Imagem ilustrativa da imagem SOLIDARIEDADE - Olhos atentos para o outro
| Foto: Saulo Ohara
Há quatro anos, o casal Rosely e Nilson Faria arrecada alimentos para famílias carentes de várias regiões de Londrina: chamado de Deus


Há quatro anos, o casal Nilson de Souza Faria, servidor público estadual, de 56 anos, e Rosely Alves Pereira Faria, servidora pública aposentada, de 57, começou um trabalho solitário de distribuição de cestas básicas para famílias carentes do Conjunto União da Vitória (zona sul de Londrina). Era uma ação tímida, que aos poucos foi crescendo e os dois foram se envolvendo cada vez mais na comunidade.
Atitudes como de Nilson e Rosely, apesar de estarem aumentando no País, ainda são poucas. O casal faz parte dos 11% de brasileiros que desenvolvem algum tipo de voluntariado. Esse dado integra uma pesquisa realizada pela Fundação Itaú Social, em parceria com o Datafolha, e divulgada em 2015.
Foram ouvidas 2.024 pessoas, em 135 municípios brasileiros. Setenta e dois por cento dos entrevistados disseram que nunca participaram de nenhuma ação voluntária, 28% já participaram, mas destes 17% desistiram. A falta de tempo é a justificativa de 42% dos entrevistados que abandonaram as atividades.
Em datas comemorativas, como Natal, Páscoa, Dia das Crianças, o número de pessoas interessadas em fazer boas ações cresce, mas ao longo do ano as entidades carecem de ajuda. "Tem mais trabalho do que pessoas para ajudar. Muitas começam, mas acabam desistindo, porque voluntariado é preciso compromisso, responsabilidade e comprometimento", comentou Daniela Resende Faria, de 38 anos, educadora e fundadora da ONG Centro Voluntário Londrina (CVL), que aproxima entidades e voluntários e também oferece cursos de capacitação profissional.
"As pessoas têm procurado informações. Algumas por questões religiosas, espirituais, por querer servir ao próximo. Os jovens por questões acadêmicas e profissionais. Mas o perfil da maioria é de pessoas maduras, bem encaminhadas profissionalmente ou aposentadas", comentou Daniela.
De acordo com ela, o voluntariado também tem auxiliado pessoas que estão desempregadas, que encontram na atividade uma forma de evitar uma depressão, fazer novas amizades, aprender novas experiências e até fazer contatos para futuras recolocações no mercado.
Ter uma experiência de voluntariado no currículo tem contado pontos na hora de concorrer a uma vaga de emprego. "O voluntariado contribui para desenvolvimento de outras capacidades e é valorizado pelas empresas", afirmou Anna Carolina Bruschetta, coordenadora de Assessoria de Voluntariado da Fundação Itaú Social.
Apesar de a prática estar ganhando cada vez mais adeptos, o Brasil ainda tem muito que crescer. Estatísticas internacionais apontam que em média 37% da população mundial faz voluntariado. Na Europa e na África, esse percentual fica na casa dos 49%.
A pesquisa do Itau Social também mostrou que os jovens não se engajam nessas ações. Oito em cada dez jovens de 16 a 24 anos nunca exerceram atividades voluntárias.
Na opinião de Anna Carolina, isso pode ser reflexo da falta de um incentivo maior por parte da escola, da família e das universidades. "Os grêmios estudantis perderam a força nas escolas. E faz falta alguém que facilite esse primeiro encontro do jovem com as entidades. As universidades poderiam contribuir com isso", disse a coordenadora.
Ela percebe uma evolução no Brasil. "As pessoas tem se engajado, principalmente quando ocorrem grandes catástrofes. Outros exemplos foram a Copa do Mundo e a Rio 2016, que envolveram muitos voluntários. As pessoas querem participar mais", ressaltou.