A Delegacia da PF (Polícia Federal) em Londrina cumpriu dois mandados de busca e apreensão, nesta terça-feira (30), em duas residências onde vivem três pessoas suspeitas de participarem de um esquema de fraude bancária eletrônica. A ação fez parte da operação de alcance nacional Não Seja Um Laranja 2, que tem o apoio da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), de seus bancos afiliados e do Centro de Crimes Financeiros e Anticorrupção da Interpol. No Paraná, policiais federais e civis atuaram apenas em Londrina, mas ao todo, foram expedidos 51 mandados de busca e apreensão em 17 estados e no Distrito Federal.

Os mandados foram cumpridos em um endereço no Vale do Cedro (zona leste) e em outro, no Parque Ouro Branco (zona sul). Segundo o delegado-chefe da PF em Londrina, Kandy Takahashi, os três suspeitos são investigados por manterem diversas contas em diferentes bancos e por realizarem movimentações atípicas nessas contas, o que pode configurar crime. No período de 2021 a 2022, um deles movimentou R$ 50 mil nas contas que mantinha em seu nome.

Na operação desta terça-feira, foram apreendidos cartões bancários emitidos em nome dos investigados, a maioria deles, de bancos digitais, além de telefones celulares. O material será encaminhado para análise. Ninguém foi preso.

As investigações indicaram que os suspeitos estariam recebendo em suas contas bancárias dinheiro desviado de contas bancárias de terceiros. A fraude era feita pela internet. “Identificamos que as pessoas vítimas de golpes tinham suas contas invadidas e os valores eram transferidos para contas de diversas pessoas que a gente considera laranjas desse esquema. Essas pessoas, provavelmente, ou repassam em dinheiro para os que fazem a evasão das contas ou transferem para outras contas para dificultar a investigação”, explicou Takahashi.

Os alvos da operação, disse o delegado, provavelmente sabiam que suas contas eram utilizadas em um esquema criminoso e, para isso, recebiam uma porcentagem do dinheiro desviado. “Chama muito a atenção a quantidade de contas que essas pessoas tinham em diversas instituições financeiras. Não é um padrão normal. Uma delas, inclusive, durante as buscas, ficou alegando para a polícia que não há nenhum crime em ter contas em vários bancos. Isso é óbvio, mas a gente sabe que por trás disso pode estar o envolvimento delas nesse esquema. Sem essas contas, o criminoso teria muito mais dificuldade de receber o valor desviado."

O caminho que o dinheiro fazia após sair das mãos dos laranjas ainda vai ser investigado em uma próxima etapa da operação. Pela facilidade que se tem hoje, com as transferências eletrônicas e por PIX, a PF não descarta a possibilidade de a organização criminosa ter ultrapassado as fronteiras do Brasil. “Esses valores podem ser de qualquer pessoa do Brasil ou do exterior. A gente considera, em princípio, que os fraudadores se encontram em território nacional, mas isso vai ser afirmado somente após a análise do material (apreendido)”, disse Takahashi.

A operação Não Seja Um Laranja 2 faz parte do Projeto Tentáculos, implantado pela PF e que tem como um dos principais pilares um Acordo de Cooperação Técnica entre a Polícia Federal e a Febraban, em vigor desde 2017.

As vítimas dessa fase da operação eram todas clientes da Caixa Econômica Federal, que informou a polícia sobre a fraude e os valores desviados para contas de terceiros. A PF fez a análise, identificou os CPFs de destino do dinheiro roubado das vítimas, fez o levantamento e chegou até os suspeitos. Os investigados em Londrina teriam recebido em suas contas dinheiro desviado de correntistas de agências da Caixa localizadas em várias partes do Brasil.

A PF alerta que fornecer o número da conta para recebimento de dinheiro oriundo da prática de delito também constitui crime. Os laranjas podem responder por estelionato, furto e associação criminosa e, se condenados, a pena pode chegar a oito anos de prisão. “O mais importante hoje nessa deflagração é gerar essa consciência nas pessoas que eventualmente acham que vão ganhar dinheiro fácil em esquema de emprestar conta. Na verdade, estão participando ativamente no esquema de estelionato ou furto de valores por meio eletrônico.”

Na primeira fase da operação Não Seja Um Laranja, deflagrada em agosto de 2022, foram executados 43 mandados de busca em 13 estados e no Distrito Federal.