O ex-vice-governador do DF Tadeu Filippelli chega à superintendência da Polícia Federal após ser preso na Operação Panatenaico
O ex-vice-governador do DF Tadeu Filippelli chega à superintendência da Polícia Federal após ser preso na Operação Panatenaico | Foto: José Cruz/Agência Brasil



Brasília - A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira (23) Tadeu Filippelli (PMDB), assessor especial da Presidência da República, e os ex-governadores do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT). Os mandados foram expedidos pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília.

As prisões fazem parte da Operação Panatenaico, desencadeada pela PF e pela Procuradoria da República no Distrito Federal para apurar depoimentos prestados em acordo de delação premiada de executivos da Andrade Gutierrez.

Os delatores reconheceram prática de cartel e pagamento de propina em torno da obra de construção do estádio Mané Garrincha, erguido para a Copa do Mundo de 2014 com um superfaturamento, segundo os investigadores, de cerca de R$ 900 milhões.

Foram expedidos mandados de prisão provisória contra dez pessoas, incluindo Claudio Monteiro, ex-homem forte do governo Agnelo, e Maruska Lima de Souza Holanda, ex-presidente da Terracap (Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal). A Terracap é uma empresa pública controlada pelo governo do DF. Em abril, o Ministério Público do DF afirmou que a obra do estádio gerou um rombo de R$ 1,3 bilhão nas contas da Terracap.

A operação também cumpriu mandado de prisão contra pessoas apontadas como "operadores" dos políticos investigados: Afrânio Roberto de Souza Filho, que atuaria para Filippelli, Sérgio Lucio Andrade (suposto "operador" de Arruda) e Jorge Luiz Salomão (de Agnelo).


José Roberto Arruda (PR) foi o primeiro a chegar na Polícia Federal do DF, por volta das 8h51. Filippelli foi vice-governador na gestão de Agnelo e é presidente do diretório do PMDB no DF. Procurada na manhã desta terça, a assessoria de Filippelli não atendeu às chamadas da reportagem. A defesa do ex-governador Agnelo Queiroz afirmou que as buscas na casa do político estão em curso e que ele se manifestará somente após ter acesso aos autos.

Arruda foi governador do DF de 2007 a 2010, quando caiu após o escândalo chamado "Caixa de Pandora", que envolveu um esquema de desvio de recursos da administração local. Na época, Arruda, então no DEM, chegou a ficar dois meses preso. Naquele mesmo ano, Agnelo foi eleito governador pelo PT, com Filippelli no cargo de vice.

DESVIO DE RECURSOS
Segundo a PF, o objetivo da ação é investigar uma suposta organização criminosa que fraudou e desviou recursos do Mané Garrincha. "Orçada em cerca de R$ 600 milhões, as obras no estádio, que é presença marcante na paisagem da cidade, custaram ao fim, em 2014, R$ 1,575 bilhão. O superfaturamento, portanto, pode ter chegado a quase R$ 900 milhões", diz a Polícia Federal.

As informações estão no acordo de delação premiada que a Andrade Gutierrez fez com investigadores da Lava Jato. A reportagem apurou que os dados da delação relativos à obra do estádio foram enviados à Justiça Federal por ordem do ministro Teori Zavascki, morto em acidente aéreo em janeiro e na época relator dos casos da Operação Lava Jato no STF.

São cinco os delatores da Andrade Gutierrez que levaram à deflagração da Operação Panatenaico. "Os detalhes da longa trama criminosa foram dados perante a Polícia Federal pelos diretores da construtora Andrade Gutierrez, Flávio Gomes Machado Filho, Clóvis Renato Numa Peixoto Primo, Rogério Nora de Sá Rodrigo Leite Vieira e Carlos José de Souza", escreveu o juiz Vallisney de Souza Oliveira na decisão que autorizou a operação policial.

Os delatores afirmaram que a propina era paga em espécie "até mesmo a beneficiários diretos". Alem de pedir a prisão temporária dos envolvidos, o Ministério Público solicitou a indisponibilidade dos bens dos investigados até o limite de R$ 60 milhões, além do bloqueio dos bens ativos, contas e investimentos da Via Engenharia até o limite de R$ 450 milhões.

O juiz autorizou o bloqueio de R$ 6 milhões em bens de Fillippelli, de R$ 10 milhões de Arruda e de outros R$ 10 milhões de Agnelo Queiroz.

TEMER
Filippelli integra um grupo de cinco assessores especiais escolhidos por Temer, no início de seu governo, para despachar em uma sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, a poucos metros do gabinete presidencial. Além dele, eram conselheiros próximos do presidente Rodrigo Rocha Loures, José Yunes, Sandro Mabel e Gastão Toledo.
Desses cinco assessores, quatro foram citados em investigações de corrupção. Rocha Loures foi flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviada pela JBS, depois que havia deixado o Planalto para assumir o mandato de deputado.
Yunes pediu demissão em dezembro, quando um ex-executivo da Odebrecht disse que ele recebeu em seu escritório dinheiro pedido pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Mabel foi acusado por outro delator de ter pedido dinheiro para aprovar uma emenda a uma medida provisória em 2004.
Destes, restam no gabinete apenas Mabel, que auxilia Temer na interlocução com parlamentares e empresários, e Gastão Toledo, que é conselheiro jurídico do presidente.