Imagem ilustrativa da imagem Descaracterizado, projeto de reurbanização do centro completa 40 anos



Um dos principais cartões-postais de Londrina, o Calçadão completa 40 anos em 2017. Do fechamento do tráfego de veículos, na Avenida Paraná, em março de 1977, até o término da reurbanização do centro, em dezembro, foram nove meses de obras. A intenção era minimizar o impacto dos carros e tornar o centro mais humanizado. À medida que a cidade modernizou sua infraestrutura, deixando para trás o lamaçal que tomava conta das ruas, outros problemas surgiram. No início da década de 1970, o tráfego de veículos na região já era considerado exagerado.

A primeira experiência ocorreu no último ano do governo do prefeito José Richa, em 1976. Após alguns "ensaios" na Avenida Paraná, entre as ruas Pernambuco e Professor João Cândido, a prefeitura determinou o fechamento permanente da Praça Gabriel Martins, no mesmo trecho, na área onde hoje está localizada o ponto de táxi da Pernambuco. Mas foi em 1977, que foi decidido que todo o centro passaria por uma reurbanização.

Para a coordenação do projeto, foi escolhido o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, prefeito de Curitiba entre 1971 e 1975 e responsável pela construção do Calçadão da Rua XV de Novembro, a primeira rua de pedestres do País (1972). Além do Calçadão da Avenida Paraná, o projeto contemplou ainda o Bosque, e as praças Willie Davids, Primeiro de Maio e Sete de Setembro. O anel central foi dividido em seis setores. A região da Praça Gabriel Martins, já fechada para pedestres, foi considerada o coração da cidade e ganhou o nome de Cuore (coração, em italiano). Ali era o ponto de maior aglomeração das pessoas e que ganhou a maioria dos quiosques.

Descaracterizado, projeto de reurbanização do centro completa 40 anos
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O trecho da Praça Marechal Floriano Peixoto, ao lado da Catedral Metropolitana, originalmente foi destinado ao artesanato. Já a Praça Willie Davids, primeira a ser criada em Londrina, ficou reservada ao comércio. A Praça Sete de Setembro foi reservada ao lazer, enquanto a Primeiro de Maio, com a Concha Acústica, à recreação. Por fim, o Bosque - que se livrou do terminal urbano de ônibus - foi atrelado à cultura. O projeto original foi orçado em 16 milhões de cruzeiros.

O aposentado Arnaldo Camilo, de 72 anos, lembra que, nos primeiros dias após o fechamento da Avenida Paraná para os veículos, os frequentadores ainda faziam a travessia receosos. "As pessoas olhavam para os dois lados para ver se não vinha carro. O povo só foi se acostumar depois de um mês, mais ou menos", conta. Em março de 1977, a prefeitura fechou a avenida colocando manilhas para impedir o tráfego. Nos meses seguintes, a pavimentação deu lugar ao petit pavet em preto e branco.

Quarenta anos depois, o projeto original sofreu várias descaracterizações. A mais impactante foi no Calçadão, com a troca do petit pavet pelo paver, em 2011. O único trecho conservado com o piso original, na quadra do Cine Teatro Ouro Verde, enfrenta má conservação. Seis anos antes, o alvo foi o coreto da Avenida Paraná, que foi demolido. No local, está instalado um chafariz. Por fim, o Bosque sofre com a sujeira provocada pelos pombos.



O engenheiro Romeu Dematté Junior, secretário municipal de Obras à época da reurbanização, lembra que o projeto enfrentou a resistência de comerciantes. "Muitos foram contra. Fizeram pressão, achando que sem os carros passando em frente das lojas iriam perder visibilidade. Mas, alguns meses depois, vieram nos agradecer", lembra.

Dematté Junior lamenta os vários processos de descaracterização do projeto original. "Logo no início, o espaço que era para ser ocupado por floriculturas, quiosques e cafezinhos já foi alterado. Abriram até para restaurantes. Depois, com a troca do piso, mataram o Calçadão", critica. "O petit pavet é um piso nobre, usado em todo o mundo e bem superior a esses industrializados, só que é claro, precisa de manutenção", argumenta. Para ele, o Calçadão precisa voltar às raízes. "Temos que retornar com os quiosques, mas aquilo que foi construído lá recentemente é muito feio", opina.

Comerciantes também lamentam. Fernanda Boechat, que faz parte da quarta geração da Bolivar, conta que a loja está no mesmo endereço desde 1946, 31 anos antes da criação do Calçadão. E que a obra foi recebida com muita alegria à época. "Este trecho passou a ser uma grande área de lazer para famílias e turistas, com inúmeros eventos aos fins de semana, com artistas, musicais, restaurantes, sorveterias e cafés. Foi o maior polo comercial da cidade."
"Hoje, infelizmente, muito daquele brilho se perdeu, árvores e banheiros foram extintos, quiosques de qualidade e atrativos eliminados, o teatro e cinema inativos. Muitos eventos e projetos de entretenimento bloqueados, isso sem contar na falta do patrulhamento, o que ocasionou na extinção e degradação também dos mobiliários e floreiras das praças", expõe.

