Enfrentar um câncer, se adaptar a uma nova rotina, medicamentos fortes e procedimentos médicos frequentes e ainda assim passar pela mutilação das mamas pode abalar qualquer mulher. A real amplitude desta situação fica marcada no corpo e na mente de quem precisa passar por isso. A ausência da mama significa para a mulher mais do que a possibilidade de amamentar outro ser. Há milhões de anos ela é usada para representar a feminilidade, fecundidade e sensualidade. ''Simboliza também o aconchego e alimento, já que a mama é o primeiro lugar que o bebê encontra ao nascer'', diz o cirurgião plástico Ricardo Strang.
Ficar sem uma ou ambas as mamas não interfere apenas no contorno corporal da mulher. A mastectomia (como é chamada a técnica de retirada da glândula mamária) tem uma ligação muito forte com o fator psicológico e muitas mulheres que passam pelo procedimento se sentem lesadas em sua sensualidade e feminilidade. O procedimento pode ser realizado na maioria dos casos diagnosticados. A técnica de reconstrução da mama pode ser feita com implantes mamários ou com o próprio tecido da paciente.
O médico explica que há mulheres que são resistentes ao tratamento contra o câncer pelo medo da mutilação. ''A paciente chega no meu consultório apavorada porque recebeu do mastologista a notícia do câncer e a indicação de que a mama precisa ser retirada. É preciso conversar, avaliar e discutir o que pode ser feito para devolver o contorno corporal dela'', diz Strang.
Strang informa que as pacientes que vão até seu consultório sabem que precisarão remover a mama e estão buscando uma forma de reconstruí-la. No caso das pacientes do Sistema Único de Saúde, atendidas pelo Hospital do Câncer de Londrina (ICL), geralmente a situação é diferente. ''Quando eu as conheço elas já passaram pela mastectomia e estão ansiosas pela reconstrução. São universos diferentes mas o trauma é o mesmo'', explica. Segundo ele, além do medo da doença, as mulheres temem a mutilação.
A devolução do contorno corporal para a mulher pode ser feita com diferentes técnicas, que são definidas de acordo com a característica de cada paciente (ver nesta página). ''É claro que não fazemos uma mama perfeita, não é uma glândula mamária funcionante. A paciente precisa estar ciente disso e saber que reconstruir é muito mais complicado e trabalhoso do que destruir''.
Para o médico, há uma diferença gritante entre a mulher que está aguardando a reconstrução mamária e depois da cirurgia. ''Há cerca de dois meses no ICL, havia uma moça jovem esperando pela reconstrução das duas mamas. A cirurgia dela durou cerca de seis horas. No dia seguinte eu passei no hospital para vê-la e a encontrei muito bem. Ela disse que aquele era o dia mais feliz da vida dela. É este tipo de reação que me incentiva a continuar'', afirma Strang.