Joesley Batista e Ricardo Saud deixam a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo com destino a Brasília: "Era tudo uma brincadeira", alegam delatores
Joesley Batista e Ricardo Saud deixam a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo com destino a Brasília: "Era tudo uma brincadeira", alegam delatores | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil



Brasília - Nos depoimentos que prestaram na última quinta-feira (7) à PGR (Procuradoria-Geral da República), os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud afirmaram que as referências que fizeram a ministros do STF, em gravação do dia 17 de março, eram "bravata" e "conversa de bêbados".
Os delatores disseram ainda não ter conhecimento de nenhuma irregularidade que poderia comprometer algum ministro do STF.

Na conversa gravada, entregue há duas semanas pela própria defesa de Joesley e Saud, são citados três ministros do STF (Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes) de forma genérica, sem atribuição de crime.

Os dois delatores foram instados pela PGR, no dia 7, a explicar as referências. Em um ponto da conversa de março, ambos disseram que gravar o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo seria uma forma de chegar ao Supremo. Joesley disse que se trataria de "elucubração, porque Cardozo foi ministro da Justiça muito tempo'". Mas que ele não tinha como saber se um fato levaria a outro.

Certa vez, disse o empresário, ele indagou a então presidente Dilma Rousseff quem "fazia a relação com o STF, se seria o 'Zé', mas ela não respondeu".

"O áudio com José Eduardo Cardozo não tem nenhum crime, motivo pelo qual o depoente não trouxe o arquivo respectivo [à PGR]. A conversa com José Cardozo envolveu a Lava Jato, mas não tinha nada de errado", disse Joesley.

Em um ponto da primeira gravação, Saud diz que Cardozo teria "cinco ministros do Supremo na mão". A referência, repetiu Joesley, foi mera "elucubração de dois bêbados em casa e sozinhos". A menção "foi da imaginação de Saud, não foi dita por Cardozo", disse Joesley.

"Tudo que fala de 'Zé' é bravata também, imaginação por ele ter sido ministro da Justiça e em tese poder fazer algo. [...] Não sabe de nenhum fato que desabone a conduta de nenhum ministro do STF", afirmou o empresário.

Joesley também foi instado a explicar as referências ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Na conversa gravada, Saud disse que Janot teria um plano de sair da PGR e se integrar a um escritório de advocacia onde iria também trabalhar o ex-procurador Marcello Miller.

"A menção ao PGR [procurador] Janot também foi brincadeira total, pois nunca soube de nenhuma ligação de Miller com Janot", disse Joesley. Conforme o empresário, da mesma forma Miller "nunca disse que tinha linha direta nem mostrou mensagem trocada com o PGR Janot; Miller nunca vendeu facilidade por ser do MPF".

'TUDO BRINCADEIRA'
Sobre esse trecho, Joesley afirmou que "era tudo uma brincadeira". Em seu depoimento no dia 7, Ricardo Saud pediu para fazer constar a frase: "Tem a dizer que foi uma conversa de bêbados e pedir desculpas pelo que falou na gravação, sendo tudo que falou sobre o PGR [Janot] e ministros do STF mera bravata, pois não sabe de nada que possa comprometê-los".

Ricardo Saud disse que a menção, na conversa gravada, sobre "organizar o STF" era uma espécie de divisão de tarefas, "Joesley pegaria o [presidente Michel] Temer e o depoente o [ex-ministro] Cardozo, a fim de fazer prova, gravando-os, mas não tinha nenhuma suspeita em relação ao STF".

O delator afirmou que Cardozo teria mencionado, sobre os ministros do Supremo, "que era amigo de todos e que alguns passaram pelo seu gabinete antes da nomeação", mas que "não tem nada de concreto sobre ministros do STF". "[Saud] falou isso por 'cachaça', querendo mostrar serviço', mas que [na verdade] foi tudo nem elucubração, foi mentira total".

Sobre as referências que faz ao suposto futuro emprego de Janot, Saud também disse que "é mentira, estava bêbado, pois Marcello Miller nunca falou sobre esse tipo de assunto".

TRANSFERÊNCIA
Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud foram transferidos nessa segunda-feira (11) de São Paulo para Brasília. Ambos chegaram à Superintendência da PF sem passar pelo IML (Instituto Médico Legal) primeiro, e foram recebidos com protestos e rojões. Os dois se entregaram à polícia no domingo (10) à tarde. Pela manhã, o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin havia decretado a prisão dos dois, solicitada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na sexta (8). O escritório da J&F, empresa controlada pelos irmãos Batista, também foi alvo de operação da Polícia Federal nessa segunda.

No Rio, a PF também fez buscas na casa do ex-procurador Marcello Miller. Os agentes chegaram às 6h e deixaram o local por volta das 7h40, com dois malotes de documentos. Miller está envolvido na polêmica que levou à suspensão do acordo de delação da JBS e à prisão de Joesley e Saud.

LENIÊNCIA
O juiz da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, Vallisney Oliveira, suspendeu a homologação do acordo de leniência da J&F nessa segunda-feira (11). A decisão impede que pessoas ligadas à empresa possam aderir ao acordo e se tornar lenientes, beneficiando-se dos efeitos penais que acarretaria. O pagamento da multa de mais de R$ 10 bilhões e os benefícios acordados com a empresa na esfera cível estão mantidos, pois não são competência da 10ª vara.