A Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) analisará nos próximos dias, em segunda votação, um projeto de lei que possibilita ao poder público firmar parcerias com influenciadores digitais e poderá resultar no repasse de recursos para pessoas que divulgam conteúdos na internet. O projeto de autoria do deputado Ney Leprevost (União Brasil) cria a Semana do Influenciador Digital no Estado e já foi aprovado em primeira discussão, mas voltou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alep para análise de uma emenda, aprovada nesta terça (16).

O texto não deixa clara como será feita a seleção dos influenciadores, nem a fonte dos recursos ou os órgãos que estariam a autorizados a firmar as parcerias. O texto define apenas que a Semana do Estadual do Influenciador Digital será comemorada na última semana de novembro e que “o Poder Público poderá firmar parceria com influenciadores digitais com a finalidade de ampliar o alcance da difusão de informações relevantes sobre saúde, educação, segurança e demais temas de utilidade pública”.

A proposta gerou uma reação da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo no Paraná (Abrajet-PR), que enviou um ofício ao deputado. A entidade destacou que, ao ganharem dinheiro ou terem algum benefício para divulgar conteúdos na internet, os influenciadores têm sua imparcialidade comprometida. O ofício diz ainda que a entidade viu com surpresa a apresentação do projeto no momento em que o país discute a proliferação de notícias falsas nas redes sociais.

“Surgiram muitos influencers, que a gente não sabe o que são direito, principalmente na área de turismo. Tem muito médico, advogado ou chef de cozinha que viaja e faz vídeo. Nada contra, mas percebemos que muitas pessoas só vão a eventos quando são pagas, e não informam que foram pagas”, diz o presidente da Abrajet-PR, Jean Féder. “Se a pessoa foi convidada e foi paga, ela está lá para falar bem.”

Para Féder, essa situação pode gerar distorções. Ele cita como exemplo a cobertura de um destino turístico que ofereça algum tipo de risco ou tenha lugares pouco seguros ao redor: no caso de um influenciador pago, a população não terá a informação completa, avalia o jornalista. “É possível relatar o que foi visto sem ser depreciativo com o destino. Com os influenciadores é tudo legal, como em uma propaganda de margarina.”

Outro problema, para o presidente da Abrajet-PR, é o critério para a seleção dos influenciadores beneficiados. “Quem vai escolher, qual será o critério? O anunciante escolhe em qual veículo vai anunciar, mas o projeto não tem critério. Pode ser um amigo ou conhecido”, diz. “Quem vai pagar é o poder público, o pobre que não viaja vai pagar para influencer digital viajar.” O ofício enviado ao gabinete de Ney Leprevost diz que o projeto coloca em risco “a qualidade da informação que o paranaense recebe”.

De acordo com Leprevost, o objetivo é “a valorização das atividades desempenhadas por influenciadores digitais, a conscientização sobre o bom uso das redes sociais e internet bem como a educação contra a disseminação de fake news”. Na justificativa, o parlamentar afirma que “os influenciadores digitais têm grande poder de alcance de difusão de informações, sendo ótimos aliados quando informações importantes, como de saúde pública, precisam ser amplamente difundidas na sociedade”.

Na sessão desta terça (16) da CCJ foi aprovada a emenda ao projeto, apresentada pelo deputado Requião Filho (PT), que obriga o autor das mensagens (caso receba recursos públicos) a destacar o valor pago pela publicação e o órgão que fez o pagamento. Ainda não há data definida para a proposta ser novamente votada pelo plenário.

"PARCERIA GRATUITA"

Ney Leprevost negou que o poder público terá alguma despesa. “Estamos propondo uma parceria gratuita. Propomos parceiras para divulgação de campanhas de saúde, vacinação, na área de segurança, contra a pedofilia e outras”, disse o deputado. “Achei pertinente a emenda do deputado Requião Filho, mas, se o governo quiser repasses hoje, ele faz”.

Segundo o deputado, a ideia é combater as notícias falsas. “A ideia é que incentivar justamente os influenciadores a não divulgarem notícias falsas. Não é para prejudicar jornalistas, até porque muitos influenciadores são jornalistas. Acho que eles (os críticos) não leram o projeto”.