Mais votado em 2014 com 300 mil votos, Ratinho Jr. (PSD) tem procurado se "descolar" da imagem do político tradicional
Mais votado em 2014 com 300 mil votos, Ratinho Jr. (PSD) tem procurado se "descolar" da imagem do político tradicional



Curitiba – De volta à Assembleia Legislativa (AL) do Paraná após quase quatro anos na Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (Sedu) e mais sete na Câmara Federal, o deputado estadual Ratinho Jr. (PSD) se prepara para o desafio mais difícil de sua carreira política. Em 2018, aos 37 anos, ele pretende suceder o governador Beto Richa (PSDB) na chefia do Palácio Iguaçu, cargo também almejado pela vice-governadora Cida Borghetti (PP) e pelo ex-senador Osmar Dias (PDT), além de outros nomes sempre ventilados, como o de Roberto Requião (PMDB).

Para isso, o filho do apresentador de televisão Carlos Massa, o "Ratinho", tem procurado se aproximar dos eleitores e "afinar" o discurso, geralmente enaltecendo o fato de não ser de família tradicional no meio. Mais votado da AL em 2014 – recebeu apoio de 300 mil eleitores -, Ratinho concedeu entrevista à FOLHA pouco antes de reassumir sua cadeira, no início da última semana. Ainda sem gabinete, conversou com a reportagem na primeira vice-presidência da Casa, ocupada por Guto Silva (PSD), um dos 14 membros do influente bloco formado por PSC e PSD, o maior do Parlamento.

FOLHA - O senhor poderia se desincompatibilizar do cargo na Sedu até seis meses antes das eleições do ano que vem. Por que sair agora?

Na verdade, isso estava programado desde o primeiro semestre. Tinha planejado sair em abril, mas acabei protelando um pouco porque alguns projetos eu queria finalizar. Um deles é sobre resíduos sólidos. É o "Paraná sem lixões". Queremos acabar no prazo de dois ou três anos com os lixões a céu aberto. Finalizei esse projeto há poucos dias e é o momento em que a gente entendeu que era o certo voltar à Assembleia e criar uma nova agenda. Se eu fico na Secretaria, fico limitado à agenda do urbanismo, da mobilidade. E a preocupação que eu tenho é de conversar com todos os setores do Paraná, o agronegócio, o comercial, industrial, os representantes dos trabalhadores, enfim, rodar o Estado conversando com as pessoas e construindo um projeto de futuro junto.

Foi uma saída amigável?

Sim. Foi tudo bem tranquilo e sem nenhum trauma.

O fato de a vice-governadora Cida Borghetti ser também pré-candidata dá a ela certa vantagem na disputa interna?

Não sei dizer se dá vantagem. Ela por si só tem uma história no Paraná e é natural que seja candidata. Os partidos têm direito de ter candidaturas. E é importante inclusive para o próprio Estado ter o máximo possível, porque dá opções para as pessoas. Nós vamos apresentar o nosso projeto, que com certeza é o mais inovador e moderno. Vai ter a aprovação da população aquele que apresentar o melhor.

O senhor é próximo dela? Conversaram a respeito das eleições de 2018?

Tenho um bom relacionamento com ela, como tenho com praticamente todos os atores políticos do Paraná. Nunca fiz uma política destrutiva. Sempre fiz uma política conciliadora, mantendo bom relacionamento independentemente do partido ou da corrente ideológica da pessoa.


Mas a eleição esteve em pauta?

Muito informalmente, com cada um buscando seu espaço e tentando fazer com que os projetos possam se somar. Mas nada muito concreto. Também está distante ainda esse tipo de discussão.

E com o governador? Nos bastidores, o que se diz é que ele quer ser candidato ao Senado. Chegou a comentar sobre uma possível troca de apoio?

Vamos buscar o apoio de todas as pessoas que entendam que o nosso projeto é o melhor para o Paraná. A questão de alianças é muito mais centralizada em Brasília do que nos Estados. Todo mundo sabe que depende das candidaturas presidenciais para ver quais os partidos que vão se consolidar (…) Se o governador entender quer pode ser candidato a senador e entender que o nosso partido pode ser uma boa opção, vamos conversar.

