A eleição de José Orcírio dos Santos o Zeca do PT, com 61,3% dos votos válidos no Mato Grosso do Sul, impôs uma dupla derrota ao PSDB, partido do presidente Fernando Henrique Cardoso. Além da ‘‘transferir’’ para o petista os 62% dos votos obtidos pelo presidente no primeiro turno, o resultado mostrou que o candidato tucano, Ricardo Bacha, não conseguiu se livrar da suspeita de ter utilizado dinheiro público na sua campanha.
Os recursos seriam parte dos R$ 75 milhões que ele, como secretário de Fazenda, entregou à empreiteira Andrade Gutierrez, no último dia do ano passado, como pagamento de precatórios. A suspeita cresceu nos últimos dias, com a divulgação de que esses recursos foram repartidos em três cheques, e não apenas um como seria normal. Bacha obteve 38,7% dos votos. A auto-defesa do candidato, ao longo de toda a campanha, não conseguiu evitar a propagação no Estado de plásticos adesivos pedindo o fim da ‘‘baicharia’’.
Zeca do PT anunciou que vai apurar a destinação do dinheiro obtido com a venda da Enersul, companhia energética do Estado, de onde saíram os R$ 75 milhões, nos primeiros dias de seu governo. A situação de Bacha complicou-se com a nota que seu colega de partido, senador Lúdio Coelho (MS), publicou ontem num jornal do Estado.
Senador que tem marcado sua atuação política pelo equilíbrio nos gestos e declarações, Lúdio explica no texto por que se ausentou da campanha de Bacha. ‘‘Não participei da campanha para não agredir minha formação de homem público e de cidadão’’, afirma ele. ‘‘Fiquei fora da campanha porque os recursos financeiros se sobrepunham à vontade da população na escolha do candidato ao governo’’.
Lúdio conversou com Zeca logo que saíram os primeiros resultados da pesquisa de boca-de-urna. Ele se comprometeu a facilitar os entendimentos entre o petista e o presidente FHC. É o segundo apoio ‘‘conservador’’ obtido pelo futuro governador.
O primeiro a se manifestar, sem o qual dificilmente ele se elegeria, foi o ex-governador Pedro Pedrossian, derrotado no primeiro turno da eleição. Ainda esta semana, Zeca vai dizer ao governador Wilson Martins (PMDB) que deseja fazer um governo aberto, sem nenhum tipo de animosidade com as lideranças locais. ‘‘Queremos uma transição e um governo sem traumas’’, explicou o deputado federal eleito, Ben-Hur (PT), o mais votado do Estado. ‘‘Vamos tentar amarrar, a partir de agora, todo o tipo de apoio que possa ser útil a Mato Grosso do Sul’’.
A eleição de um sindicalista é a primeira surpresa política nos 21 anos do Estado. Até agora o cargo tem sido ‘‘privativo’’ de fazendeiros, como aliás são todos os ‘‘caciques’’ do Estado.