A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher vai debater a igualdade entre homens e mulheres na política, com as entidades representativas da sociedade londrinense. Esse foi o principal encaminhamento do painel "A participação das mulheres nos espaços de poder" que ocorreu na semana passada, sob a coordenação da presidente da Comissão, vereadora Lenir de Assis (PT), dentro da programação da 22ª Semana Municipal da Mulher, encerrada no último sábado.

O painel contou com a participação de lideranças femininas do poder público e da sociedade, oportunidade na qual as vereadoras Sandra Graça (SDD) e Elza Correia (PMDB), também integrantes da Comissão, apresentaram dados reais sobre a participação feminina nas instituições e na política londrinense. É justamente em razão da sub-representação da mulher na esfera local que Lenir de Assis defende o debate sobre o assunto nos mais diversos segmentos como partidos políticos, sindicatos, entidades empresariais, igrejas, entre outros. "Nós somos mais da metade da população. Somos muitas vezes a maioria na base desses segmentos sociais. E, normalmente, estamos em minoria nas instâncias de decisão", comentou a vereadora.

A professora de sociologia da UEL, Silvana Mariano, convidada especialmente para falar sobre o tema durante o painel, compartilha da mesma opinião da vereadora: "A participação do gênero feminino vai decrescendo das bases dos movimentos políticos e sociais até chegar ao topo das decisões políticas", disse. Ela salientou que os partidos políticos não incentivam a participação da mulher, baseados em uma cultura patriarcal e machista, na qual a participação do homem é tida como natural e a da mulher é, muitas vezes, vista com desconfiança. Diante dessa cultura, segundo a professora, a mulher na política estaria cercada de vários atributos negativos como falta de competência, capacidade de mando, força; dificuldade para conciliar vida familiar e política; masculinização.

Silvana Mariano disse ainda que o Brasil ocupa uma posição vexatória no cenário internacional quando se fala em participação da mulher no parlamento. Apesar de ter eleito sua primeira mulher presidente, o país ocupa 124ª posição, entre 144 países pesquisados sobre o número de deputadas em suas câmaras – dados da União Interparlamentar, com sede na Suíça. Silvana Mariano lembra que ficamos atrás do Iraque e do Afeganistão, países de tradição islâmica, tidos como de cultura machista, onde as mulheres ocupam, respectivamente, 25,2% e 27,7% das cadeiras do parlamento. Para se ter uma ideia, no atual ritmo e sem uma reforma política, o Brasil vai demorar 150 anos para ter igualdade de gênero no Congresso.

Para a professora, a política no Brasil está na contramão do que acontece na sociedade, onde a participação da mulher em alguns casos supera a dos homens, como nas universidades, onde elas respondem por 57% das matrículas e os homens, 43%. "É preciso transformar esse capital social em capital político. É uma questão de ordem democrática, justiça de gênero e distribuição de poder", disse ela, ressaltando que é preciso conciliar a igualdade de gêneros e compromisso com a construção de uma sociedade sem injustiças, desigualdades e opressão. "Não se trata da mulher no poder pela mulher no poder, mas sim de fortalecer a democracia, o exercício pleno da cidadania, a construção de uma sociedade mais justa e igual", ponderou a vereadora Lenir de Assis durante o painel.

A participação da mulher no parlamento local alcança, hoje, um percentual melhor do que o nacional – dos 19 vereadores em Londrina, três são mulheres (15,78%), justamente as vereadoras que integram a Comissão. Mas, mesmo assim, bastante inferior a qualquer perspectiva de igualdade de gêneros, já que as mulheres são mais da metade da população londrinense (52%).

Entretanto, segundo dados apresentados pela vereadora Elza Correia (PMDB), em 78 anos de existência, 364 homens exerceram mandatos de vereadores e apenas 10 mulheres, de vereadoras. Nesse mesmo período, 46 homens, e nenhuma mulher, foram presidentes do Legislativo. Elza lembrou que duas vereadoras – ela própria e Márcia Lopes (2001 a 2004) – foram as únicas candidatas a prefeita na história de Londrina. "Enfrentamos muitos obstáculos, preconceitos mesmo. A todo momento tínhamos que provar nossa capacidade e liderança", declarou a vereadora. Resultado: em oitenta nos de emancipação política, Londrina nunca teve uma prefeita.

Também de olho na presença da mulher à frente de instituições e entidades representativas da comunidade londrinense, a vereadora Sandra Graça (SDD) trouxe novos números para o debate. Por esse critério, há também uma sub-representação feminina nos espaços de poder da sociedade local, que talvez ajude a explicar a situação nas áreas estatais, como Executivo e o Legislativo.

Das seis entidades de trabalhadores pesquisadas, duas já tiveram presidentes mulher: Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Refeições Coletiva (Sinterc) e a APP-Sindicato Londrina. Nas entidades patronais, o quadro é pior: a Associação Comercial Industrial de Londrina (ACIL), o Sindicato da Construção Civil (Sinduscon) e a Socieade Rural são entidades que nunca foram presididas por uma mulher. Das duas instituições pesquisadas, a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Londrina, nunca teve uma presidente mulher, e a Universidade Estadual de Londrina (UEL) teve duas reitoras, inclusive a atual, Nádina Moreno. "Isso depois que a universidade passou a escolher seu comando por voto direto", observou Sandra Graça.