O senhor afirmou em entrevista coletiva que não é de uma família tradicional. Seu pai é um apresentador de televisão conhecido, o que obviamente consta da sua biografia. O que isso traz de vantagem e desvantagem?


Meu pai sempre foi popular, mesmo nas regiões onde trabalhou anos atrás no rádio, na minha própria cidade, Jandaia [do Sul]. A parte boa é a possibilidade de entender de gente. Como eu vim desse meio, um berço mais humilde, conheço muito como as pessoas pensam, seu sofrimento, seus anseios (…) Quem conhece meu perfil de trabalho sabe que construí um grupo independente das castas políticas colocadas no Estado há muito tempo. Não julgo, cada um tem seu destino, mas não tenho essa tradição que outros têm. Isso me ajuda a ter independência em posições e me dá mais liberdade nos pensamentos e decisões.

Sobre a questão das alianças formadas nacionalmente, o senhor saiu do PSC, um partido que até então tinha lideranças como o Jair Bolsonaro, com posicionamentos controversos, por vezes preconceituosos, e foi para o PSD. O que motivou essa mudança?

Continuo tendo um carinho muito grande pelo PSC e um bom relacionamento, tanto nacionalmente como aqui. No Paraná, trabalhamos juntos e somos um bloco. A migração aconteceu de forma muito planejada também. O [Gilberto] Kassab e o [Eduardo] Sciarra me convidaram para ajudar no crescimento do PSD. E eu achei importante e estratégica essa mudança porque, numa candidatura majoritária, é necessário estar num partido que lhe dê certa musculatura. O PSC é um partido muito bom, que defende posições importantes para a sociedade, mas tinha limitações em termos de estrutura para uma candidatura majoritária.

O que o PSD tem discutido em relação a 2018?

O quadro ainda está muito instável. A gente não sabe o que vai acontecer nem com a reforma política. Mas o PSD tem bons nomes, entre eles o Henrique Meirelles, um quadro com incontestável capacidade, em especial na área econômica. Depende também do que vai acontecer com o PSDB, se vai ser o [Geraldo] Alckmin ou o [João] Dória, se o Alvaro [Dias, do Podemos] vai sair, se o Lula é ou não candidato... Tudo isso influencia na "amarração do xadrez".

Voltando ao Paraná, o senhor saiu do governo num momento muito crítico, com a delação da Operação Quadro Negro, que envolve o governador e outros nomes, inclusive da Assembleia. Como recebe essas notícias?

Quem está na vida pública tem o dever de trabalhar com transparência. Os órgãos públicos estão aí para fazer a fiscalização. Se tem qualquer tipo de denúncia ou desconfiança, tem de ser investigado, independentemente de quem for. Eu me dou relativamente bem com todo mundo, mas isso não me impede, não me dá o direito de ser contra qualquer investigação, desde que tenha fundamento e seja séria.

O senhor mesmo chegou a ser citado na Operação Pecúlio em 2013, como suposto beneficiário de propina oriunda de uma emenda apresentada ainda como deputado federal...

Mas não sou investigado. Qualquer pessoa pode te acusar. O que cabe é trazer provas. A gente lamenta que muitas delações acabam não sendo sérias. O delator faz isso para tentar de alguma maneira se safar da Justiça, construindo inverdades sobre outra pessoa.

Qual a sua avaliação da crise política nacional?

Tudo isso é uma limpeza. O que está acontecendo com o Brasil é um espetáculo. Antes também existia corrupção e não acontecia nada. Hoje você vê juiz sendo preso, senador, ministro e grandes empresários sendo presos. É um momento histórico, no sentido de que está ocorrendo uma varredura de quem usava os cargos públicos para cometer atos ilícitos.

E essa situação deve influenciar nas eleições do ano que vem?

Toda essa consciência política adquirida agora com a vivência do turbilhão que ocorre no Brasil vai fazer com que as pessoas tomem decisões mais acertadas, que vejam o voto com mais responsabilidade. É uma reflexão que o povo brasileiro deve fazer.