Mais do que o simples controle de peso, objetivo da grande maioria dos adeptos, a prática regular de atividade física pode prevenir e tratar praticamente todos os problemas que o corpo humano possa vir a ter. É um remédio universal que, como qualquer outro, precisa ser prescrito e bem dosado por quem entende do assunto. Caso contrário, além de não provocar o efeito desejado, pode trazer prejuízos.
O corpo humano foi feito para se movimentar, desde a infância até a velhice. Com tantas comodidades que a tecnologia proporcionou à humanidade – do controle remoto a carros e elevadores –, tornou-se primordial incluir na rotina a prática "artificial" de atividades físicas. Se no início de sua história, o homem corria, pulava, caçava diariamente, por que uma simples caminhada seria suficiente para compensar a falta desses esforços na atualidade?
"Os médicos sugerem caminhadas para todo tipo de paciente. A caminhada é boa, mas não é a melhor opção. Temos inúmeras outras possibilidades. Claro que ‘melhor do que não fazer nada é fazer alguma coisa’, mas fazer qualquer coisa não vai trazer os melhores benefícios", garante o doutor em Educação Física e pesquisador da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Ademar Avelar.
Benefícios esses que vão da prevenção do envelhecimento, diabetes, hipertensão, doença de Parkinson, Alzheimer, problemas cardiovasculares, colesterol e triglicerídeos elevados, osteoporose e inúmeros outros problemas, até o câncer. "Já temos estudos que sustentam que o indivíduo fisicamente ativo tem menor chance de ter 13 tipos diferentes de câncer, incluindo os dois mais prevalentes, que é o de próstata e o de mama", explica Avelar.
Além de prevenir a doença, a atividade física deixa o organismo mais resistente para o caso de ela acontecer. "Esse indivíduo tem mais chance de cura porque vai sofrer menos as consequências da doença, como a caquexia, que é a perda muscular provocada pelo câncer. Logo, as chances de ele ir a óbito são muito menores", afirma.
E para ter os benefícios do exercício não precisa, segundo o pesquisador, treinar como atletas de alto rendimento. Basta combinar diferentes atividades, que sejam as mais adequadas para cada problema que se quer prevenir ou tratar. "O ideal é combinar a musculação com exercícios aeróbicos. Mas é fundamental ter a orientação de um profissional habilitado porque a frequência, o volume e a intensidade dos exercícios são fatores muito importantes nesse processo", alerta.
Segundo o doutor em Ciência do Movimento e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luiz Fernando Martins Kruel, a prescrição do exercício precisa levar em conta a rotina do indivíduo, sua alimentação, sua idade. "Para um jovem, treinar duas vezes na semana é inconcebível porque tem aí um período de recuperação muito longo entre uma carga e outra. Mas um estudo que fizemos com homens acima de 60 anos mostrou que com o treino duas vezes na semana houve um aumento muito maior de massa muscular e de força do que o treino de três vezes na semana", conta.

ALIMENTAÇÃO
Daí a importância da individualização na prescrição de exercícios. E a alimentação tem ligação direta com essa prescrição. Por isso, o Congresso Brasileiro de Metabolismo, Nutrição e Exercício (Conbramene), que é promovido pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e teve sua 6ª edição realizada no início de novembro, integra as três áreas. "Se o indivíduo tem uma restrição dietética muito grande, dependendo qual o tipo dessa restrição, ele vai prejudicar a prática da atividade física. Por exemplo, ele quer ter aumento de massa muscular e isso depende de um processo anabólico. A dieta restritiva promove um processo catabólico, ou seja, ele não vai conseguir o aumento de massa porque não vai ter metabolismo para sustentar o processo anabólico", explica Kruel.
De acordo com a pós-doutora em Metabolismo e nutricionista da Confederação Brasileira de Ciclismo, Michele Caroline de Costa Trindade, o metabolismo desempenha um papel muito importante nessa tríade. "Hoje, temos visto a associação do exercício e da nutrição para buscar determinados objetivos de saúde, melhora da qualidade de vida, estética, redução de gordura corporal, aumento da massa muscular. Mas, muitas vezes, as pessoas querem adotar estratégias de treinamento e de alimentação para as quais o metabolismo delas não está preparado", alerta.
Segundo ela, dependendo da dieta da pessoa, as respostas do organismo no período de recuperação entre um treino e outro são diferentes. Por isso, dietas muito restritivas não são adequadas para quem pratica atividades físicas. "Tudo é permitido na alimentação, dependendo da quantidade que se consome de cada alimento e do horário em que ele é consumido", garante.
De acordo com Michele, a nutrição comportamental já mostrou que é possível ter um corpo legal e saudável comendo até mesmo chocolate e arroz branco. "As pessoas estão buscando tudo o que é integral, o que é legal por causa da presença das fibras que trabalham a questão da saciedade e controlam a absorção de açucares e gorduras. Mas, não precisa amaldiçoar os outros alimentos. Por que uma batata comum não pode ser consumida, por exemplo, num pós-treino? As pessoas ficam só na batata doce", pondera.