Nos dias seguintes ao escândalo que atingiu o presidente da República, Michel Temer, as incertezas sobre o cenário político nacional ainda são grandes. Os setores da sociedade se organizam para traçar estratégias de como agir diante do turbilhão que tomou conta do País. No centro da discussão, entidades de classe, associações e centrais sindicais analisam os reflexos do ocorrido.

A seccional do Paraná da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) saiu na frente e, na quinta (18) emitiu nota pedindo a renúncia de Temer. Já nesta sexta (19), o presidente da OAB-PR, José Augusto Araújo de Noronha, disse à FOLHA que o conselho federal das OABs convocou uma reunião de emergência para às 15 horas deste sábado, em Brasília, para analisar o caso. "Sem fazer caça às bruxas, queremos uma resposta convincente de tudo o que se foi divulgado pela mídia e que agora foi liberado pela Justiça", disse.

Noronha ponderou o discurso e admitiu que é preciso cuidado para não piorar a situação do País, mas adiantou que o órgão deve agir com firmeza no caso. "É preciso cuidado pois passamos por uma crise e os desdobramentos podem atrapalhar o ambiente de negócios, mas estamos muito atentos ao nosso dever de defender a Constituição se entendermos que houve violação ao que foi jurado", ressaltou. "A análise será técnica e, se comprovado o cometimento de crime de responsabilidade, vamos agir exatamente da mesma forma como fizemos nos casos dos ex-presidentes Collor e Dilma Rousseff", completou.

O presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Cláudio Tedeschi, considera o escândalo como uma continuação do que já vinha ocorrendo no País nos últimos anos. Ele ainda vai além. "Desde Dom João VI, o país tem uma cultura patrimonialista que mistura o público com o privado. Recentemente, essa história está sendo passada a limpo, com o padrão do que era considerado normal sendo questionado", argumentou.

Para Tedeschi, no entanto, o momento exige serenidade e não há espaço para invenções ou pirotecnia. É necessário serenidade para não comprometer a economia. Temos um país com 14 milhões de desempregados. O drama maior é a fragilidade econômica que se reflete no trabalhador não poder o sustento para casa", argumenta.

Ele defende que as reformas trabalhista e da previdência devem continuar em pauta e ser aprovadas, independentemente do que ocorrer na Presidência. "A economia tem que voltar a rodar. A maior tragédia será interromper a reforma de nossa economia. Temos que seguir o que prevê a Constituição. Não há espaço para eleições diretas não previstas na Carta Magna. Precipitações e discursos inflamados não resolvem nada", opina.

Por outro lado, as centrais sindicais defendem as eleições diretas e condenam as reformas. Regina Perpétua Cruz – diretora estadual da CUT-PR (Central Única dos Trabalhadores), define o que ocorreu como o "golpe dentro do golpe". "Defendemos as eleições diretas. Que tenha um novo pleito e que o povo escolha seu novo representante legítimo. Aí sim, o governante terá legitimidade, independentemente que seja de direita, de esquerda, ou de centro. O que não pode ocorrer é a eleição indireta, com um Congresso que não tem condições para decidir o futuro da nação", critica.

Márcio André Ribeiro, presidente da APP Sindicato em Londrina e representante do Coletivo dos Sindicatos de Londrina, informou que uma reunião de emergência foi organizada na manhã desta quinta em Londrina. "No nosso encaminhamento, defendemos as Diretas Já. Não há a menor possibilidade de sustentação desse governo. Já não havia sustentação popular. Agora, também não há sustentação política."

A reportagem procurou ainda a Fecomercio-PR (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná), mas foi informada que o presidente não conseguiria atender a reportagem até o fechamento da edição. A Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) também foi procurada, mas não retornou as ligações.