Neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis lidera estudo em que oito pacientes paralisados restabeleceram parcialmente sensações e controle muscular nas pernas após treinamentos com dispositivos robóticos controlados pelo cérebro



São Paulo - Um estudo liderado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, mostrou que oito pacientes paralisados há anos com lesões na coluna vertebral restabeleceram parcialmente sensações e controle muscular nas pernas depois de passar por treinamentos com dispositivos robóticos controlados pelo cérebro.
A pesquisa foi publicada na última quinta-feira, na revista Scientific Reports. Há anos a equipe de Nicolelis trabalha no projeto Walk Again (Andar de Novo), que desenvolve tecnologias de interface cérebro-máquina (ICM) com o objetivo de produzir exoesqueletos (vestes robóticas) e outros dispositivos que possam ser controlados pelo cérebro dos pacientes, para que eles possam recuperar movimentos.
No novo estudo, os cientistas utilizaram um sistema ICM não invasivo denominado eletroencefalografia externa (EGG), controlado por eletrodos instalados sobre o couro cabeludo do paciente, para movimentar exoesqueletos e elementos de realidade virtual.
O objetivo do projeto é permitir que pessoas com lesões na coluna vertebral e sequelas de acidentes vasculares cerebrais possam recuperar a força, a mobilidade e a independência. Mas, com o novo estudo, os cientistas acreditam que o treino de longo prazo com ICMs pode induzir os pacientes a uma recuperação neurológica.
"Nós não poderíamos ter previsto esse resultado clínico surpreendente quando começamos o projeto. Os pacientes que usaram ICMs por um longo período tiveram avanços em seu comportamento motor, nas sensações táteis e em funções viscerais abaixo da linha da lesão na coluna vertebral", afirmou Nicolelis.
"Até agora ninguém havia observado a recuperação dessas funções em pacientes tantos anos após terem sido diagnosticados com paralisia completa." Depois de um ano de treinamento, a recuperação das sensações e do controle muscular de quatro pacientes foi tão considerável que os médicos mudaram os diagnósticos de
paralisia completa para paralisia parcial, segundo o artigo.
A maior parte dos pacientes apresentou melhora no controle da bexiga e nas funções dos intestinos, reduzindo sua dependência de laxantes e cateteres, segundo Nicolelis. Essas mudanças reduzem o risco de infecções, que é alto entre pacientes com paralisia crônica, de acordo com o cientista.

NERVOS RECUPERADOS
Treinamentos semanais foram feitos com dispositivos que estabelecem comunicação direta entre o cérebro e computadores. Segundo Nicolelis, o treino funcionou como um tipo de terapia, restabelecendo nervos da coluna vertebral que haviam sobrevivido ao impacto dos traumas que causaram a paralisia. De acordo com ele, esses nervos intactos ficam inativos por anos porque não há sinais emitidos do córtex cerebral para os músculos. "O treinamento com a ICM pode ter reacendido esses nervos."