O Paraná não perdeu Nitis Jacon, o Paraná ganhou Nitis Jacon por 88 anos. A mulher que revolucionou a cultura e levou o nome de Londrina para o mundo foi sepultada na manhã desta quinta-feira (21) no Cemitério Municipal de Arapongas. Sob um céu azul, Nitis vai, agora, descansar ao lado do marido, Abelardo de Araújo Moreira, que faleceu há pouco mais de 11 anos.

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Durante todo o velório, o clima foi agridoce, com momentos de forte emoção daqueles que tiveram o privilégio de conviver com Jacon, seja nos palcos da vida, nos corredores dos hospitais ou nos outros tantos lugares que a receberam por um tanto de tempo. Por outro lado, os risos também encheram o ambiente, já que muitos relembravam as histórias e as peripécias de Nitis Jacon. Apesar de sempre enérgica, intensa e efervescente, ela transbordava generosidade e sabia tirar o melhor de cada um, como contam amigos próximos.

No velório, as coroas de flores enviadas por tanto admirados decoravam o saguão. As flores vieram de diversas lugares e setores, como de ex-alunos e de turmas de medicina e artes cênicas da UEL (Universidade Estadual de Londrina), de amigos da Casa de Cultura, da Funcart (Fundação Cultura Artística de Londrina), da Casa de Saúde de Rolândia, do Teatro Guaíra, além de homenagens de famílias da região.

Na parede, os quadros, retratos e molduras com imagens da vida e carreira de Nitis Jacon eram observados com atenção pelos presentes. Os olhos atentos tentavam absorver um pouquinho da história da criadora do FILO (Festival Internacional de Londrina).

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Vitória Sahão foi chefe do gabinete de Nitis no Teatro Guaíra entre 2002 e 2005, período em que ela coordenou os trabalhos a convite do então governador Roberto Requião. Ela conta que é possível dividir o Teatro Guaíra entre antes e depois da Nitis, principalmente por conta da programação cultural desenvolvida por ela.

“Sempre muito dinâmica, de uma ebulição de pensamentos e de uma expansão do trabalho comunitário e cultural, agregando as cidades do estado”, relembra, complementando que, dentre os 399 municípios do Paraná, a programação cultural do teatro sob o comando de Nitis conseguiu chegar a quase 320 cidades. “Hoje, cada um de nós carrega um pedaço da história dela”, afirma.

Em ponto, às 9h30 a marcha fúnebre saiu do Cemitério Jardim das Acácias, passou pelo Hospital Santa Rita, onde funcionários saudaram Nitis Jacon com uma salva de palmas e, por fim, chegou ao Cemitério Municipal de Arapongas. Em um jazigo sob o céu azul, ela foi sepultada com aplausos - que tanto recebeu ao longo da vida - ao lado do marido, Abelardo de Araújo Moreira, rodeada de familiares e amigos.

Um dos netos de Nitis pediu para que todos lembrem da avó com um sorriso no rosto e sentada na mesa de algum bar. Destemida e corajosa, ele afirmou que todos carregam um pouco da nostalgia de Nitis e pediu para que ninguém deixe que as memórias e lembranças partam.