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‘Renovação para se tornar atração urbanística’
Secretário de Planejamento na gestão do então prefeito José Richa, João Baptista Bortolotti diz que o Calçadão precisa de uma renovação para se tornar uma atração urbanística. "Achei os novos quiosques horríveis. Poderia ter uma nova proposta, melhor e mais confortável para quem usa e para quem trabalha por lá. Não é para encher o Calçadão todo com quiosques. É preciso deixar áreas lives e abertas, pois isso aumenta a visão e a segurança para a população. Estão faltando equipamentos e uma nova proposta urbanística para a população curtir. O grande problema é que o espaço foi ocupado por lojas e bancos, e isso faz o centro morrer depois das 18 horas", compara.

"Se mantiver ali só para comércio e serviços bancários, permanecerá morto. Tem que ter outras coisas, espaços para happy hour depois do trabalho, deixar esses espaços abertos até as 22 horas ou até a meia-noite. Acho que falta o poder público trabalhar em cima disso, dando incentivos e isenção de impostos para outras atividades", argumenta.

Bortolotti foi diretor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (Ippul) entre 2007 e 2008. Naquela época, relata, fez uma proposta de macrozoneamento e renovação da região das ruas Santa Catarina, Uruguai e Brasil. "Para renovar aquela região precisamos fazer um novo centro, expandindo o Calçadão e ligando aquela área até o Teatro Municipal. Temos outra proposta futura para Londrina para renovar a área, que está estagnada. Deveriam ser construídos prédios em uma nova proposta urbanística, mas não com uma torre colada na outra", conta.

A ideia de implantar o Calçadão em Londrina, aponta, surgiu porque na época Curitiba já tinha construído o seu e surgiram vários movimentos na cidade pedindo a implantação.
"Como arquiteto eu tenho uma formação humanista. Naquela época tinha muitos atropelamentos e tirar o carro para deixar o pedestre era uma ideia atrativa. Fiquei muito contente quando o projeto foi implantado, porque o que a gente estava pensando estava certo", celebra.

De acordo com o arquiteto, logo no primeiro dia que a rua foi fechada aconteceu uma espécie de "alforria". "Vimos crianças brincando. Era um outro centro de Londrina", relembra. Mesmo que no asfalto, sem nenhum piso especial, muitos eventos foram realizados no espaço. "Tinha ruas de recreio, apresentações. Os comerciantes, que inicialmente eram contra, observaram que houve um aumento da movimentação e passaram a aceitar a ideia." (V.O.)

Cafés e margaridas projetados por um grego

O arquiteto grego Panayote Saridakis desenhou o projeto piloto do Calçadão
O arquiteto grego Panayote Saridakis desenhou o projeto piloto do Calçadão | Foto: Gustavo Carneiro



O arquiteto grego Panayote Saridakis, conhecido como Tákis, desenhou o projeto piloto do Calçadão. A técnica utilizada para fazer o piso foi a do concreto pintado, decorado por desenhos coloridos de cafés e margaridas. Ele revela que naquela época já existia o Calçadão da Rua XV de Novembro, em Curitiba, projetado por Jaime Lerner. O que foi inédito na época foi o fato de Richa ter orientado a equipe a fazer testes para verificar a aceitação do público, antes de implantar a mudança. As ruas do centro foram fechadas por mais de um mês para que a população se acostumasse com a novidade.
"A gente ia até a Rodoviária e fazia enquetes com a população flutuante também", relembra. "Eu já conhecia as 'walking streets' da Inglaterra, onde estudei Arquitetura, em Manchester; e da Grécia, de onde sou, e foi lá que estudei construção civil, na Escola Técnica de Atenas. Para fazer o projeto piloto do Calçadão, discuti os detalhes com o engenheiro civil Luiz Oguido e levamos dois meses para elaborá-lo", revela.

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Os desenhos de cafés na Avenida Paraná foram redescobertos durante a reforma feita em 2011, quando foi retirado o petit pavet. Em seguida, o piso antigo também foi removido para a colocação do atual paver. Tákis conta que não chegou a ver o espaço reformado por não vir mais ao centro da cidade por conta de problemas de saúde.

Ele conta que a área projetada inicialmente tinha 1,5 mil metros quadrados. O projeto previa a implantação de coberturas para abrigar a biblioteca infantil, engraxates, casa lotérica, telefones públicos e bancas de jornais. "Quando mostramos o projeto para os motoristas de táxi, que trabalhavam na Avenida Paraná, eles não gostaram da posição do ponto deles", relembra.

Mesmo com a aprovação da população, devido a esse impasse, houve dificuldades para colocar o projeto em prática. "Chegamos a colocar cones ali para impedir a passagem, mas os taxistas tiravam. Até que combinei com o Oguido que iríamos ao local com duas equipes, munidas de marretas, pás e picaretas, às 6 horas da manhã, porque era um horário não teria nenhum taxista, e quebramos buracos com distâncias de um metro", relembra. Com os buracos, os taxistas não puderam acessar o antigo ponto.

A opção pelo concreto pintado foi em função da rapidez e do baixo custo. "Quando vi tudo pronto fiquei muito feliz. Mas logo depois houve a troca de administração e o Jaime Lerner realizou um outro projeto para o Calçadão. Fiquei triste quando substituíram o piso pelo petit pavet, pois ficou muito mais monótono. O concreto colorido era muito mais bonito", aponta.