CRITIQUINHA CINEMATOGRÁFICA

A Pequena Sereia

Fileira do meio. Não muito alto nem muito em baixo. A pequena Helena chega toda confiante e se senta ao lado da mamãe e do papai. Pela primeira vez numa sala de cinema, no auge dos seus três anos de idade. Helena está belíssima, com uma roupa que lembra uma princesa e sua bolsa colorida a tira colo. E eu tive a sorte grande de me sentar bem na poltrona ao lado.

Dava pra sentir a tensão quando as luzes se apagaram e começa a musica alta. A pequena Helena espicha os pés na poltrona e vidra os olhos naquela telona imensa que ela nunca tinha visto. De repente, aparece uma princesa sereia, linda e Helena prontamente aponta pra tela e diz pra mamãe: ‘olha, é ela”!

Dai pra frente segue o baile. Linguado, Sebastião, Sabidão e o fundo do mar como a pequena Helena já deve ter visto em alguma imagem do Google, só que mais colorido e mais movimentado.

Água vai e água vem chega ‘aquele’ grande momento. Por aqui, enquanto a excelente artista Laura Castro acaba de cantar “quero viver, não quero ser, mais desse mar!”, a pequena Helena está na ponta da poltrona. Com os olhos marejados e suspirando junto, no mesmo ritmo, que a sereia Ariel.

Eu olho pro lado vejo a cena e penso: é isso! Deu certo. De novo.

Então, meus caros adolescentes tardios e adultos amargos, tenho uma péssima noticia aos senhores: esse filme não foi feito para vocês. Não foi feito para alimentar a sua nostalgia. Ele foi feito para a pequena Helena e todas as Helenas que ainda estão por vir. Para os Joãos e Marias que estão começando a entender o mundo. Que estão começando a enxergar suas cores e não estão nem ai se a Ariel é branca, preta, azul, transparente.... e eles sabem.

E de magia a Disney entende, melhor que ninguém no mundo. Prometeu e entregou. Um filme para crianças. Assim como a pequena sereia ‘original’ lá de 1989. Quantas e quantas Helenas já não puderam sentir, e vibrar, e torcer... e, ao final do dia enrolar uma toalha de banho nos cabelos e nas pernas pra fingir que era uma sereia em busca dos seus sonhos.

Sobre o filme o roteiro é exatamente o mesmo do original. Com algumas adições e até mais esmiuçado. Tem musicas novas, novas interações, mas o cerne da fabula é exatamente o mesmo. Com uma ‘pequena grande’ alteração no final que, pra mim, fez toda a diferença (não vou dar spoilers mas quem assistir vai entender).

A trilha sonora não poderia deixar de ser fabulosa, está ate um pouco mais lenta, e mais assimilável. A fotografia é linda. Confesso que ver o Linguado como um ‘peixe qualquer’ e o Sebastião como um ‘siri qualquer’ está longe de imprimir o carisma dos desenhos.

Os atores brilham. Halle Bailey é, sem dúvidas, a melhor escolha do mundo para o papel. O príncipe Eric do Jonah Hauer é zero carisma, igualzinho ao do desenho. Melissa Mccarthy assinou sua Ursula sem muitas dificuldades e se coroa como uma baita atriz. No mais, esta tudo no seu lugar.

Assim como a pequena Helena estavam presentes outras tantas crianças. Muitas pela primeira vez vivendo essa experiência mágica. Processando, entendendo e com certeza se apaixonando. Como você um dia foi. Lembra?

E eles vão voltar. Assim como nós voltamos. E muitos voltarão.

Muitos serão adultos um dia e uma dia também vão se esquecer da sensação. Infelizmente até a pequena Helena vai se preocupar com outras coisas e um dia vai se esquecer. Só que, por enquanto, qualquer criança ainda vai poder sonhar e vai bastar o primeiro acorde da canção e, no futuro, ela vai se lembrar.

Nessa hora uma fumacinha de nostalgia vai soprar no canto do olho e um sorriso meio de lado vai surgir, pode ser que uma lagrima caia, e vai ser sempre sobre isso.

Dá-lhe Disney. Funcionou e eles sabem. Pouco importa a técnica. A História esta viva e reescrita nos olhos e no corações de todas nossas novas Helenas e Helenos.

Isabela Boscov não gostou muito mas sabe dar valor.

Vinicius Zanin é advogado, músico e jornalista em Londrina.