O então governador Roberto Requião (sem partido) relembra que foi dele a iniciativa para abrir os arquivos e extinguir a Dops (Delegacia de Ordem Política e Social) no Paraná, durante seu primeiro mandato como chefe do Executivo estadual (1991-1994). Entre os dossiês individuais constam os de várias personalidades paranaenses como, por exemplo, o próprio Requião. “Fui eu que abri os arquivos e passei todos para a Casa da Memória. Eu achei dentro do cofre que tinha lá atrás do gabinete as denúncias do Paulo Pimentel para os militares sobre os comunistas no governo e fui lá na sede da Dops [na Rua João Negrão, no centro de Curitiba], e descobri que tinha um disfarce na parede embaixo da rua. Tinha uma escavação, com celas fechadas que não tinham ventilação. As celas ficavam atrás de uma simulação de armários. Era ali que eram torturadas as pessoas, guardadas naquele buraco embaixo da rua.”

O então governador Roberto Requião relembra que foi dele a iniciativa para abrir os arquivos e extinguir o órgão, em seu primeiro mandato como chefe do Executivo estadual.
O então governador Roberto Requião relembra que foi dele a iniciativa para abrir os arquivos e extinguir o órgão, em seu primeiro mandato como chefe do Executivo estadual. | Foto: Arquivo Público

“A minha ficha era absolutamente ridícula, dizendo barbaridades. Tinha a minha fotografia e 500 anotações feitas por idiotas, dizendo que eu era comunista. Eu nunca fui do Partido Comunista nem de coisa alguma disso. Eu também encontrei a ficha do meu avô, que era o gerente da estrada de ferro em Curitiba. Só tinha besteira, completamente fora do razoável.”

“A minha ficha era absolutamente ridícula, dizendo barbaridades."
“A minha ficha era absolutamente ridícula, dizendo barbaridades." | Foto: Arquivo Público

Ele relata que, antes de abrir os arquivos, olhou tudo. “Todo aquele material passou pela minha mão antes. Essa decisão de abrir tudo, eu tomei no dia que assumi o governo. Era uma decisão tomada por antecipação, uma coisa que não merece hesitação, porque aquilo foi um anticomunismo medíocre, bem barato.”

Requião afirma que depois não teve mais curiosidade de ir no arquivo público para olhar mais detalhadamente as fichas. “Naquele momento ninguém tinha coragem de criticar o meu ato, porque eu estava no governo do estado. Todo mundo era puxa-saco do governador e vivendo de pixuleco. Teve um momento que o Brasil inteiro estava contra isso. Eu mandei para os arquivos da história e não utilizei aquilo como instrumento político de agressão a ninguém. Tornei público.”

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