São Paulo - O número de pacientes com doença renal crônica (DRC) em estágio terminal está crescendo em todo o mundo. Hoje, a doença já atinge 10% da população e especialistas chegam até a falar sobre uma "epidemia" mundial da doença. No Brasil, a presidente da SBN (Sociedade Brasileira de Nefrologia), Carmem Tzanno, estima que 1 em cada 10 brasileiros terá algum grau de lesão no rim durante a vida.

Isso porque os fatores de risco são altamente prevalentes entre a população. São eles: obesidade, sedentarismo, histórico familiar, consumo de álcool, tabagismo e principalmente, diabetes e hipertensão. "A hipertensão é a primeira causa de doença renal crônica e o diabetes, a segunda. Para se ter uma ideia, cerca de 50% dos diabéticos que entram em diálise têm diabetes", aponta.

Além disso, o diagnóstico da doença é muitas vezes tardio, pois nas fases iniciais a condição é silenciosa. Geralmente, os sintomas como anemia, inchaço, cansaço, alterações na urina e inapetência surgem a partir da terceira fase.

Segundo a SBN, cerca de 70% dos pacientes que chegam a necessitar de diálise (tratamento de substituição renal) descobriram a doença tardiamente. "É muito importante as pessoas terem o diagnóstico precoce para frear a progressão da doença. Os exames para isso são simples, como o de urina e o de creatinina no sangue, que avaliará a função renal", aponta Tzanno.

Imagem ilustrativa da imagem EPIDEMIA MUNDIAL - Doença renal crônica avança entre a população



TRATAMENTO

Outro número que reflete o aumento da incidência da doença entre os brasileiros é em relação ao tratamento. Para se ter uma ideia, no ano 2000 eram 42 mil pacientes em diálise no País e hoje são mais de 120 mil pessoas, segundo o Censo Brasileiro de Nefrologia 2016.

A nefrologista Tzanno explica que, em estágio avançado da doença, os pacientes precisam de Terapia Renal Substitutiva (TRS), seja através da diálise que pode incluir a hemodiálise (HD) ou a diálise peritoneal (DP), ou por meio o transplante renal.

De acordo com a SBN, mais de 90% dos pacientes em TRS não apresentam contraindicação para DP e 15% dos indivíduos que estão em hemodiálise terão que ser transferidos para o método peritoneal, principalmente por problemas de acesso vascular e hipotensão pós-diálise.

Desde a década de 80, os pacientes contam com a possibilidade de realizar a DP em casa, por meio de uma máquina chamada cicladora. Através de um cateter flexível inserido no abdômen do indivíduo é feita a infusão de um líquido que entrará em contato com o peritônio (tecido que reveste os órgãos abdominais), eliminando as substâncias tóxicas do sangue.

Todo esse processo é feito durante o sono do paciente. Especialistas defendem que esta terapia é uma boa opção porque atende aqueles que vivem em áreas remotas, mas principalmente porque libera o paciente para atividades durante o dia. Na hemodiálise, o tratamento é realizado três vezes por semana e requer o deslocamento e a permanência na clínica ou hospital por um período de três horas por sessão.

Entrevista com Carmem Tzanno, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia





INOVAÇÃO

Durante um workshop sobre doença renal, realizado em junho, em São Paulo, a Baxter apresentou o HomeChoice Claria, uma cicladora equipada com o software sharesource, que permite o acompanhamento médico à distância, da diálise peritoneal domiciliar. "Isso resulta em intervenções médicas mais rápidas e melhor aderência ao tratamento pelo ganho de confiança entre médico e paciente. À distância, o profissional consegue visualizar informações sobre a terapia", comenta Geovana Basso, nefrologista e gerente médica da Baxter.

O novo sistema acaba de chegar no País e sua incorporação no SUS já está sendo pleiteada. Por enquanto, não há pacientes utilizando a tecnologia. Basso explica que o aparelho é comodatado com as clínicas que terão o custo do software sharesource, de aproximadamente R$ 300 por paciente.

O especialista em inovação e saúde da USP, Guilherme Rabello, participou do evento e sustentou que inovar em saúde é alcançar o paciente, impactando sua vida na percepção da própria doença. "O paciente não é mais paciente. Ele é ativo. Hoje, a informação e novas tecnologias devem engajá-lo, integrando-o ao tratamento. Isso é um dos fundamentos da Saúde 4.0", cita.

*A repórter viajou a convite da Baxter

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