Autor do livro Viver é a Melhor Opção – A prevenção do suicídio no Brasil e no Mundo, o jornalista carioca André Trigueiro afirma que a melhor forma de prevenir o autoextermínio é abrir um canal de comunicação, despertando a confiança da pessoa que se encontra em sofrimento e, se for necessário, sugerir acompanhamento com um especialista. Julgar, recriminar ou tentar convencê-la de que o suicídio não é uma saída para as dificuldades não é o caminho mais adequado, alerta.
Na produção do livro, lançado em maio de 2015, Trigueiro reuniu relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde que apontam que a depressão é a psicopatologia mais fortemente associada ao risco suicida, mas que 90% dos casos de suicídio são preveníveis por estarem associados a patologias de ordem mental que são diagnosticáveis e tratáveis. A clareza nas informações, defende o autor, é a forma mais eficaz de se prevenir esse tipo de morte.
Trigueiro destacou que os dois casos de suicídio registrados no início da semana passada no Rio de Janeiro e em São Paulo envolvendo pais que resolveram provocar a morte de familiares antes de abreviarem suas vidas por problemas financeiros devem ser olhados com cuidado porque não é possível alegar uma única causa como responsável pelo autoextermínio.
Trigueiro chama a atenção para o fato de que o morador da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, que teria se suicidado após matar a mulher e os dois filhos por enfrentar dificuldades financeiras, teria testemunhado o suicídio da própria mãe, além de ter outros casos na família. "Isso remete a uma outra questão. O suicídio não é contagioso, não é hereditário, mas esse episódio, quando ocorre em família, inspira atenção porque fica a memória de que isso aconteceu e pode inspirar cuidados para que aquilo não vire uma influência ruim nos momentos de dificuldade."
Estudos acerca do tema apontam que a quantidade de amor, afeto, carinho, colo e atenção dos pais ou responsáveis no período que vai de 0 a 7 anos de idade é determinante para a saúde emocional do indivíduo. Essa teoria não permite afirmar que quem não teve essa nutrição emocional nos primeiros anos de vida é um suicida em potencial, mas é fato que quem não recebeu todos esses cuidados e atenção na infância tem maiores riscos de se sentir mais vulnerável e fragilizado e de não conseguir responder adequadamente diante de situações difíceis que a vida apresenta. A complexidade dos problemas, para essas pessoas, tende a ser maior, elevando as chances de cometer suicídio.
Assim como a base emocional influencia no modo de enfrentamento das adversidades, a falta de crença em uma força superior também contribui para elevar as taxas de suicídio. Seguidor da doutrina espírita, durante o levantamento de informações para o livro Trigueiro encontrou pesquisas que comprovam que o número de ocorrências é maior entre materialistas, ateus e agnósticos. (Simone Saris/Reportagem Local)