O suspiro no retorno ao lar nem sempre é de alívio para as vítimas traficadas. Em alguns casos, a volta para casa é só o começo de uma segunda etapa de superação. Quem foi alvo do crime precisa da aceitação da família. No entanto, para muitos parentes, a culpa por ter sido traficada é da própria vítima e o convívio familiar se torna cada vez mais difícil, principalmente nos casos de exploração sexual. "A pessoa que já esteve nessa situação, querendo ou não, retorna para casa como se tivesse um código de barras na testa. Ela volta discriminada pela própria família, pela sociedade, pelas pessoas que estão em volta. Muitas vezes, elas chegam a fazer a opção de retornar para esse tipo de trabalho para não dependerem mais financeiramente e psicologicamente de ninguém", afirma a coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Paraná, Silvia Cristina Xavier.
A falta de auxílio especializado após o trauma pode acarretar situações imprevisíveis. Silvia exemplifica o caso de um paranaense de 15 anos que recebeu proposta para trabalhar no sudeste do País. A família autorizou. No entanto, se tratava de trabalho análogo à escravidão. "Ele vendia CD pirata na rua. Passou um mês sem ter o que comer e nem onde dormir. Procurou o Conselho Tutelar que fez o contato conosco", lembra.
Na volta, o adolescente passou dias sem sair do quarto por vergonha e medo de reencontrar o aliciador, que continuava no bairro. Quando conseguiu sair de casa, o garoto praticou vários crimes e foi apreendido. "Ele não teve acompanhamento. Precisava voltar mais forte do que era e caiu na criminalidade. Foi a maneira que ele encontrou para se defender. Encaminhei relatórios, conversei com as autoridades, mas não consegui salvar esse menino por conta da falta de atendimento na volta para a casa", lamenta a coordenadora do núcleo.(V. C.)