Pneumonia não descansa no verão
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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
Juliana Gonçalves<br>especial para a FOLHA
O clima frio e a aglomeração de pessoas em ambientes fechados fazem do inverno a estação mais propícia para a ocorrência de pneumonias. Não significa, porém, que os micro-organismos transmissores dessa doença não ataquem também nas estações mais quentes. Isso porque ventiladores e aparelhos de ar condicionado não higienizados corretamente ajudam a propagar esses germes. Números do Ministério da Saúde mostram que a cada três hospitalizações por pneumonia ocorridas no último inverno, quase duas foram registradas no verão passado. Em Londrina, especialista chama a atenção para aumento nos casos de pneumonia necrosante, uma versão grave da doença.
Entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016, 114.351 pessoas foram internadas com pneumonia nos hospitais ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) de todo o Brasil. O número é bastante representativo quando confrontado às 176.682 hospitalizações verificadas no inverno seguinte, entre junho e agosto. As taxas de internações e mortalidade são especialmente altas entre crianças menores de 5 anos. "Nessa faixa etária, o sistema imunológico ainda não tem maturidade, por isso eles são mais suscetíveis à doença. Idosos e portadores de doenças crônicas, como cardíacos, asmáticos, hipertensos, também têm mais chances de evoluir mal a doença", afirma o pneumopediatra do Hospital do Coração, Claudio Amorim.
Segundo ele, neste ano, muitos casos de pneumonia necrosante uma complicação grave da doença foram registrados em Londrina, inclusive com óbitos. "Esses casos graves têm acontecido, principalmente, no outono e na primavera. Eu passo por praticamente todos os hospitais de Londrina e tenho visto muitos casos de pneumonia necrosante", conta Amorim.
Apesar de ser pequena a proporção de pacientes que sofrem esse tipo de complicação entre os casos de pneumonia de 2% a 3% dos casos o assunto é preocupante porque a evolução da doença nas crianças se dá de forma muito rápida. Que o diga Fernanda Oliveira, que enfrentou o problema com a filha Lívia, de apenas um ano e quatro meses de idade. "Ela estava em tratamento contra bronquite e um dia começou a ficar com a respiração difícil, tosse, febre. Achei que era resfriado, mas em três dias virou pneumonia necrosante", conta.
Lívia ficou 45 dias internada, a maior parte do tempo na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e entubada porque já não conseguia respirar por conta própria, teve que passar por uma cirurgia para que a parte necrosada do pulmão fosse retirada e até hoje, quase seis meses depois de deixar o hospital, ela continua em tratamento com medicamentos. "Foi muito grave o caso dela. É um milagre de Deus ela estar aqui", resume a mãe.
RESFRIADO
A pneumonia, quase sempre, surge a partir de uma gripe ou um resfriado. Segundo Amorim, a cada 100 crianças menores de 5 anos que ficam resfriadas, duas ou três acabam evoluindo para pneumonia. Isso porque essa é uma doença oportunista, que se aproveita da baixa imunidade do organismo. "A pneumonia pode ser provocada por vírus, bactérias ou fungos. Na grande maioria dos casos, a pneumonia é bacteriana, mas muitas vezes a infecção por bactéria coexiste com a infecção viral. O vírus serve de gatilho para permitir que a bactéria se instale", explica Amorim.
Nem toda criança evolui mal diante de uma pneumonia. De acordo com o pneumopediatra, apenas 10% dos casos sofrem algum tipo de complicação. "Na maioria das vezes, não é necessária a internação. Feito o diagnóstico, o tratamento pode ser feito em casa, observando sempre sinais de piora", ressalta. E os sinais de piora, segundo ele, incluem grande dificuldade para respirar, lábios arroxeados, vômito, febre incessante e sonolência mesmo fora dos períodos de febre. Já os sintomas que indicam que um resfriado está se tornando pneumonia são: febre alta, tosse úmida, coriza, dificuldade para respirar e abatimento.