendo a terceira maior causa de mortes na faixa de 15 a 19 anos, segundo dados do GBD (Global Burden of Disease). Enquanto as estimativas globais indicam uma redução de suicídios na adolescência, nacionalmente os indicativos apresentam um aumento das tentativas.

A psicóloga sugere, como uma das possíveis causas dessa estatística, o silenciamento sobre transtornos mentais: "crianças e adolescentes em geral não sabem identificar, reconhecer e expressar os próprios sentimentos, então é praticamente impossível que um adolescente que nunca tenha ouvido falar em depressão, ou como ela se apresenta, diga aos pais que é isso que ele está sentindo; ele só vai sentir o incômodo e se tornar consciente de contar quando ele souber o que é, olhar para dentro de si e falar 'então o problema não sou eu'”.

De acordo com Zuba, existem outros fatores de risco que também podem desencadear ideações suicidas, como tentativas anteriores, histórico familiar e genético, traumas passados, presença de doença terminal, fazer parte da comunidade LGBTQIAPN+, ser de alguma minoria étnica e experienciar perdas recentes, por exemplo. Vale lembrar que esses não são únicos motivos existentes, afinal, o suicídio é um "ato multifacetado e não ocorre por uma única razão".

Quais alertas de comportamentos podem sinalizar um possível risco para a vida?

- Automutilação;

- Perda de prazer e prática de atividades costumeiras;

- Diminuição da energia, da concentração e da atenção;

- Manifestação de sentimentos de desesperança, vergonha, culpa, ansiedade, irritabilidade, ataques de raiva, sentimentos de desamparo, tristeza e desespero;

- Comportamentos impulsivos, irresponsáveis e/ou imprudentes, como abuso de substâncias;

- Mudanças bruscas de rotina e comportamento, como perda ou ganho excessivo de peso, problemas com sono e hábitos de higiene;

- Queda no rendimento acadêmico ou profissional;

- Isolamento social;

- Expressões diretas de desinteresse pela vida como “Queria morrer”, “Não aguento mais viver assim”, “A vida seria melhor sem mim”, sejam faladas na brincadeira ou de forma séria;

- Doar bens pessoais importantes e tentar fazer as pazes com as pessoas.

Como posso ajudar quem sofre?

A partir desses comportamentos é possível identificar uma pessoa que provavelmente está passando por um desequilíbrio emocional. A psicóloga elencou algumas ações que podem ser feitas por amigos e familiares para ajudar:

- Ofereça escuta sem emitir julgamentos, sem muitas interrupções, com validação e reconhecimento de sentimentos e, principalmente, acolhimento;

- Não critique, nem faça comparações ou diminua as dores;

- Se ofereça para auxiliá-la a procurar um profissional, seja indicando alguém, marcando uma consulta ou acompanhando-a até o consultório;

- Passe momentos de lazer com a pessoa, como um passeio com boas conversas ou uma atividade que a agrade;

- Construa uma rede de apoio em que todos possam se revezar para acolher e impedir que a pessoa fique sozinha por muito tempo;

- Auxilie em tarefas, como organizar a casa, preparar refeições ou realizar algum trabalho. Quem passa por esse tipo de problema pode estar tendo dificuldades em fazer coisas simples do dia a dia;

- Respeite os limites e tenha paciência com os resultados;

- Incentive a prática de atividades físicas. É comprovado que o hábito auxilia na manutenção da saúde mental;

- Demonstre afeto, seja físico ou verbal, e deixe a pessoa saber que você se importa.

Leia também: Setembro Amarelo: CVV convida a “acolher para cuidar”

É importante falar sobre suicídio de crianças e adolescentes

Onde buscar ajuda para problemas psicológicos em Londrina?

- CVV (Centro de Valorização da Vida)

A ONG realiza apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente, através dos canais online.

Chat: https://www.cvv.org.br/chat/

Telefone: 188 (24h)

E-mail: [email protected]

- Centro Social Coração de Maria

Atendimento psicológico gratuito, mas é necessário passar por uma triagem socioeconômica.

Endereço: Av. Higienópolis, 1073

Atendimento: diariamente, das 8h às 12h e das 13h30 às 17h00

Telefone: (43) 9998-4484

- Clínica Escola da Unopar

Atendimento psicológico individual para todas as idades, por um valor social ou gratuito, caso a pessoa declare baixa renda.

Endereço: R. Marselha, 269 - Parque Res. João Piza

Atendimento: das 8h às 12h e das 13h às 18h

Telefone: (43) 2105-7171

- Clínica Psicológica da UEL

Plantão psicológico e psicoterapia familiar e de casal gratuitamente.

Endereço: CCB (Centro de Ciências Biológicas), próximo ao Hospital das Clínicas

Rodovia Celso Garcia Cid, PR-445, Km 380 - Campus Universitário

Atendimentos: diariamente, das 8h às 18h

Plantão: segunda, terça e sexta-feira, às 12h e 13h; quarta-feira, das 8h às 17h

Telefone: (43) 3371-4237