"O que se demonstrou hoje confirma aquilo que apresentamos na denúncia", afirmou o promotor e coordenador do Gaeco, Jorge Barreto da Costa
"O que se demonstrou hoje confirma aquilo que apresentamos na denúncia", afirmou o promotor e coordenador do Gaeco, Jorge Barreto da Costa | Foto: Marcos Zanutto/6-6-0216



Duas testemunhas arroladas pelo Ministério Público (MP), em audiência realizada ontem perante o juiz da 3ª Vara Criminal, Juliano Nanuncio, relativa ao processo criminal da terceira fase da Operação Publicano, confirmaram fatos que indicam que o auditor José Luiz Favoreto Pereira, ex-delegado da Receita Estadual de Londrina, teria ocultado bens e lavado dinheiro.
Deflagrada em outubro do ano passado, a Publicano 3 envolve 18 réus em 30 fatos criminosos, todos relacionados a crimes de lavagem de dinheiro de bens obtidos ilicitamente por Favoreto, segundo afirma o MP. Além de organização criminosa e três falsidades ideológicas, são narrados 26 fatos de lavagens de dinheiro, crimes para os quais ele teve ajuda dos outros réus, segundo o MP, como o irmão Antonio Pereira Júnior e a cunhada Leila Raimundo, o casal de empresários Sarquis e Marilúcia Sâmara, advogado André Luís Aquino Arruda e o também auditor Luiz Antonio de Souza, principal delator da Publicano.
Os bens e valores obtidos ilegalmente por meio da cobrança de propina de empresários que sonegavam impostos, esquema descrito com detalhes pelo MP nas denúncias relativas às outras quatro fases da Publicano (1, 2, 4 e 5), precisavam ser lavados por meio de simulações para entrar licitamente no patrimônio do auditor.
O primeiro a ser ouvido ontem foi o empresário Carlos Eduardo de Souza, delator da Operação Publicano, que ontem declarou que a PF&PJ, empresa de fachada de Favoreto, criada unicamente para permitir as fraudes e sonegações fiscais, segundo o MP, emitiu notas fiscais para uma de suas empresas sem que jamais houvesse qualquer negociação entre elas e que cheques de sua empresa foram dados à PF&PJ. Souza, que foi achacado por Luiz Antonio de Souza em 2011, e aderiu ao esquema de corrupção, não foi acusado justamente por ter sido um dos primeiros delatores.
Em seguida, um corretor de imóveis relatou que Favoreto e Souza, por meio de outra empresa de fachada operada pelos auditores (Masterinvest) compraram um barracão por R$ 1,1 milhão, mas registraram o imóvel com o valor de R$ 600 mil. O dono do imóvel, na fase de investigação, admitiu ao MP que, de fato, o valor constante da escritura é inferior ao valor do negócio. Residente em Campo Grande (MS), o ex-proprietário do imóvel será ouvido por carta precatória.
"O que se demonstrou hoje confirma aquilo que apresentamos na denúncia", afirmou o promotor Jorge Barreto da Costa, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que acompanhou as audiências ontem.
Para hoje, estão agendados os depoimentos de outras três testemunhas arroladas pelo MP. As audiências voltam na próxima segunda-feira (3/10), para ouvir eventuais testemunhas de acusação que tenham faltado justificadamente; terça, quarta e quinta-feira da semana que vem serão ouvidas 45 testemunhas de defesa que moram em Londrina. E na semana seguinte os réus, começando por Souza.
Os dois auditores, que respondem também por crimes sexuais, acompanharam a audiência de ontem. Souza está preso desde janeiro do ano passado, quando foi flagrado em um motel com uma adolescente, e, em razão da Publicano 5, na qual é acusado de voltar a praticar atos ilícitos, como extorsão, mesmo de dentro da cadeia, perdeu os benefícios da delação premiada e não pôde deixar a cadeia em 30 de junho, como previsto inicialmente no acordo. Favoreto responde em liberdade. Os réus negam as acusações.
Até agora, apenas a Publicano 1 já teve as audiências realizadas e está em vias de receber sentença de Nanuncio.