Imagem ilustrativa da imagem Uso da mente a favor do desempenho físico
| Foto: Anderson Coelho
Para a ginasta londrinense Gabrielle da Silva, a preparação psicológica ajuda a lidar com a pressão da competição



Muita gente tende a classificar corpo e mente como duas entidades distintas, mas muitas pesquisas já apontaram evidências de que a mente tem o poder de manipular a fisiologia do corpo. O mundo do esporte percebeu o quanto essa conexão pode trabalhar a favor do desempenho físico e a psicologia passou a fazer parte da preparação de atletas.

Recentemente, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, medalhistas olímpicos brasileiros, como a judoca Rafaela Silva e o ginasta Diego Hypólito, incluíram em seus agradecimentos os psicólogos que participaram de suas preparações. Para ter uma boa preparação técnica, o atleta costuma contar com uma equipe multiprofissional: preparador físico para montar treinos adequados; fisioterapeuta para prevenir e tratar lesões, corrigir desequilíbrios e encurtamentos musculares; nutricionista para orientar a melhor forma de consumir os alimentos e suplementos; e psicólogo, que vai trabalhar fatores psíquicos que interferem no desempenho e podem por a perder o trabalho de todos os profissionais anteriores.

O objetivo do psicólogo do esporte é explorar os fatores da mente que influenciam o desempenho físico e o desenvolvimento emocional do atleta. Com técnicas específicas, esse profissional ajuda o atleta a ter foco, segurança e tranquilidade nas competições. "Muito diferente do que a maioria das pessoas pensa, o trabalho do psicólogo não é só no momento da derrota, quando o atleta precisa se recuperar. A psicologia trabalha para promover o bem-estar e o melhor desempenho dos atletas", explica a psicóloga Priscila Sakuma, do Núcleo Evoluir em Londrina.

Segundo ela, com o acompanhamento psicológico em longo prazo, o atleta consegue ter equilíbrio emocional para lidar com a pressão e os reveses do esporte. "Isso influencia muito o desempenho físico. O atleta pode seguir adequadamente os treinos, ter uma alimentação correta, mas se o emocional dele não estiver preparado, ele não vai ter um bom desempenho", afirma.

LONGO PRAZO
E esse trabalho, segundo Priscila, não pode ser pontual. É preciso que ele se desenvolva em longo prazo, desde os treinos até o pós-competição. É como trabalha a seleção brasileira de ginástica rítmica. Segundo a ginasta Gabrielle Moraes da Silva, que é de Londrina e competiu nos jogos olímpicos do Rio, o acompanhamento psicológico é feito ao longo do treinamento, durante a competição e depois do resultado.

"Nós tínhamos sessões em grupo e também individuais. Falávamos dos objetivos e sonhos em comum, os obstáculos que tínhamos que superar e espalhávamos pela casa cartazes com palavras de incentivo", conta Gabrielle.

Segundo ela, a pressão de competir em um ginásio com oito mil pessoas na arquibancada é grande e a preparação psicológica ajuda a lidar com isso. "Alguns atletas controlam o nervosismo melhor que outros. Eu sou bem tranquila, não fico tão nervosa. A psicóloga nos ensina a treinar pensando que já estamos na competição, para ficar mais fácil na hora", lembra a ginasta.

Márcia Aversani Lourenço, coordenadora da ginástica rítmica da Unopar, equipe da qual Gabrielle faz parte, destaca ainda outra importante função do psicólogo na preparação dos atletas. "Ele é um mediador da equipe. O treinador quer que a ginasta não erre, cobra que ela treine muito. Elas ficam cansadas, mas, muitas vezes, por uma questão de hierarquia, não conseguem dizer", explica.

Segundo ela, o psicólogo vai fazer o atleta entender a importância de suportar a dor, de ter calma para ouvir o treinador e evitar conflitos. "Ele trabalha também para manter o espírito de grupo, que é fundamental em esportes de equipe. No caso da ginástica rítmica, são cinco meninas ao mesmo tempo, uma dependendo do desempenho da outra. Esse espírito tem que ser muito bem trabalhado", pondera Márcia.