O aumento no número de divórcios não significa que haja uma descrença no casamento. Ao contrário, a tendência é explicada porque as pessoas estão casando mais de uma vez ao longo da vida. "As pessoas ficam em um relacionamento apenas porque desejam, ninguém mais continua casado por necessidade", pontua a psicóloga Ana Maria Addôr, especialista em terapia familiar e de casais sistêmica e supervisora da Clínica de Psicologia da Unifil.
Segundo ela, ao contrário do que ocorria no século passado, as mulheres trabalham, são capazes de se sustentar e os homens também conseguem cuidar da rotina doméstica sozinhos. Essa redefinição dos papéis incentiva as pessoas a continuarem casadas apenas quando gostam do outro e enxergam parceria no relacionamento. "Isso é bom, porque as pessoas estão casando pelos motivos certos: por companheirismo, para formar uma família... Ao contrário de outros tempos, quando as pessoas casavam por necessidade, por medo de ficar sozinha ou para sair de casa. Esses são motivos errados", considera.
Ana também discorda quando dizem que o divórcio ocorreu porque o casamento "não deu certo". "Muitas vezes foi um bom casamento, mas as pessoas mudam e decidem pelo fim do relacionamento", diz. Para ela, quando não há mais chances de manter a relação, é importante iniciar o processo de separação enquanto ainda há amizade e respeito entre o casal. A separação realizada com mágoa, raiva e tristeza é mais sofrida. Além disso, dificulta manter uma relação entre pais", lembra.
A terapia de casais é uma opção para as pessoas que gostariam de manter o casamento apesar das dificuldades. No processo, é possível revitalizar a relação, desde que haja desejo dos dois envolvidos. "É preciso haver cumplicidade, admiração... Até mesmo a infidelidade pode ser trabalhada, quando o infiel escolhe o casamento", afirma, destacando que continuar casado é sempre uma escolha. "As pessoas mudam, os filhos chegam e se o casal não conversa, não cuida da relação, o casamento acaba não indo para frente. Mesmo os casamentos felizes precisam ser trabalhados", avalia.
Falar sobre os incômodos, aceitar o jeito do outro, manter a admiração e sobretudo respeitar a liberdade e o espaço individual de cada um são atitudes necessárias para manter uma relação saudável.
Se a separação for inevitável, a terapia de casais ou familiar também é um caminho para que o processo seja um pouco menos doloroso. Com a intermediação de um profissional, é possível trabalhar a mágoa e a raiva, o que minimiza inclusive o sofrimento dos filhos. "O vínculo de pai e mãe é para sempre, é muito importante continuar mantendo a mesma rotina com os filhos. Eles passam a ter uma família binuclear, com duas casas, mas afeto não é para demonstrar a cada 15 dias", argumenta.
Ana Maria também observa que a pessoa que decide pela separação costuma sofrer menos. "Já aquele que não quer se separar pode sofrer mais. Neste caso vale a pena procurar terapia individual, inclusive porque o processo pode levar à depressão", considera.
Passada a fase "crítica" de um processo de divórcio, a psicóloga acredita que é possível manter a amizade, o que é muito importante para os casais que têm filhos. "Passado o período de adaptação à nova vida, a relação cordial entre os dois deve continuar", comenta. (C.A.)

Serviço: A Clínica de Psicologia da Unifil atende gratuitamente casais ou famílias que precisam de acompanhamento. Informações: (43) 3375-7551.