O Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas), localizado no prédio da antiga UBS (Unidade Básica de Saúde) do conjunto Milton Gavetti (zona norte) é a única unidade de saúde especializada em atender os dependentes de álcool e drogas em Londrina. Em todo o Estado, são apenas 24 unidades de Caps-AD. Em recente entrevista à FOLHA, o diretor da APPSIQ (Associação Paranaense de Psiquiatria), Ricardo Assmé, questionou os resultados obtidos pelo modelo do Caps, de tratamento aberto, sem internação. Segundo ele, o procedimento de redução de danos não tem surtido o resultado esperado e é preciso haver uma maior discussão em torno do tema para encontrar uma solução para o problema.

A coordenadora do Caps-AD de Londrina, Rafaela Silani, apresenta outra análise. "O problema é que o Caps-AD deve fazer parte de uma engrenagem, de uma rede mais estruturada, mas o que acontece é que as unidades acabam absorvendo toda a demanda existente, pacientes com diferentes diagnósticos. Assim não funciona como deveria", rebate. Mesmo sem ter uma estatística pronta, ela expõe que o Caps-AD de Londrina tem uma taxa "considerável" de sucesso no tratamento. "Temos muitos exemplos de superação aqui dentro. É claro que existem casos mais complexos que só podem ser resolvidos com a internação", admite.

De acordo com Silani, o tratamento tem foco na psicologia, serviço social e terapia ocupacional. "Os pacientes contam com uma equipe multidisciplinar que procura resgatar o convívio social, laços familiares. Para isso, a pessoa precisa perceber o prejuízo causado pelas drogas", comenta. Um das atividades mais produtivas, segundo ela, é fazer o paciente redescobrir o que a cidade tem a oferecer. "É preciso substituir o prazer da droga, resgatar a autoestima. Um simples passeio no parque ou no shopping surte grande efeito", detalha.

"Não vou te dizer que estou totalmente limpo, mas estou com um forte propósito", garante Solano Leite
"Não vou te dizer que estou totalmente limpo, mas estou com um forte propósito", garante Solano Leite | Foto: Fotos: Saulo Ohara



O Caps-AD de Londrina tem capacidade máxima de 40 pessoas no turno da manhã e mais 40 durante a tarde. A procura, segundo Silani, é bem maior que a unidade pode atender. R.S, 44, é um dos frequentadores. Ele teve o primeiro contato com as drogas dentro da prisão em Londrina, enquanto cumpria pena por homicídio. "A cocaína era de vez em quando, já a maconha era sempre", lembra. Depois de ganhar liberdade, não sentiu falta das drogas ilícitas, mas se afundou no álcool. "Só procurei ajuda quando minha mulher me fez escolher entre o álcool e ela. Não via o quanto isso me prejudicava. Há três meses aqui tudo mudou. Estou gostando muito", elogia.

"Não pode parar de uma vez. Estou tirando aos poucos", declara Mauro Borges Soares
"Não pode parar de uma vez. Estou tirando aos poucos", declara Mauro Borges Soares



Solano Antônio Rodrigues Leite, 54, frequenta o Caps-AD há três meses. Teve três recaídas, mas garante que dessa vez está disposto a ir até o fim do tratamento. "Não vou te dizer que estou totalmente limpo, mas estou com um forte propósito. Tive três recaídas, mas desta vez sinto que é diferente, quero ter uma velhice saudável. Larguei duas faculdades, só tive prejuízos", revela. Leite diz que hoje as pessoas têm mais informação sobre os malefícios das drogas. "Eu faço parte de uma geração que cresceu nos anos 1970 sob uma forte apologia ao uso das drogas. Fazia parte da cultura da época. Aos 17 anos eu conheci a cocaína. A partir daí usei tudo o que você possa imaginar. Naquela época isso era legal, mas hoje muita gente se arrepende", expõe.

O crack é uma das poucas drogas que Mauro Borges Soares, 47, nunca experimentou, mas ele acredita ser tão nociva quanto o álcool. "Antes mesmo de vir pra cá, tive que passar no boteco e tomar uma [dose de pinga]. Não sei se você percebeu", diz, apontando para boca em referência ao cheiro forte característico da bebida. "Não pode parar de uma vez. Estou tirando aos poucos. Para quem já chegou a tomar duas garrafas por dia, isso já é motivo para festejar", declara. Difícil mesmo para Soares é resistir às tentações pelo caminho. Na esquina de frente para o Caps-AD, um bar vende bebidas desde as primeiras horas da manhã. "Estamos nos articulando para a aprovação de uma lei que impeça o funcionamento desses estabelecimentos a uma distância mínima das unidades de saúde, assim como funciona com as escolas", conta Silani.

Confira vídeo, utilizando aplicativo capaz de ler QR Code e posicionando no código abaixo: