Ano que vem a Redentora fará 40 anos. Parece que foi ontem. As comemorações deveriam ser amanhã, mas não há mais entusiasmo para tanto. Uma espécie de recuo encabulado, quebrado de vez em quando por artigos de militares como Jarbas Passarinho e Raimundo Negrão, meu mais novo colega da Academia Paranaense de Letras. Tanto que dá para perceber, a cada momento, que novas vítimas daquele processo aparecem. Na onda dos processos de indenização até os que estavam na condição de fetos buscaram se habilitar aos prêmios. E se eram tantas as vítimas, cujo número parece até superior ao das forças militares e policiais que sustentavam o regime, por que perdemos? Nem na arena romana houve tantos mártires.
Por onde andávamos no 31 de Março? Lembro de um encontro no escritório do Luis Alberto Dalcanale, deputado que seria cassado, num edifício da Praça Osório em que tentávamos buscar saídas. Um dos mitos era um coronel se não me engano chamado Crisanto que a qualquer momento, como se fosse um herói de história em quadrinhos, reverteria o processo. E nessa fantasia embarcavam também os militares dominantes com as ações temerárias e heróicas do tal oficial que a qualquer momento aterrissaria em Ponta Grossa. Como quem espera Godot estamos até hoje aguardando o avião que o traria ao segundo planalto.
Apareceu também por lá um sargento, que era tido como companheiro, para ajudar e que na sequência surgiria, depois nos IPMs, como testemunha de acusação. Estava até fardado e ninguém desconfiou de nada.
O IMAGINÁRIO A ilusão entorpecia as pessoas que tentavam um paralelo impossível entre o que acontecia e a ação frustrada dos milicos, três anos antes, para impedir a posse de Jango. Da mesma forma que hoje há vítimas de 64 aos borbotões começaram naqueles dias a aparecer detentores de méritos no golpe: vigaristas notórios, dedos duros por amor à delação, caftens, quase desbancavam os direitistas da praça, que pelo menos tinham algum tempo de serviço naquelas artes. E alguns deles apareciam até armados e usando símbolos nacionais como se fossem uma espécie de milícia revolucionária, paramilitar e articuladíssima. Um deles estava, imaginem, dando cobertura e proteção à presença de Luis Carlos Prestes num debate agitadíssimo no salão nobre da Faculdade de Direito de Curitiba às vésperas da intervenção.
O ESTRESSE Com o tempo a fadiga do material, o estresse, se ocupará de tirar relevância quer da Redentora em si, quer das suas verdadeiras e supostas vítimas. Tal qual se deu com aquela celebração de 1935, a execrada Intentona, dentro e fora dos quartéis, nutrida certamente pela ''Guerra Fria'' e a paranóia anticomunista.
Se não fosse a novela ''Esperança'' quem lembraria da revolução de 1932, a constitucionalista? Até mesmo da revolução de 1930, que nos deu alguns anos de ditadura, há quem esqueça e poucos se lembram. Estamos hoje com um governo tido como de esquerda e capaz, todavia, quando isso for possível, de decalcar parte do nacionalismo dos milicos, especialmente sob Geisel. ''Faz parte!