Imagem ilustrativa da imagem Cirurgias robótica e clássica têm os mesmos resultados
| Foto: Shutterstock
Pesquisa mostrou que pacientes de cirurgia robótica e clássica têm resultados funcionais similares



São Paulo - Um estudo publicado na prestigiosa revista médica "Lancet" tenta colocar um ponto final em um dos grandes debates atuais da urologia: afinal, a cirurgia robótica, que surgiu nos anos 2000, é mesmo superior à cirurgia aberta convencional para tratar câncer de próstata?
Segundo os autores, do Royal Brisbane & Women's Hospital, na Austrália, a resposta é não. Três meses depois das cirurgias, os pacientes que se submeteram às duas técnicas tinham resultados semelhantes, principalmente em relação a continência urinária e função erétil.
O estudo tem o mérito de ser o primeiro estudo randomizado a comparar os dois tipos de cirurgia - ou seja, a dividir aleatoriamente os pacientes em cada um dos grupos.
Nos EUA, onde a cirurgia robótica mais se difundiu, isso se tornou impraticável porque a cirurgia aberta para retirada da próstata praticamente sumiu do País e os médicos consideram a cirurgia robótica tão superior à técnica convencional que acreditam ser antiético submeter pacientes a outro tipo de operação.
O estudo australiano começou em 2010 e os pacientes foram operados até 2014. No final, 121 pacientes que fizeram a cirurgia aberta e 131 que fizeram a robótica completaram o acompanhamento de três meses. Cada grupo foi operado por um mesmo cirurgião experiente.
Os resultados funcionais depois de três meses foram similares, afirmam os autores. Mas houve diferenças principalmente no pós-operatório imediato. Pacientes da cirurgia aberta reportaram mais dor nas primeiras 24 horas e na primeira semana e tiveram três vezes mais perda de sangue e maior tempo de internação. A duração do procedimento também foi maior.
Não houve, porém, diferenças no número de pacientes que sofreram complicações após a operação.
Para especialistas ouvidos, houve um consenso: o estudo foi muito bem conduzido, mas o tempo de acompanhamento dos pacientes foi curto e o número de voluntários poderia ser maior - segundo comentário publicado junto com a pesquisa, foi uma decisão do Comitê de Monitoramento Independente de Dados parar de recrutar mais pacientes após quatro anos, na ausência de diferenças entre os principais resultados.
"Os dados são interessantes, mas não é 'o' trabalho que vai acabar com essa discussão longa. Em congressos de urologia, ninguém aguenta mais esse debate. Chegamos num ponto que quem quer faz, vai da preferência do cirurgião e do paciente", diz Anuar Mitre, do Hospital Sírio-Libanês.
"Sou cirurgião que faz a convencional, a laparoscópica pura e a laparoscópica robótica. A cirurgia é exatamente a mesma, mas as duas últimas são menos invasivas. Pergunta se alguém quer fazer a aberta. Claro que você cria uma concorrência entre médicos que fazem uma ou outra, mas a conclusão do trabalho é que o mais importante é o cirurgião, não a técnica", diz Mitre. "Você não precisa de uma Mercedes no dia a dia, mas tem gente que opta por esses carros e pode pagar por eles", compara.

DIFERENÇA DE PREÇO
A diferença de custo é um dado crucial especialmente na rede pública. Hoje, há 23 robôs para cirurgia no Brasil, sendo três no SUS - o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), o Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Rio, e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre têm um cada.
Estima-se que, nos hospitais de ponta, só a cirurgia aberta custe de R$ 17 mil a R$ 20 mil e a robótica, de R$ 27 mil a R$ 30 mil (sem contar custos como internação). E o próprio robô tem um preço alto: cerca de US$ 3 milhões.
É por isso que o Icesp está fazendo um estudo para não só comparar as duas técnicas mas também para avaliar custo-efetividade da robótica.
"Trouxemos o robô para responder aos ministérios da Saúde e Ciência quanto custa a tecnologia e se vale a pena lançar mão desses recursos", diz William Nahas, coordenador da urologia cirúrgica do Icesp e professor da Faculdade de Medicina da USP.