Quando a Anvisa fiscaliza os produtos e suspende os lotes, o consumidor não consome. O problema é quando a fiscalização falha e eles chegam à mesa das pessoas
Quando a Anvisa fiscaliza os produtos e suspende os lotes, o consumidor não consome. O problema é quando a fiscalização falha e eles chegam à mesa das pessoas | Foto: Shutterstock



Embalagens bonitas e chamativas, com rótulos extensos e selos de origem, nem sempre são suficientes para garantir a qualidade dos alimentos contidos nas latas, caixas, bisnagas, bandejas ou garrafas dispostas nas prateleiras dos supermercados. Apenas entre os meses de julho e setembro deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu lotes de diferentes alimentos por estarem em desacordo com as regras de segurança alimentar previstas. Queijo ralado, pão de mel falsificado, extrato de tomate, molho de tomate, catchup, peixe congelado, bala e café são alguns dos alimentos que foram tirados das prateleiras recentemente por oferecerem possíveis riscos ao consumidor.
A nutricionista Juliana Dias, pesquisadora da associação de defesa dos direitos de consumidor Proteste, explica que o controle de qualidade é obrigatório em todas as etapas da produção de alimentos industrializados, mas nem sempre as regras são seguidas. O resultado do "descaso" são produtos com pelo de roedores ou restos de insetos acima do previsto pela lei, presença de micro-organismos que podem causar doenças ou mesmo produtos químicos como formol, antibióticos ou agrotóxicos em volume maior que o permitido. Quando a Anvisa fiscaliza os produtos e suspende os lotes, o consumidor não consome. O problema é quando a fiscalização falha e eles chegam à mesa das pessoas.
Juliana esclarece que segurança alimentar envolve risco de perigos microbiológicos, químicos ou físicos. A contaminação de cinco marcas de produtos derivados de tomate por pelos de roedores se enquadra na última classificação. "Outros perigos físicos são insetos, pedras como encontramos no feijão, cabelo e até vidro, muitas vezes decorrente de uma lâmpada que quebrou em local sem proteção", detalha. A pesquisadora esclarece que, há alguns anos, a lei não permitia qualquer quantidade de "matérias estranhas nos alimentos". Em 2014, porém, uma mudança nas regras passou a considerar a presença de "matérias estranhas inevitáveis" nos produtos, em quantidades limitadas.
Conforme nota da assessoria de imprensa da Anvisa, "as matérias estranhas indicativas de risco à saúde humana e indicativas de falhas nas boas práticas não são permitidas nos alimentos. Já as matérias estranhas inevitáveis são aquelas que estão presentes no processo de produção do alimento e se mantêm apesar de todos os procedimentos de boas práticas, onde qualquer ação adicional para tentar excluí-las poderia levar a prejuízos ao alimento e ao consumidor. Para essas matérias se estabeleceu limites de tolerância." Ainda segundo a agência, nenhuma "matéria estranha" pode causar repugnância, ou seja, não pode ser visualizada a olho nu. "O estabelecimento dos limites considera a realidade de cada produto, sua forma de extração, produção e processamento industrial. De toda forma, os limites adotados no Brasil são compatíveis ou mais rígidos na comparação com os países que estabelecem este tipo de referência", explica a nota.
Juliana discorda da flexibilização da lei. "Quando há pelos de ratos, significa que o animal passou pelo local em algum momento. E ratos transmitem doenças importantes, como a leptospirose", critica. Ela comenta que os fabricantes de produtos à base de tomate, por exemplo, justificam que o problema não é na indústria, mas na produção da matéria-prima, sobre a qual não têm controle. "Eles invertem a culpa", diz, lembrando que, na dúvida, o melhor é fazer o próprio molho de tomate em casa. "É mais gostoso e mais saudável."

Biológicos e químicos
Já os perigos biológicos são mais relacionados à higiene, o que inclui manipulação do alimentos, controle de temperatura, contaminação cruzada em equipamentos que não foram limpos corretamente. "Os perigos biológicos decorrem de erros na cadeia produtiva e podem causar vários danos, dependendo do micro-organismo presente", afirma a nutricionista Juliana Dias, lembrando que idosos, grávidas, crianças ou pessoas com problemas de imunidade são os mais vulneráveis a esse tipo de contaminação. "As consequências podem ser desde uma simples diarreia ou vômito até casos graves de paralisia e óbito", comenta.
Juliana esclarece que os perigos biológicos são mais recorrentes em produtos como frango e ovos, suscetíveis à salmonela. "Também há riscos nos pontos de venda, onde condições de temperatura e higiene, por exemplo, favorecem a proliferação de micro-organismos. Como as alterações nem sempre são vistas à olho nu, o ideal é sempre observar as condições do local e a aparência do produto", ensina.
Os riscos químicos mais presentes no mercado brasileiro são o uso de agrotóxicos ou antibióticos acima do volume permitido ou ainda produtos não indicados para a cultura dos legumes, verduras e frutas em questão. "Não há estudos conclusivos, mas indicações de que agrotóxicos em excesso podem causar câncer. Outro risco é o de intoxicação. Já os antibióticos usados indiscriminadamente aumentam o risco de resistência bacteriana", diz.
Por fim, a nutricionista cita que os alimentos industrializados recebem aditivos como corantes e conservantes que, apesar de permitidos, podem fazer mal à saúde. "Na dúvida, o melhor é evitar", defende.