"(Menopausa precoce) Antes dos 30 anos é raro, o índice é de cerca de 0,1% das mulheres. Antes dos 35, de 0,25%, e antes dos 40, de 1%", afirma o médico ginecologista Renato Koike
"(Menopausa precoce) Antes dos 30 anos é raro, o índice é de cerca de 0,1% das mulheres. Antes dos 35, de 0,25%, e antes dos 40, de 1%", afirma o médico ginecologista Renato Koike | Foto: Fábio Alcover



Aos 26 anos, recém-casada, a profissional autônoma Sílvia (nome fictício) parou de tomar a pílula anticoncepcional para tentar engravidar. Depois de alguns meses de tentativa buscou auxílio médico. Feitos os exames de praxe, constatou-se estar tudo certo. Mais seis meses sem sucesso e com a menstruação irregular, ela buscou a orientação de um especialista em reprodução humana e foi então que veio o choque. Ela havia entrado na menopausa e o sonho de ser mãe ficou um pouco mais difícil.
"Outra mulher na minha família também teve menopausa precoce, mas não imaginava que poderia acontecer tão cedo comigo. Foi uma notícia horrível. Como eu tomava o anticoncepcional, meu ciclo era regulado e por isso também não sei dizer ao certo quando aconteceu. Fiz exames para saber se ainda teria algum óvulo para usar na reprodução assistida, mas infelizmente já não era possível", lamenta.
Sem óvulos próprios, a saída foi tentar a fertilização in vitro (FIV) com óvulos de uma doadora anônima. Sílvia fez duas tentativas sem resultado e por motivos pessoais, desistiu. Hoje, aos 48 anos, não pensa mais em ser mãe. "É todo um processo: preparar o útero, tomar hormônios, fazer o procedimento e por fim fazer o teste de gravidez. Acabei não indo mais atrás. Ser mãe é algo que envolve muitas coisas, cada mulher lida de um jeito com isso. Dessa forma procuro sempre avisar as mulheres da minha família o que aconteceu comigo, porque acho que é uma questão de humanidade. Na minha época, mesmo com um caso na família o médico não me disse que eu poderia congelar os óvulos. Como antigamente as mulheres tinham filhos muito cedo, pode ser que alguma outra parente tivesse o problema, mas acabamos nem sabendo", pontua.
Renato Koike, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução assistida explica que a menopausa precoce atinge cerca de 1% das mulheres. "A menopausa se dá entre 45 e 55 anos. Antes disso chamamos de menopausa precoce. Antes dos 30 anos é raro, o índice é de cerca de 0,1% das mulheres. Antes dos 35, de 0,25%, e antes dos 40, de 1%. O diagnóstico é sempre muito delicado e dar essa notícia exige muito tato do médico. É preciso ter muita certeza e cuidado ao dizer, afinal, é algo irreversível, com grande impacto emocional e que traz também muita ansiedade", aponta.
Segundo o médico, a menopausa é caracterizada pela falência ovariana. "Os ovários são responsáveis pela produção de hormônios e também de óvulos. Eles têm um tempo de função, que vai durar algumas décadas. Quando essa função acaba, ele deixa de produzir óvulos e então determinamos como sendo a menopausa, ou seja, a última menstruação", diz Koike.
REPRODUÇÃO ASSISTIDA
Cláudia Gomes Padilla, médica especialista em reprodução assistida do Grupo Huntington, de São Paulo, afirma que a média de idade das brasileiras para entrar na menopausa é aos 50 anos. "Aos 25 anos é raro, mas acontece. Muitas mulheres não percebem (que entraram na menopausa) porque estão tomando anticoncepcional e só descobrem quando desejam engravidar, já que nem todas têm sintomas", diz.
Assim como na menopausa tradicional, entre esses sintomas estão secura vaginal, perda de libido, ausência de menstruação, ondas de calor, sudorese, alterações de humor e irritabilidade.
O diagnóstico é feito por meio de exames de sangue e ultrassom. "O médico irá pedir exames de sangue e também um exame muito importante, do hormônio anti-Mülleriano (HAM). Através dele podemos ver se ainda há uma reserva de óvulos, juntamente com o ultrassom, que permite a análise dos folículos que produzem os óvulos. Dependendo desses folículos podemos induzir a ovulação. Se a mulher ainda tem capacidade de produzir óvulos de boa qualidade ela pode tentar a gravidez de forma natural. Caso contrário, ou se ela não conseguir engravidar em até seis meses, é feita então a fertilização in vitro", explica Cláudia.
Koike explica que os exames ainda não determinam com precisão quanto tempo a mulher tem de fertilidade, caso a menopausa ainda não esteja instalada. "Fazemos uma estimativa. Dessas pacientes, cerca de 10% consegue engravidar naturalmente. Já com a fertilização usando os óvulos de doadoras a chance chega a 40% de sucesso, um bom índice, que é o mesmo para o procedimento em outros casos que não a menopausa."