Brasília - A Polícia Federal realiza operação nesta sexta-feira (20) para investigar o uso irregular de um sistema secreto de monitoramento da Abin (Agência Brasileira de Investigação) para monitorar a geolocalização de celulares.

Segundo a PF, a suspeita é que servidores da agência teriam usado o software de monitoramento para invadir "reiteradas vezes" a rede de telefonia e acessar os dados de localização dos alvos.

Um processo administrativo disciplinar chegou a ser aberto internamente para apurar a conduta desses servidores. Segundo a PF, dois dos investigados teriam "utilizado o conhecimento sobre o uso indevido do sistema como meio de coerção indireta para evitar a demissão".

São cumpridos 25 mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e no Distrito Federal. Segundo o site G1, no Paraná os mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Curitiba e Maringá, mas até o fechamento desta matéria a PF não havia informado a identidade dos alvos.

Os dois servidores suspeitos de coerção foram presos. A reportagem apurou que foram detidos Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky.

Além das buscas e prisões, o STF (Supremo Tribunal Federal) ainda determinou o afastamento de Paulo Maurício Fortunato Pinto, atual número 3 da Abin.

Durante o governo Bolsonaro, ele atuou como diretor de Operações de Inteligência da agência —área responsável por adquirir e manusear o software de monitoramento dos celulares.

Pinto foi mantido como secretário de Planejamento e Gestão, o terceiro cargo mais alto na estrutura da Abin, mesmo com a posse do atual chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa.

A reportagem ainda não conseguiu contato com as defesas dos alvos da operação.

A Abin adquiriu um software de monitoramento de localização de celulares em 2018, no fim da gestão de Michel Temer, por R$ 5,7 milhões e sem licitação. A ferramenta chama-se FirstMile e permite rastrear os dados de GPS de qualquer pessoa pelos dados transferidos de seu celular para torres de telecomunicação.

Esse sistema secreto foi usado por servidores da Abin nos três primeiros anos do governo Jair Bolsonaro (PL) sem nenhum protocolo oficial ou autorização judicial para monitoramento dos alvos da agência, como revelou o jornal O Globo.

O software permite realizar consultas de até 10 mil celulares a cada 12 meses. Era possível, ainda, criar alertas em tempo real, para informar quando um dos alvos se movia para outros locais.

COMO É O PROGRAMA?

- A ferramenta FirstMile permitia monitorar os passos de até 10 mil pessoas a cada 12 meses. Para iniciar o rastreio, bastava digitar o número de celular da pessoa.

- O programa cria um histórico de deslocamentos e permite a criação de "alertas em tempo real" da movimentação de alvos em diferentes endereços.

- O software foi comprado por R$ 5,7 milhões da israelense Cognyte, com dispensa de licitação, no final do governo Michel Temer (MDB). A ferramenta foi usada pelo governo Bolsonaro até meados de 2021.

PF apreende US$ 170 mil em dinheiro com executivo afastado da Abin

Brasília - A Polícia Federal encontrou US$ 171 mil em espécie durante busca e apreensão na casa do secretário de planejamento de gestão da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Maurício Fortunato. Ele é o atual 03 da agência.

Ele é um dos alvos da investigação sobre uso irregular de um sistema secreto de monitoramento de geolocalização de celulares durante o governo de Jair Bolsonaro.

Fortunato Pinto foi afastado das funções pelo ministro Alexandre de Moraes. Ele atuou durante o governo de Bolsonaro como diretor de Operações de Inteligência da agência —área responsável por adquirir e manusear o software cujo uso é investigado.

O dirigente afastado foi nomeado como secretário de Planejamento e Gestão, o terceiro cargo mais alto na estrutura da Abin, pelo atual chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa, quando ainda não era investigado.

De acordo com o currículo divulgado no site da Abin, Fortunado Pinto é formado em Ciências Econômicas e dentro da área de inteligência tem experiência em contrainteligência, contraterrorismo e análise do crime Organizado transnacional.

Além de ocupar o Departamento de Operações de Inteligência na gestão Bolsonaro, ele já foi diretor do Departamento de Contrainteligência e diretor interino do Departamento de Inteligência Estratégica.

Ele também foi representante da Abin no Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e no Conad (Conselho Nacional Antidrogas). Ainda segundo os dados da agência, ele atuou como coordenador da Abin em eventos como Rio+20, Copa do Mundo (2014) e Olimpíada e Paralimpíada Rio. (F.S. e C.F.)