Ano passado, o singular, ou se preferirem: inusitado, insólito, excêntrico, exóticomestre cult americano Wes Anderson apresentou no Festival de Cannes o aclamado longa “Asteroid City” (exibido há pouco em Londrina) . Agora, quatorze anos depois de adaptar “O Fantástico Sr. Raposo”, Anderson está de volta com mais histórias do escritor inglês Roald Dahl, ou melhor, quatro delas..

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Filmado em formato 16mm, ele adaptou algumas histórias do escritor infantil (aqui nada de infantil, aliás), embora no início tenha encontrado a dificuldade de não saber contar essas histórias sem usar as palavras definitivas do autor. “Quando finalmente tive o momento de inspiração, a ideia era: "Estou igualmente interessado na maneira como Dahl conta a história, e na própria história. Se eu fizer isso usando as palavras deles,

suas descrições, então talvez eu saiba como fazer”, explicou o diretor em entrevista ao “Tudum”, publicação da própria Netflix.

Imprevisível como sempre, Wes Anderson se opôs às alterações em sua obra e decidiu ser fiel à narrativa de Dahl. Por isso, esses curtas são inspirados em técnicas teatrais e contam com o elenco, que alterna de curta para curta e é responsável por recitar as palavras de Dahl diretamente ao espectador (a quebra dramatúrgica da “quarta parede” imaginária que separa os atores da plateia).

A prestar mais atenção na criatividade da direção artística da mise-en-scène. Pura delicatéssen.

A Maravilhosa História de Henry Sugar": filme  estrelado por Benedict Cumberbatch, conta a história de um guru que consegue ver sem usar os olhos
A Maravilhosa História de Henry Sugar": filme estrelado por Benedict Cumberbatch, conta a história de um guru que consegue ver sem usar os olhos | Foto: Netflix/ Divulgação

Embora um deles (“A Maravilhosa História de Henry Sugar”) tenha sido exibido agora em setembro no Festival de Veneza, o cineasta decidiu levar seus quatro novos curtas diretamente para o streaming, sem passar pelas salas de cinema. Desta forma, a partir dos últimos dias de setembro pudemos desfrutar da nova excentricidade do mestre da simetria, graças a Netflix.

Vale ressaltar que o formato de curta-metragem não é desconhecido do diretor, já que ele acumulou quase uma dezena deles em sua filmografia. Entre eles, destacam-se “Hotel Chevalier” – que funciona como prólogo do filme “Jornada a Darjeeling” (2007) – e o “Castello Calvalcanti”, encomendado pela marca de moda italiana Prada. Além disso, Anderson também dirigiu comerciais para essa mesma grife.

Os curtas em exibição “A Maravilhosa História de Henry Sugar”- na verdade um média metragem de 41 minutos - conta a história de um homem rico que descobre a existência de um guru que consegue ver sem usar os olhos. Empolgado com a novidade, o protagonista se empenhará em dominar essa habilidade para trapacear no jogo e ganhar um bom dinheiro.

“O Cisne” – Peter Watson, adolescente brilhante de quinze anos é torturado por dois valentões, Raymond e Ernie. Este recebe um rifle de aniversário, e com a desculpa de ir caçar coelhos, dupla decide assediar Peter com a arma na mão.

“O desratizador” – Numa cidade inglesa, um exterminador profissional de roedores explica a um repórter e a um mecânico sua engenhosa tática para enganar e capturar as suas presas. A história é uma das menos conhecidas da obra de Dahl.

“Veneno” – Quando uma cobra venenosa dorme sobre a barriga de um inglês na Índia, seu parceiro e um médico tentam salvá-lo.

Esses três últimos curtas têm duração de dezessete minutos cada.

Confira o trailer:

O PRESTÍGIO DE UM ELENCO

Nos quatro filmes estão Ralph Fiennes, um dos atores icônicos do diretor (lembrem-se de “O Grande Hotel Budapest”), Dev Patel (“Quem Quer Ser um Milionário”), Ben Kingsley (“Gandhi”) e um Benedict Cumberbatch que é a estrela deste conjunto. Faltou Bill Murray, que tem carisma de Anderson .

Com essa ideia simples, mas única, de apostar em curtas-metragens, os admiradores do diretor podem acessar uma série de obras que teriam sido muito difíceis de encontrar nos cinemas. Espera-se que este seja o início de uma bela amizade: os curtas, que têm tudo para fazer sucesso nas salas de estar, e as plataformas, que ainda não sabem como vendê-los dentro do seu catálogo. Mas podem aprender, e apostar mais neles.