Valentim de Oliveira, comerciante, toca clarinete na Banda Municipal Santa Cecília desde 1964: "A música te refaz"
Valentim de Oliveira, comerciante, toca clarinete na Banda Municipal Santa Cecília desde 1964: "A música te refaz" | Foto: Ricardo Chicarelli



Para o comerciante Valentim de Oliveira, 82, música é terapia. "A música te refaz. Não dá tempo de ficar nervoso, bravo, ficar falando mal da vida alheia", resume. O morador de Porecatu, a 80 quilômetros de Londrina, toca clarinete na Banda Municipal Santa Cecília desde 1964. Resgatar o histórico do grupo é apenas um dos objetivos do projeto "Memória Coletiva e Patrimônio Cultural em Porecatu". Desde 2008, alunos e colaboradores dos cursos de ciências sociais, história e arquitetura realizam entrevistas com moradores, oficinas em escolas e um levantamento dos bens culturais da cidade para preservar os fatos que marcaram os 70 anos do município.

A intenção do projeto é reunir os depoimentos em um livro que será entregue à prefeitura. Com a mobilização, integrantes do projeto e servidores do município já obtiveram algumas conquistas como a revitalização do museu municipal. O espaço reaberto para visitação ganhou exposições e salas com dezenas de objetos antigos doados pelos moradores.

Prédio do museu foi um dos primeiros imóveis da cidade e chegou a abrigar a prefeitura de Porecatu
Prédio do museu foi um dos primeiros imóveis da cidade e chegou a abrigar a prefeitura de Porecatu | Foto: Ricardo Chicarelli



"Para a população, de uma forma geral, tudo o que está relacionado à cultura é desnecessário, já que há problemas com saúde e educação, por exemplo. Eles não conseguem enxergar que a cultura pode te deixar menos doente e é também parte da educação. A primeira barreira que nós temos aqui é quebrar esse paradigma das pessoas de que a cultura não é importante", ressalta o secretário municipal de Cultura, Marco Antônio Silva.

O prédio do museu foi um dos primeiros imóveis da cidade. Ele chegou a abrigar a prefeitura de Porecatu e tornou-se museu em 1987. O município espera receber doação de fotos, objetos e fitas de vídeo com imagens antigas para incrementar o acervo. Alunos da UEL vão ajudar a sistematizar o material. A reativação do cinema de Porecatu também faz parte dos planos da equipe. No entanto, o espaço é de propriedade particular.

"O projeto é importante para que se possa entender a produção cultural de uma cidade e as diferentes memórias. Se não houver essa reconstituição, você perde muito daquilo que foi produzido. O projeto é importante não só para preservar, mas também para notabilizar segmentos da sociedade que nunca foram notabilizados. A história oficial está aí, mas temos a possibilidade de ampliar essas versões", afirma a coordenadora do projeto, professora Deise Maia.

Coordenadora do projeto, Deise Maia, e secretário de Cultura de Porecatu, Marco Antônio Silva no interior do museu: intenção é resgatar história e patrimônio cultural do município
Coordenadora do projeto, Deise Maia, e secretário de Cultura de Porecatu, Marco Antônio Silva no interior do museu: intenção é resgatar história e patrimônio cultural do município | Foto: Ricardo Chicarelli



Enquanto visita o museu, Oliveira relembra fatos marcantes da banda municipal. "Quando toquei pela primeira vez senti um pouco de fraqueza nas pernas porque não estava acostumado com isso, e me senti muito empolgado porque as pessoas ficavam me ouvindo", conta. A banda composta por 14 pessoas ensaia hoje no prédio da Câmara.

Na década de 1960, o grupo tocou nas rádios Tupi e Bandeirantes em São Paulo. Mas foi quando o ex-presidente Ernesto Geisel desembarcou em Porecatu na década de 1970 que o coração do músico bateu mais forte. "Ele saiu do avião e os integrantes tocaram o Hino Nacional. Ficamos ali, na pista do aeroporto. O avião do Exército que trouxe. A gente já estava sabendo o que ia acontecer. Tocamos depois para prefeitos e governadores em eventos da região", lembra. "Esse projeto é ótimo. É preciso resgatar a memória porque, é como dizem, ‘recordar é viver’ e tem gente que não sabe de nada que aconteceu aqui", conclui. (V.C.)