Mundialmente, o dia da liberdade de imprensa é comemorado em 3 de maio. No entanto, no Brasil, desde 1977, celebramos esta data nesta quarta-feira (7). O marco relembra quando cerca de 3 mil jornalistas assinaram um manifesto a favor da imprensa livre, se opondo à censura instaurada no Brasil durante a Ditadura Militar (1964-1985). O período foi marcado por repressão aos jornalistas e à imprensa.

O jornal Tribuna da Imprensa foi um dos veículos de comunicação mais perseguidos da época, tendo recebido frequentes visitas do coronel Carlos Pinto antes do AI-5 (Ato Institucional-5). Seu proprietário, Hélio Fernandes, foi preso diversas vezes por tecer críticas ao regime, chegando a ter seus direitos políticos cassados. Em 1975, o jornalista Wladimir Herzog foi torturado e morto numa das celas do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo, e virou símbolo da luta pela democracia.

Esse é apenas um breve contexto para mostrar que a criação da data surgiu em um momento crucial para reforçar a importância do acesso à informação de qualidade, além de defender a integridade dos profissionais que resistem na área, apesar dos ataques, agressões e ameaças constantes. Também para lembrar aqueles que ousaram lutar por uma imprensa livre em tempos de censura, tortura e morte.

Agressões a jornalistas

De acordo com Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil de 2022, divulgado pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), foram registrados 376 casos de agressões a jornalistas e veículos de comunicação no Brasil, o que equivale a praticamente um caso por dia no ano passado. Apesar da queda de 12,53% em comparação ao ano de 2021, houve crescimento de 133,33% nas ocorrências de ameaças, hostilizações e intimidações.

O jornalista Lucas Berti, do The Brazilian Report, vê as estatísticas como um reflexo do ódio político que assolou o país nos últimos anos, principalmente em período de eleições gerais, que tornaram os jornalistas vítimas da violência em razão do exercício profissional. "O apreço pela liberdade jornalística e de imprensa e o respeito aos direitos humanos sempre estiveram fora de qualquer pauta do último governo. E além de se aproximar de uma narrativa nociva à liberdade de imprensa na teoria, Bolsonaro converteu isso em ataques práticos: ficou marcado por questionar a imprensa, atacar jornalistas, divulgar informações falsas e por aí vai. Ele foi um desafio para agências de checagem e, pior ainda, incitou um discurso violento contra o setor. O aumento de atos de violência contra a classe não aconteceu por acaso", aponta, lembrando que o ex-presidente sempre foi abertamente favorável à ditadura militar brasileira, a qual considera uma "revolução".

Importância da data

Para o jornalista, é necessário mais do que uma data para relembrar a importância do tema, como a adoção de medidas mais duras para que os agressores da categoria, principalmente autoridades, se sintam desencorajados. "Tem que haver punição, cassar mandato de quem quebrar decoro, até que um governante pense duas vezes antes de atacar órgãos de imprensa e jornalistas. Questionamentos são naturais, debates também, mas nada pode sair desse campo", finaliza.

*Com a orientação de Patrícia Maria Alves