Segundo os dados do MPT (Ministério Público do Trabalho), 91% dos trabalhadores resgatados da escravidão entre 2003 e 2017 nasceram em municípios com IDH-M (Índice de desenvolvimento Humano Municipal) considerado muito baixo, levando em consideração dados de 1991. Após duas décadas - considerando o IDH-M de 2010 -, a análise revela que 32% desses municípios continuaram apresentando índices baixos ou muito baixos de desenvolvimento humano. Em 1991, o IDH-M de Wenceslau Braz, por exemplo, era considerado muito baixo, em 2000 passou para baixo, e em 2010 atingiu o nível médio, ainda longe das condições ideais.

O principal entrave para o desenvolvimento local é a renda, reflexo da falta de emprego. De acordo com o atual prefeito de Wenceslau Braz, Paulo Leonar, quase a totalidade dos atendimentos que realiza na cidade é referente a pedidos de emprego. "Temos recebido centenas de pessoas no gabinete e eu posso dizer que 98% delas estão em busca de emprego. Precisamos mudar esse panorama", analisa. Ele credita a situação ao deficit de postos de trabalho no município, que não teve políticas voltadas para este setor nos últimos anos.

O caso dos trabalhadores de Wenceslau Braz não é o único no Norte Pioneiro, região que, apesar de avanços recentes, ainda figura entre as mais pobres do Estado. Recentemente, o dono de uma fazenda em Valença, no sul do Rio de Janeiro, foi condenado a sete anos de prisão por aliciar 30 trabalhadores de Ibaiti, em 2003. Atraídos pela promessa de salário acima do que ganhavam no Norte Pioneiro, eles foram trabalhar em uma fazenda de café. Quando chegaram, receberam funções que não estavam no acordo. Pediram um salário maior pelo trabalho extra. O proprietário da fazenda negou e não quis pagar a viagem de volta, dizendo que tinham que trabalhar para custear o transporte.

Quando a inspeção do MPT chegou, encontrou os homens magros. Estavam havia dias sem receber refeições, se alimentando de peixes que pescavam em um riacho. Os alojamentos eram casebres sem água potável ou energia elétrica e eles dormiam sobre folhas de bananeira.
O observatório do MPT aponta que as piores situações de pessoas aliciadas pelo trabalho escravo no Paraná estão concentradas no Vale do Ribeira e no Centro-Sul. Palmas, General Carneiro, Bituruna, Guarapuava e Pinhão, todas no Centro-Sul, são as principais cidades de origem dos trabalhadores resgatados pelo País. "O assédio ocorre de maneira muito mais eficaz em regiões de baixo IDH, onde o trabalhador não tem esperança de um cenário melhor.

Aí ele sobe no primeiro caminhão que encontra, sem saber o que vai encontrar", diz Heiler Natali, procurador do MPT em Londrina.